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Uma feminista de nome Heleieth

Heleieth Saffioti formou e influenciou gerações de feministas. A morte de Heleieth não apaga o brilho de sua trajetória. O trabalho acadêmico de Saffioti não só contribuiu para o fortalecimento do pensamento feminista no Brasil, como dialogou com outros vários pensadores. Sua figura "minon" e aparentemente frágil contrastava com sua força intelectual e argumentativa.

Por Carmen Hein de Campos*

Foi pioneira nas discussões sobre a condição feminina no Brasil e argumentou com intelectuais marxistas sobre a invisibilidade e não valorização do trabalho doméstico, sendo uma das primeiras feministas, na década de 70, a problematizar as relações entre capitalismo e divisão sexual do trabalho.

Seu livro "A mulher na sociedade de classes: mito e realidade" (1969) refletiu o pensamento
da Heleieth feminista-marxista e logo se tornaria uma referência nesse debate. A temática da divisão sexual do trabalho doméstico permanece ainda hoje, na agenda feminista como uma questão merecedora de atenção e necessidade de transformação.

Heleieth também enfrentou temas relacionados à subordinação, patriarcado, relações de gênero e violência contra mulheres. Entendendo a violência contra mulheres como uma forma de manutenção da subordinação feminina e do patriarcado, Saffioti desafiou a naturalização dessa violência, dos abusos sexuais e de sua justificação pelo sistema de justiça. A naturalização da violência contra mulheres, em que pese os avanços legais obtidos, ainda é uma questão pendente em nossa cultura.

Como socióloga e militante feminista ela participou dos momentos e debates políticos mais importantes de nossa vida democrática. Defensora intransigente dos direitos humanos das mulheres contribuiu enormemente para a mudança das relações de gênero e para o
reconhecimento do direito à igualdade e de viver livre de violência.

A força de seu trabalho intelectual pode ser medida pelas suas inúmeras publicações e citações (acadêmicas e não-acadêmicas) e seu contínuo repensar e recriar. Heleieth nunca
parou no tempo. Sua ausência deixa saudade, mas é acalentador saber que será sempre possível um diálogo com ela através de seus muitos textos, artigos e livros escritos com tanta paixão e convicção.

Por essas e por inúmeras outras razões Heleieth Saffioti é merecedora de todas as justas homenagens de feministas e não feministas que continuam a lutar por relações mais fraternas e igualitárias entre homens e mulheres.

* Carmen Hein de Campos é coordenadora nacional do Cladem/Brasil – Comitê
Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher.