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Adiós, Muchachos: líder sandinista escreve memórias da revolução

A Revolução Sandinista na Nicarágua, em 1979, foi a última de inspiração socialista antes da queda do Muro de Berlim, dez anos depois, e terminou sob a pressão dos grupos contrarrevolucionários financiados pelos Estados Unidos. O escritor nicaraguense Sergio Ramírez, de 70 anos, reconhece erros. Mas, em entrevista à Folha de S.Paulo, reafirma a validade dos seus ideais em Adiós Muchachos — A História da Revolução Sandinista e seus Protagonistas.

Lançado em 1999, o livro entremeia o relato da luta guerrilheira que derrubou o ditador Anastasio Somoza com episódios da década em que os revolucionários exerceram o poder no país. Daniel Ortega, outro líder do movimento, foi presidente do país entre 1985 e 1990. Teve Ramírez como seu vice. Em 2006, voltou à Presidência por meio de uma mudança constitucional acordada com partidos da direita.

Folha de S.Paulo: O senhor é um revolucionário dos anos 1960 e 1970 que não lamenta o que fez. Por quê?
Sergio Ramírez: Posso me definir como um idealista antiquado. Tenho raízes na década de 1960, que considero a melhor do século 20. O fato de a revolução que mudou minha vida ter fracassado e resultado no governo Ortega não me tira os ideais.

Folha de S.Paulo: Como é a relação dos jovens com a política na Nicarágua?
SR: Eles parecem imersos em desencanto e apatia. O que se antevê nas pesquisas às eleições deste ano é uma grande abstenção em novembro. Numa pesquisa recente, só metade das pessoas aceitaria receber a cédula; dessas, 25% a depositaram em branco. Levando em conta que 70% da população da Nicarágua tem menos de 30 anos…

Folha de S.Paulo: Para o senhor, a literatura é uma continuação da política?
SR: Vivemos em um continente cheio de anormalidades e de anacronismos. Por isso é um terreno fértil para a literatura, que depende muito do assombro. O romancista não pode escapar dessas percepções, mesmo que só queira contar uma história de amor.

Folha de S.Paulo: Há escritores na América Latina e na Central em particular que merecem maior atenção?
SR: Há novos novos escritores notáveis, como Juan Gabriel Vásquez, da Colômbia, Alberto Fuguet, do Chile, Jorge Volpi, do México, e Santiago Roncagliolo, do Peru. Na América Central, há Carlos Cortés, da Costa Rica, Erick Aguirre, da Nicarágua, ou Claudia Hernández, de El Salvador. É a experimentação da linguagem que cria a nova literatura.

Folha de S.Paulo: Outros livros seus serão publicados no Brasil?
SR: Não por ora, mas espero que meus livros continuem sendo publicados pela Record. Sobretudo meus romances, começando por Margarita Está Linda la Mar (Margarita, está lindo o mar), que ganhou o Prêmio Internacional Alfaguara e tem uma edição em Portugal.