Cai o número de analfabetos no RN

O número de analfabetos com quinze anos ou mais no Rio Grande do Norte caiu nos últimos cinco anos, segundo estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).De acordo com os dados da análise, feita com base nos levantamentos da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad),a taxa de analfabetismo no estado passou de 22,3%, em 2004, para 18,1%, em 2009, registrando variação média de 18,6%, queda superior à média nacional (15,3%) e à média da região Nordeste (16,6%).

O total de jovens e adultos que não sabem ler e escrever no estado caiu de 482.407, em 2004, para 436.909, em 2009. Embora tenham sido comemorados pela Secretaria Estadual de Educação e Cultura (SEEC), os resultados obtidos não foram suficientes para garantir ao RN uma boa posição em nível nacional. Atualmente, o estado aparece como o sexto colocado no ranking dos locais com o maior percentual de analfabetos, ficando atrás apenas de Alagoas, Piauí, Paraíba, Maranhão e Ceará. Um dos motivos apontados pela SEEC como fundamental na redução do número de jovens e adultos analfabetos no estado foi o Brasil Alfabetizado. Iniciado em 2004, o programa de ensino é uma iniciativa do Governo Federal em parceria com as administrações estaduais e trabalha para que a população de baixa renda tenha maior acesso à educação.De acordo com a supervisora regional do programa, Euvânia Passos, o RN está prestes a entrar na oitava etapa do Brasil Alfabetizado, que tem início no ano de 2011 e pretende alfabetizar 55 mil pessoas em 150 municípios.

Os recursos necessários para a viabilização das aulas vem da União, que é responsável pela compra de materiais e formação de educadores, e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que custeia o salário dos professores e dos coordenadores.O Brasil Alfabetizado funciona como uma espécie de mutirão educacional, conta a supervisora, no qual o estado recruta os chamados “alfabetizadores” e estes, por sua vez, vão atrás de alunos interessados em aprender. “Não precisa ser professor para ensinar no programa, o que é exigido é que se tenha ensino médio completo e esteja disposto a participar de cursos de formação”, explica Euvânia. “As turmas na zona urbana têm de 7 a 25 alunos e as da zona rual, de 14 a 25”, comentou a supervisora, que relatou ainda que na maioria da vezes, o número de alunos que concluem o curso é bem inferior ao dos que iniciaram. A tal fenômeno, ela atribui a rotina atribulada dos estudantes, que normalmente dedicam o período da noite aos estudos, e por vezes, acabam perdendo o entusiasmo devido ao cansaço de um dia de trabalho.

“Nosso maior desafio é aumentar o aproveitamento destas turmas, além de fazer com que os alunos sigam buscando o aprendizado no ensino fundamental. Atualmente, dos 25 que iniciam uma turma, pouco mais de 10 se formam e destes, cinco procuram continuar estudando”, disse.

Pesquisadora do IDE critica otimismo

Na avaliação da diretora do Instituto de Desenvolvimento da Educação (Ide), Eleica Bezerra, os dados apontados pela pesquisa do Ipea não podem ser considerados totalmente satisfatórios. Segundo ela, a análise feita pelo órgão é superficial e não dá margem ao estudo da real situação dos “novos alfabetizados”. “A SEEC deve se preocupar em fazer um diagnóstico dos alfabetizados e analfabetos no estado. Descobrir se lidamos aqui com uma maioria de analfabetos funcionais, alfabetizados rudimentares, regulares ou plenos. Apenas dados gerais não são capazes de dar uma real noção acerca da realidade da educação do RN”, disse.

De acordo com Eleica, a solução definitiva para o problema do analfabetismo tanto aqui, quanto no Brasil, é o aumento dos investimentos em educação de base.

Maria Fernandes Campos, de 74 anos, figura entre as estatísticas positivas e é uma das pessoas que aprendeu a ler e escrever com a ajuda do Brasil Alfabetizado. Dona Nati, como gosta de ser chamada, frequentou as aulas durante 8 meses e agora diz, orgulhosa. “Não pude estudar quando jovem pois levei uma vida de muito trabalho. Como já estou aposentada, resolvi recuperar o tempo perdido”, disse.
 

Jornal Tribuna do Norte