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Comércio no Mercosul cresceu nove vezes em duas décadas

Ao completar 20 anos, no último sábado (26), o Mercosul continua a ter debates acalorados em torno das questões econômicas, mesmo com o comércio tendo crescido cerca de 860%, ou nove vezes, em duas décadas, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

 Nascido no momento em que a América do Sul experimentava o avanço das ideias neoliberais, o bloco mudou de cara. Deixou de ser meramente comercial e cresceu em escala, mas ainda é alvo de intensas discussões.

Surgiram problemas como protecionismo excessivo, desacordos acerca da união aduaneira e das tarifas comuns. Porém, para alguns especialistas, esses são sinais normais dentro de qualquer bloco econômico. Um dos que defende essa posição é Fernando Sarti, professor de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

"São normais os contenciosos comerciais que apareceram, sobretudo em momentos de crise econômica em determinado país. Então, mesmo olhando sob esse ponto de vista, mostra que não foi sempre esse céu de brigadeiro. Mas eu diria que, do ponto de vista comercial, é um processo exitoso". Para o professor, 20 anos para formação e consolidação de um bloco é um período curto. Ele cita o Tratado de Roma, marco fundador da União Europeia, que já tem mais de 50 anos e ainda sofre com períodos de crise nas negociações.

Para Sarti, o Mercosul proporcionou um salto importante na credibilidade e na estrutura produtiva da região.

Antonio Simões, subsecretário-geral da América do Sul do Itamaraty, acredita que em 20 anos o Mercosul alcançou um crescimento muito expressivo. Ele cita a corrente comercial entre os países, que aumentou drasticamente, alcançando US$ 40 bilhões. "Para que se tenha uma ideia, o comércio do Brasil com os Estados Unidos chega a US$ 46 bilhões", compara.

Para a professora de Relações Internacionais Miriam Gomes Saraiva, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), uma das maiores lacunas deixadas pelo Mercosul nos seus 20 anos foi a não adoção do modelo de economia em escala, ou seja, a divisão do processo industrial em que cada parte da produção pudesse ser feita em um país. Segundo ela, para o comércio do Brasil isso não seria de tanta importância, mas havia certa expectativa para os países menos industrializados.

Posição brasileira

A parte que coube ao Brasil nos acordos comerciais e políticos teve destaque e representou grande peso nas contas comerciais do país. De 1991 a 2011 as exportações brasileiras para os países do bloco cresceram cerca de dez vezes, embora o debate sobre o protagonismo do Brasil na condução e no papel do bloco siga em discussão.

Samuel Pinheiro Guimarães, alto representante-geral do Mercosul, disse em entrevista à Rede Brasil Atual que os investimentos dos outros países no Brasil aumentou, assim como aumentou também o de outros países com o Brasil. Ele afirma que o Brasil não está à frente de nada no Mercosul. O país, segundo Guimarães, obteve protagonismo por razões óbvias, como o tamanho de território e a atual posição da economia brasileira.

"Tudo isso tem montado uma rede de interesses econômicos muito grande entre os países do Mercosul. Os esforços na construção da infraestrutura, de estrada, de integração energética, como na questão política com o Parlasul, resultam nos entendimentos de todos os países", pondera o embaixador.

Fernando Sarti segue a mesma linha de entendimento de Guimarães. Para o professor, a posição do Brasil no cenário internacional cria um sentimento de credibilidade importante a qualquer tipo de negociação, seja entre os sócios do Mercosul ou com outros blocos econômicos.

Ele lembra, também, que o Mercosul não impede que o Brasil mantenha uma agenda bilateral com outros países. "O Brasil como a mais importante economia dentro do bloco só acrescentou, tanto para os países membros, como para o próprio Brasil".

Focem

Outra iniciativa do Mercosul criada em junho de 2005 foi o Fundo para Convergência Estrutural do Mercosul (Focem). O Fundo tem como objetivo financiar projetos para melhorar a infraestrutura das economias menores e regiões menos desenvolvidas.

Para Luiz Augusto Faria, professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Mercosul teve êxito nos mecanismos que possibilitaram minimizar diferenças e assimetrias entre os quatro países. Ele explica que a consolidação de programas que beneficiam Paraguai e Uruguai, principalmente, será decisivo se o Mercosul quiser chegar efetivamente ao mercado comum.

Entre os projetos do Focem, está o programa de "fortalecimento de comunidades locais com projetos de economia social". Aplicado no Uruguai, oferece cursos de capacitação de trabalhadores, concessão de crédito e fomento à empregabilidade, com o objetivo de diminuir as taxas de desemprego das regiões mais carentes do país.

"Neste período (de problemas bilaterais), a economia mundial teve altos e baixos, mas conseguimos um avanço muito positivo. Um passo muito simbólico foi a criação do Focem, que ajudou muito os países menores. É importante para mostrar que não é só um ganho comercial, que tem uma ajuda às economias mais frágeis", observa o ex-chanceler Celso Amorim.

Fonte: Rede Brasil Atual