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Eventos em vários estados lembram 13 de maio como dia de luta

Considerado como Dia da Abolição da Escravatura, o 13 de Maio não é data comemorativa para o movimento negro no país. Nesta sexta-feira (13), as mobilizações e atos públicos que marcam a data em todo o Brasil destacam o racismo existente no País. "O dia de 13 foi visto como dia da libertação dos escravos, mas os negros desmentiram, mostrando que continuam precarizados”, alerta Douglas Belchior, da União de Núcleos de Educação Popular para Negros/as e Classe Trabalhadora (Uneafro).

Eventos em vários estados lembram 13 de maio como dia de luta - Seppir

Desemprego, falta de acesso à moradia e aos serviços de saúde, educação de baixa qualidade, preconceito, discriminação racial, violência. Esses são apenas alguns problemas ainda enfrentados por negros e negras no Brasil. Os avanços – principalmente nas políticas públicas voltadas para a população negra no país – são consideras “muito tímidos”.

Neste ano, o "Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo”, em que se transformou o Dia da Abolição da Escravatura, chama atenção para a violência contra jovens negros. Dados do "Mapa da Violência 2011 – Os jovens do Brasil” revelam que 12.749 negros/as foram assassinados/as no ano de 2008. De acordo com o relatório, entre 2002 e 2008, as taxas de homicídios de jovens brancos caíram 23,3% enquanto que as de jovens negros cresceram 13,2%.

O genocídio contra a população negra é o tema das ações realizadas em São Paulo. Com o grito de "Parem de matar os nossos filhos”, organizações e movimentos do povo negro entregaram, nesta quinta-feira (12), na Assembleia Legislativa de São Paulo, um dossiê sobre a violência contra população negra e solicitaram a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o genocídio negro e a ação da polícia militar de São Paulo.

Hoje (13), às 18h, haverá um ato político seguido de cortejo cultural pelas ruas do Centro. Além do rechaço à violência contra a população negra, os manifestantes reivindicam: reparações históricas para o povo negro brasileiro; manutenção das cotas nas universidades e ampliação para todas as instituições de ensino superior públicas; manutenção do decreto que regula a titulação dos territórios quilombolas; tipificação dos casos de violência policial; entre outras.

Denúncia contra o racismo

Para o deputado Edson Santos (PT-RJ), ex-ministro da Seppir no governo Lula, o dia 13 de maio simboliza não apenas a abolição da escravidão no Brasil, mas principalmente a luta pela construção da igualdade racial no país. Ele confirma que, apesar dos avanços verificados nos últimos anos, o país ainda está longe da igualdade racial completa.

O deputado Evandro Milhomen (PCdoB), que participa das comemorações da data em seu estado de origem, o Amapá, reforça as palavras do colega parlamentar, lembrando que No governo do Presidente Lula o movimento negro experimentou grandes avanços, com a adoção de varias políticas públicas de redução da desigualdade racial. Mas reconhece que os movimentos negros têm razão em suas denúncias, de que o descaso do Estado, ao longo de décadas no século passado, deixou um enorme passivo que ainda precisa ser resgatado.

Em Alagoas, a data será marcada por palestra do professor Charles Moore, na sessão pública que acontece na Assembléia Legislativa. A palestra sobre Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo, como parte do "Ìgbà" – 2º Seminário Afro-Alagoano: "A África que incomoda", é uma parceria do movimento negro alagoano, do Projeto Raízes de Áfricas e diversas instituições. Autor de cinquenta e cinco artigos publicados sobre questões internacionais, Charles Moore lança, nesse dia, o livro "A África que Incomoda".

Em Pernambuco, o Movimento Negro Unificado de Pernambuco, em parceria com o Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Etnicorracial (Cepir), realizam atividades do 13 de Maio com o "Não é Dia de Negro: Pérolas Negras do Saber". O evento será marcado por homenagens a personalidades negras de Pernambuco, danças, teatro, musicalidade negra e indígena.

Pra celebrar a data no Rio de Janeiro, o Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam) promove a 2ª Jornada Brasileirafro. A iniciativa tem como objetivo evidenciar a contribuição da cultura africana na formação da identidade brasileira.

No Rio Grande do Sul, o Museu Treze de Maio lança o portal Clubes Sociais Negros no Brasil. A iniciativa conta com parceria do Movimento de Clubes Sociais Negros do Brasil e da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). O objetivo é congregar, no site, todas as associações congêneres do país, possibilitando intercâmbios e parcerias.

No Recôncavo Baiano

E na Bahia, a festa do 13 de maio é realizada todos os anos, desde 1889, no município de Santo Amaro da Purificação, o Bembé do Mercado. Após 123 anos da primeira festa em comemoração à abolição da escravatura, o Bembé do Mercado constitui-se, hoje, em movimento de afirmação dos descendentes de africanos escravizados. Incorporada ao calendário cultural do País, a iniciativa tem forte cunho religioso e evidencia o vigor das manifestações culturais de matriz africana.

De acordo com Rejane Pieratti, representante do terreiro Ilê Oju Onirê, que coordena o grande encontro, as manifestações dos municípios de Santo Amaro, Acupi e Itapema (todos pertencentes ao Recôncavo Baiano) vão além da reprodução de costumes ancestrais. “ Hoje, o Bembé agrega manifestações populares de todo o País, especialmente das áreas rurais do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, evocando a luta contra a escravidão e consolidando valores importantes da cultura afro-brasileira”.

Cultura, arte e literatura serão os temas trabalhados na segunda edição da jornada, para afirmar a importância que têm na constituição da identidade brasileira. Haverá palestras, debates, filmes, roda de capoeira, exposição de artesanato afro, degustação de comidas típicas e um salão especializado em penteados afro.

De Brasília
Com agências