Léo Burguês (PSDB) é o novo presidente da Câmara de BH

Por Ana Karenina Berutti, do jornal Hoje em Dia
O vereador Léo Burguês (PSDB) é o novo presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, eleito com 31 votos dos 40 parlamentares presentes na reunião solene deste domingo (12) . Os seis vereadores do PT e Divino Pereira (PMN) votaram contra a chapa que saiu vitoriosa. Maria Lúcia Scarpelli (PC do B) e Fred Costa (PHS) se abstiveram.

Leo Burgues - Lucas Prates - Hoje em Dia

A maioria dos votos só foi obtida nos últimos minutos antes de se iniciar o processo de votação. Depois de muitas reuniões desde o início da manhã, o outro candidato, vereador Henrique Braga (PSDB), desistiu de registrar sua candidatura acusando o Executivo de interferir no processo de escolha do novo presidente do Legislativo. “Desisto para não constranger os meus apoiadores. Eles já estão sendo pressionados demais”, afirmou Braga.

Segundo seus apoiadores, Henrique Braga tinha, no início da manhã, 20 votos, o suficiente para ser eleito, já que, no caso de um empate, ele, por ser mais velho que Léo Burguês, venceria as eleições. Braga disse que, durante a manhã, os vereadores foram desistindo de votar nele. “O secretário de Assuntos Institucionais da Prefeitura (Marcelo Abi-Saber) veio para a Câmara as 8 horas da manhã e foi chamando os vereadores para conversar, um por um. Não sei o teor da conversa, só sei que os colegas saíram da sala me dizendo que lamentavam muito, mas não poderiam mais votar em mim”, contou Braga. “O argumento do Executivo foi maior que o meu.

Apesar de eu ser tucano e ele (Léo Burguês) também, o que teve o bico maior engoliu os outros vereadores”, desabafou. Apesar de uma vitória folgada, a eleição de Léo Burguês foi cercada de conflitos internos na Câmara e protestos de alguns vereadores que acusaram o governo do Estado e a prefeitura de Belo Horizonte de interferirem no processo, pressionando os vereadores para votarem no candidato indicado pelos executivos estadual e municipal. O ex-governador e senador eleito, Aécio Neves (PSDB) foi o primeiro a ligar para Léo Burguês para parabenizá-lo pela vitória.

Sobre a denúncia de manobras do Executivo para eleger Léo Burguês, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) garante que a prefeitura nunca teve preferência por algum candidato. “Torcemos para que bons nomes se viabilizassem. A Câmara tem 41 vereadores e 18 partidos, e sempre respeitamos a tendência da maioria.

O que fizemos foi buscar um consenso para evitar a disputa dura, pois esta sempre provoca fraturas e prejudica o bom andamento dos trabalhos na sequência da eleição”, afirmou o prefeito.

Alguns parlamentares manifestaram, em Plenário, sua indignação diante da eleição de Léo Burguês e da desistência de Henrique Braga de concorrer na última hora. “O prefeito Marcio Lacerda caiu no meu conceito porque passou com um trator por cima dos vereadores. O Henrique não desistiu porque é bonzinho e não queria constranger seus apoiadores. Ele desistiu porque foi ameaçado de ser expulso de seu partido”, denunciou Chambarelle (PRB).

O vereador explicou que se um vereador é expulso de seu partido durante sua gestão, ele perde o mandato de vereador. Segundo Neusinha Santos, líder do PT na Câmara, o Legislativo municipal está de joelhos acatando o que o Centro Administrativo do Estado e a Prefeitura da capital determinaram. “É o pior presente que Belo Horizonte pode receber no dia de seu aniversário”, protestou.

O vice-líder da bancada petista, vereador João Bosco, admitiu que já contava com essa interferência externa no processo das eleições para a Presidência da Câmara. “Só não contávamos com a mudança de lado dos colegas Ronaldo Gontijo (PPS) e Alexandre Gomes (PSB), muito menos que eles iriam compor a chapa adversária fazendo parte de uma mesa diretora como essa”, reagiu.

O vereador Divino Pereira chamou os parlamentares que mudaram seu voto na última hora e ajudaram a eleger Léo Burguês de “frouxos” e “medrosos”. “É desprezível como os vereadores podem se submeter desse jeito em troca de carguinhos. Isso, para mim, é postura de gente frouxa e covarde”, atacou se referindo às denúncias de que estariam sendo oferecidos cargos nos governos estadual e municipal para aqueles que votassem em Léo Burguês.

Fred Costa justificou sua abstenção alegando que não se sentia representado pela mesa diretora eleita. Já a vereadora Maria Lúcia Scarpelli disse que se absteve em respeito à resolução do seu partido de não se aliar ao PSDB. “Não é uma omissão, estou apenas acompanhando a decisão do PC do B nacional, pois entendi que, caso não fizesse isso, seria convidada a me retirar do partido”, explicou. Elias Murad (PSDB) foi o único vereador a não comparecer por estar internado no Hospital Felício Rocho.

Indicação do tucano abala aliança

A indicação por parte da Prefeitura do nome do tucano Léo Burguês para a presidência da Câmara abalou a aliança que é a base de sustentação do prefeito Márcio Lacerda. O PT tinha apresentado, anteriormente, o nome do vereador Silvinho Rezende para disputar o cargo, mas, em função de um acordo prévio com o prefeito, teria aceitado apoiar um candidato de consenso da maioria dos parlamentares.

De acordo com os petistas, Lacerda teria dito que o Executivo não queria um candidato do PT nem um do PSDB, além de abrir mão de indicar alguém do próprio partido, o PSB.
O resultado final, com um tucano como novo presidente da Casa, significa, no mínimo, que o prefeito quebrou o acordo feito anteriormente com o PT.

A novidade já causa incômodo entre os parlamentares petistas que marcaram, para segunda-feira (13), depois dos trabalhos na Câmara, uma reunião da bancada para discutir os rumos e o posicionamento do partido de agora em diante.

Em jogo, quer queiram, quer não, estão as eleições para a Prefeitura de Belo Horizonte. “O partido está pisando em ovos para não antecipar de forma drástica as discussões sobre as eleições de 2012, embora o Executivo já tenha feito isso”, afirmou João Bosco. “O PT não vai cair nessa armadilha e discutir eleições agora. Isso seria um desserviço para a sociedade”, disse Neusinha Santos.

Alguns parlamentares defendem a tese de que a escolha de Léo Burguês com a participação dos governos estadual e municipal tem vistas a novos acordos políticos e partidários para as eleições de 2012.

PT e PSDB não devem reeditar aliança em 2012

A proximidade entre PT e PSDB, construída na gestão de Lacerda, também está em risco. “Dificilmente vamos reeditar essa aliança, dificilmente PT e PSDB estarão do mesmo lado em 2012”, garantiu João Bosco.

João Bosco nega que o partido passará a fazer a oposição a Lacerda na Câmara, mas admite que o PT precisa repensar seu lugar na Casa. “Não quer dizer que vamos fazer oposição apenas por fazer. Temos responsabilidade com esse governo até 31 de dezembro de 2012”, disse Neusinha.

O PT também não deve aceitar a liderança de governo, como é o caso de Paulo Lamac atualmente. “Se não tivermos alguém do partido defendendo os projetos do Executivo, poderemos adotar uma postura mais autônoma em relação às discussões no Legislativo”, disse João Bosco.”

Fonte: Ana Karenina Berutti, do jornal Hoje em Dia, de 13-12