Sem categoria

Manifestantes voltam ao centro do Cairo para cobrar democracia

Milhares de manifestantes retornaram à Praça Tahrir, no centro da capital do Egito, Cairo, neste domingo (13), para se unir a lideranças que continuam acampadas no local, a quem o Exército está tentando remover. O clima chegou a ficar tenso, com empurra-empurra entre populares e militares.

manifestantes e exército

A Praça Tahrir foi o principal foco dos protestos populares iniciados no dia 25 de janeiro e que resultaram na sexta-feira (11), depois de 18 dias de grandiosos protestos, na queda do ditador Hosni Mubarak. As pessoas que ficaram acampadas na praça dizem que só sairão quando o Comando Militar, que assumiu o poder no lugar de Mubarak, implementar reformas democráticas. O Exército tenta desocupá-la e o tráfico local foi parcialmente liberado.

Desconfiança

Na manhã deste domingo, centenas de policiais – uma das forças de repressão mais cruéis e temidas pelos egípcios durante o governo de Mubarak – entraram na Praça Tahrir, o que aumentou a tensão no local.

Eles cantavam: "é um novo Egito, o povo e a polícia são um só", mas a multidão não gostou do refrão e gritou de volta: "vão embora, vão embora".

Mubarak foi defenestrado, mas transferiu o poder aos militares, que prometem uma transição democrática, mas ainda não convenceram muitos líderes da oposição de suas intenções. Eles também mantiveram o mesmo gabinete que tinha sido formado pelo ditador logo após o início dos protestos e parecem fortemente aliados e influenciados pelos EUA.

Tutela

O Comando Militar que assumiu o poder no Egito anunciou neste domingo que dissolveu o Parlamento e suspendeu a Constituição do país. Em um comunicado feito na TV estatal egípcia, a junta militar disse que ficará no poder por seis meses ou até a realização de eleições.

No pronunciamento, os militares anunciaram a formação de um comitê para elaborar uma nova Constituição, que depois seria submetida a um referendo popular. Não adiantaram como será composto o comitê e qual será a participação dos civis na entidade. Transparece, contudo, a intenção de tutelar e restringir o processo de mudança para um regime democrático. Parte da oposição quer a convocação de uma Assembleia Constituinte,

Manobras do imperialismo

É perceptível o movimento das potências imperialistas lideradas pelos Estados Unidos para controlar a transição. Segundo o correspondente da BBC em Washington, Tom Burridge, o conselheiro militar da Casa Branca, Mike Mullen e outros militares de alta patente estão a caminho da região para debater sobre o futuro do país. O presidente Barak Obama reiterou o apoio financeiro e militar ao país, usado por Washington como moeda de troca para a sujeição do Egito à estratégia do império e de Israel no Oriente Médio.

O primeiro-ministro de Israel, o extremista de direita Binyamin Netanyahu, elogiou a garantia anunciada pelo comando militar de que irá respeitar os tratados internacionais. Israel e Egito assinaram um acordo de paz em 1979.

Outro representante do imperialismo é o ex-primeiro-ministro britânico e enviado especial do Quarteto (EUA, União Europeia, ONU e Rússia) ao Oriente Médio, Tony Blair, que se comportou como um pau mandado do ex-presidente Bush nas guerras contra o Iraque e o Afeganistão.

Em entrevista à BBC, ele descreveu o ex-presidente Mubarak como uma "força para a estabilidade na região", e manifestou temor com a Irmandade Muçulmana, afirmando que a “comunidade internacional” (leia-se EUA e União Europeia) não deve ser "complacente" com o movimento. "(A Irmandade Muçulmana) não é o tipo de partido político que você ou eu reconheceríamos", disse Blair ao jornalista da BBC Andrew Marr.

O clamor popular que convulsionou o Egito, transformou a Tunísia e alastra-se agora para outros países árabes (como o Iêmen e a Argélia) coloca em xeque a ordem imposta pelos Estados Unidos e por Israel ao Oriente Médio, mas o imperialismo manobra para não perder o controle da situação e, por enquanto, parece contar com a cumplicidade da cúpula militar que sucedeu Mubarak.

Da redação, com agências