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Deputado comunista avalia consequências do terremoto no Japão

Hidekatsu Yoshii, deputado do Partido Comunista Japonês, afirma que a arrogância do grupo privado Tepco, responsável pela gestão da central de Fukushima, agravou as consequências da falta de preparo em relação à catástrofe natural que atingiu a costa leste do Japão no início de março.

ODiario.info: Neste momento, qual é o balanço dos efeitos causados pelo terremoto e pelo tsunami?
Hidekatsu Yoshii: Em termos geográficos, 20% do território nacional sofreram o impacto da catástrofe. Perto de 520 mil pessoas foram evacuadas. O número de mortos e de desaparecidos está sendo avaliado, neste momento, em mais de 11.500.

ODiario.info: O governo japonês reagiu com rapidez e de forma apropriada?
HY: A mobilização realizada pelas autoridades não esteve à altura das expectativas das populações. Nem a Tepco, a empresa que gere a central de Fukushima, nem o governo tinham imaginado um cenário de catástrofe com esta dimensão. Não estavam efetivamente preparados para uma situação como a que se viu. A Tepco declarou que suas centrais eram 100% seguras. A multinacional tem vivido sobre o mito de uma segurança absoluta. Esta arrogância agravou as condições de falta de preparo frente à catástrofe.

ODiario.info: Como o senhor avalia a gravidade desta catástrofe nuclear? É apropriada uma comparação com Chernobyl?
HY: Após este terremoto de magnitude 9 graus na escala Richter, todas as centrais nucleares pararam de funcionar. Os reatores pararam automaticamente. E logo após começaram os problemas, sobretudo na central de Fukushima, Daiichi, que ainda hoje segue numa situação complicada. Quando se identificou o terremoto, apenas os reatores 1, 2 e 3 estavam em atividade. Os reatores 4, 5 e 6 estavam em manutenção. Mas embora tenham parado de funcionar, as barras de combustível nuclear continuaram a difundir calor. Quando isso acontece e nenhuma providência é tomada, a temperatura sobe e surge o risco de fusão do núcleo do reator. Não pode prescindir do sistema de arrefecimento. O terremoto danificou a bomba que alimenta a central com água para o arrefecimento. O circuito de emergência foi inutilizado pelo tsunami. O motor de emergência parou, interrompendo o sistema secundário de injeção da água para o arrefecimento. Em consequência disso, as barras de combustível ficaram imersas e se sobreaqueceram, provocando um aumento da pressão. A tecnologia utilizada em Fukushima é muito diferente da utilizada em Chernobyl. Mas deixar nessas condições as barras de combustível em fusão no núcleo do reator pode gerar consequências incalculáveis.

ODiario.info:
O terremoto e o tsunami podem, só por si, explicar esta catástrofe nuclear? Haverá responsabilidade da entidade responsável pela instalação?
HY: Do ponto de vista da geografia e da geologia, temos um histórico de terremotos. Assim, pode-se questionar se é ou não adequado construir centrais nucleares no Japão. A Tepco, tal como o governo, acredita convictamente na superioridade da tecnologia utilizada. Em conjunto, sustentaram o mito da segurança nuclear do Japão. O Partido Comunista Japonês (PCJ), pelo contrário, sempre alertou para a ameaça de terremotos e para as suas possíveis consequências em termos de segurança nuclear. Confrontados com estes alertas, a Tepco e o governo afirmaram a sua confiança nos sistemas de emergência existentes. Mas sob o impacto do tsunami todas as comportas não resistiram. Este incidente foi conduzido por um conjunto de falhas em cadeia.

ODiario.info:
A Tepco tem uma longa história de ocultação de acidentes nucleares. A multinacional colocou os lucros à frente da segurança?
HY: A Tepco reagiu muito tardiamente ao acidente nuclear de 1999 num reator de Tokai-Mura, possivelmente para ocultar alguma coisa. Essa cultura de segredos em torno da fileira eletronuclear piorou após o 11 de Setembro de 2001, em nome da “luta contra o terrorismo”. A Tepco demorou a fornecer informação. Quando a pressão aumentou no interior do reator – quando se torna necessário libertar vapor radioativo –, num primeiro momento nem fizeram nem disseram nada, temendo que viesse a ser detectado um nível anormal de radioatividade. Isso porque deixaram que o vapor acumulasse na central até ao limite, o que provocou a explosão. Desde o início a Tepco tem procurado esconder a ausência de funcionamento dos sistemas de arrefecimento. Segundo problema: a companhia hesitou inicialmente em injetar água do mar para arrefecer o combustível, com receio de torná-lo inutilizável. Todas as guinadas e silêncios da Tepco são explicáveis por sua obsessão pelo lucro. Em cada acidente, cada percalço, mentiu à população. Mas desta vez não tem escapatória. A responsabilidade desta empresa está diretamente posta em causa.

ODiario.info:
Quais poderão ser as consequências para a população e para o ambiente?
HY: As comunidades humanas vivem frente a um triplo choque: terremoto, tsunami, catástrofe nuclear. Nós temos a experiência de Hiroshima e Nagasaki. Conhecemos o dramático impacto das radiações sobre os seres humanos, sobre a natureza, sobre a agricultura. Por todas estas razões, o PCJ propõe um abandono progressivo do nuclear e um investimento maciço em energias renováveis.

ODiario.info:
Como o Japão poderá se recuperar de um cataclismo? De que tipo de solidariedade internacional necessita?
HY: É necessário ajudar centenas de milhares de pessoas, que perderam tudo, a reconstruir a sua vida. A comunidade internacional já deu provas de uma grande solidariedade, com o envio de equipamentos de socorro e equipes médicas. Estamos muito gratos. Agora, será necessário reconstruir a economia japonesa sobre novas bases, com novas políticas energéticas, estabelecendo o controle sobre as multinacionais que fazem tábua rasa de tudo em nome do lucro máximo.

Fonte: ODiario.info