Morre madre Maurina, torturada no regime militar

Por: Juliana Coissi, 
De Ribeirão Preto. 

A madre Maurina Borges da Silveira, torturada no Brasil durante a ditadura militar, morreu no último sábado em Araraquara, aos 87 anos, por falência múltipla dos órgãos.
A religiosa foi presa em Ribeirão Preto em outubro de 1969 acusada de envolvimento com militantes das FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional).

A tese da polícia na época era a de que a madre permitiu que membros da FALN se reunissem no Lar Santana, instituição onde vivia.

"Alguns de nós éramos do movimento de evangelização, mas usávamos o porão para guardar material e imprimir o nosso jornal, "O Berro'", disse o advogado Vanderley Caixe, 66. De acordo com Caixe, a irmã não sabia das reuniões. Quando alguns membros foram presos, conta, ela abriu o porão, viu o material e mandou queimar tudo.

No prédio onde atualmente funciona a Delegacia Seccional, a madre foi torturada com choque elétrico por pelo menos duas horas. A tortura da religiosa provocou uma mobilização na Igreja Católica na época.

O então arcebispo dom Felício da Cunha levou o caso à cúpula da instituição e excomungou dois delegados, Renato Ribeiro Soares e Miguel Lamano. O caso em Ribeirão inspirou religiosos como dom Paulo Evaristo Arns a se engajar na luta social.

A irmã ficou um ano detida em São Paulo até ser exilada no México. Ela voltou ao Brasil dez anos depois.

Mineira de Perdizes, madre Maurina atuou no México, em Santa Catarina e em São Paulo. Desde o mês de novembro, estava sob cuidado em Araraquara.
"Ela era tranquila. Sobre isso [tortura], dizia que já perdoou a todos", disse a irmã Maria Eunice Vilela.