Pobreza na Bahia é resultado de décadas de políticas equivocadas
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome divulgou dados nesta quarta-feira (4/5), apontando a Bahia como o estado com a maior concentração de pessoas em situação de extrema pobreza. São 2,4 milhões de baianos com rendimento mensal individual inferior a R$ 70, apenas 3 milhões a menos que as pessoas nestas condições em todo o Sudeste. A situação resulta de um modelo de desenvolvimento equivocado, adotado por governantes nacionais e estaduais.
Publicado 05/05/2011 21:45 | Editado 04/03/2020 16:19
A afirmação é do subsecretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), Elias Dourado. Para ele, o grande número de pessoas na pobreza extrema na Bahia resulta de um modelo de desenvolvimento, se é que se pode chamar assim, que foi adotado para o território baiano nas últimas décadas. Isto não resulta de uma ação pontual ou momentânea, é um processo que se acumula ao longo de muitos anos. “A Bahia é o estado brasileiro com a maior população rural, mas a agricultura familiar nunca foi tratada como uma potencialidade, como algo que pudesse gerar uma atividade econômica, gerar renda, gerar qualidade de vida. Então, este é um contexto que se acumula ao longo de muitos anos e estes números refletem isso”, ressalta.
“Quando nós comparamos o IDH do início da década de 1990 e o de 2000, percebemos que a pobreza e a desigualdade aumentaram na grande maioria dos municípios. Então, este modelo de desenvolvimento resultou nestes indicadores de pobreza extrema. A Bahia é o estado com o maior número de famílias beneficiárias do Bolsa Família e tem números preocupantes também no que diz respeito à educação e a renda das famílias. Isto resulta de uma forma de desenvolver muito concentrada em alguns setores da economia e regiões do estado, o que gerou esta pobreza extrema no estado”, explica Dourado.
Para o gestor da Setre, este é o resultado de uma política aplicada no Brasil, que também é muito pobre e desigual, mas também fruto de decisões dos dirigentes da Bahia. “Foi um modelo de desenvolvimento que nunca focou o desenvolvimento econômico para esta população. Na Bahia, as elites dirigentes que governavam fizeram opções que levaram a esta situação. Tem diversas decisões que levaram a isso, entre as quais podemos destacar a concentração do desenvolvimento em algumas regiões, a visão da Bahia como estado da exportação, com a exportação da produção, do cacau, etc, e não o adensamento das cadeias que pudessem promover o desenvolvimento do nosso estado. Esta foi uma opção das elites dirigentes ao longo de 30, 40, 50 anos, que gerou a Bahia com tão grandes desigualdades, sendo a sexta economia brasileira, mas com números muitos tristes no ponto de vista da realidade social das famílias e com grande número de pessoas incluídas na pobreza extrema”, lamentou.
Elias Dourado ressalta, no entanto, que a situação começou a mudar a partir de decisões políticas do governo do presidente Lula. A ideia de mudança com foco nas políticas públicas de universalização da educação, da saúde, da geração de emprego e renda vem dando certo. “Quando se foi desenvolvendo políticas com recursos alocados para estas áreas, foi se encontrando um novo caminho, ligado também á valorização do salário mínimo, Bolsa Família, micro-crédito etc, se começou a perceber que estes recursos chegavam a diversos locais, começaram a levar desenvolvimento econômico mais espraiado, menos concentrado. Isto foi aplicado na Bahia pelo governo Wagner. Então quando se investe na saúde, na educação, na inclusão social, se gera atividade econômica e mais oportunidade de trabalho e renda para as pessoas. E estamos avançando nas políticas sociais para melhor o desenvolvimento do nosso estado, só que leva tempo para reverter esta situação”, conclui.
De Salvador,
Eliane Costa