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Antonio Neto (CGTB): salário mínimo maior combate a pobreza

A valorização do salário mínimo foi o principal instrumento que desencadeou o processo de ascensão social no Brasil. Um estudo do Ipea mostra que as maiores evoluções salariais atingiram os trabalhadores com menos qualificação profissional e que tradicionalmente tiveram ganhos menores.

Por Antonio Neto*, na Folha de S.Paulo

Para os agricultores, o ganho foi de 21,15%, após 2002. Para os trabalhadores domésticos, foi de 15,36%. A renda média do trabalho no Brasil aumentou 7,59% nesse período. Mais de 18 milhões de brasileiros que recebem o piso na Previdência são beneficiados com o reajuste.

Isso influi na economia das pequenas cidades. Em mais de 61% dos municípios, o montante pago aos aposentados é maior do que a parcela destinada pelo governo por conta do Fundo de Participação dos Municípios. Em outras palavras, o dinheiro dos que se aposentam faz girar a economia local.

É claro que os brasileiros que recebem nessa faixa ou até mais não deixarão a ampliação de sua renda na poupança. Muito menos aplicarão na Bolsa de Valores. Esses recursos serão injetados no consumo. É mais comida na mesa, roupa e qualidade de vida. Com reflexo imediato no comércio, na indústria e na geração de empregos. É mais arrecadação para o Estado.

O aumento justo do mínimo cria o círculo virtuoso que move a economia do país. Embora com os avanços significativos, o salário está muito aquém do ideal. Ele representa apenas 42% do valor de 1940, quando foi criado por Getulio Vargas, e está muito longe do valor de referência criado pelo Dieese (R$ 2.227,53).

No governo Lula, as centrais sindicais assinaram um acordo de recuperação do mínimo. Pela regra, o aumento será embasado na inflação do ano corrente e na variação do PIB de dois anos antes. O princípio da política está explícito na palavra recuperação. A variação do PIB é usada como parâmetro para o aumento, não como teto. Por isso, não queremos quebrar o acordo, pelo contrário.

Durante a campanha, a presidente Dilma prometeu dar continuidade à política de recuperação. O salário mínimo para 2011 foi estipulado em R$ 540, o que representa uma variação nominal de 5,88%. Segundo o Dieese, mantendo-se esse valor, o novo mínimo terá uma perda de 0,55% em termos reais.

As centrais apoiam a determinação da presidente de priorizar a erradicação da pobreza. Por esse motivo, defendem o aumento do mínimo para R$ 580, fator estratégico para essa finalidade.

Estamos confiantes de que o governo Dilma será sensível a essa preocupação. Consideramos fundamental e urgente a reabertura das negociações, conforme compromisso estabelecido com o governo no ano passado.

Apontaremos as alternativas orçamentárias que sustentem o aumento, mas sabemos que a decisão final de conceder o reajuste é sobretudo política, e não econômica.

* Antonio Neto, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e do diretório nacional do PMDB, é presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB)