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Zapatero reconhece derrota: a direita avançou na Espanha

“O PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) perdeu claramente as eleições. Os espanhóis manifestaram seu mal-estar e, por isso, este castigo nas urnas era esperado.” Foi assim, sem meias palavras, que o primeiro-ministro da Espanha, José Luiz Rodríguez Zapatero, reconheceu o avanço da direita nas eleições deste domingo (22).

O pleito ocorreu sob a pressão de milhares de manifestantes "indignados", sobretudo jovens, concentrados há uma semana nas principais praças do país para pedir uma regeneração política e uma mudança social. Na Espanha, o desemprego atinge 21% da população ativa (40 % entre os jovens de até 25 anos), e a recessão do país já dura mais de três anos.

A resposta veio nas urnas. Com 96,04% dos votos apurados, o PSOE de Zapatero marchava para a derrota nos 8.115 pleitos municipais e nos governos semiautônomos de 13 das 18 regiões espanholas. O direitista Partido Popular (PP), de Mariano Rajoy, tinha 37,59% dos votos, enquanto os socialistas estavam com 27,82%.

A diferença, de 2 milhões de votos, aponta para o melhor desempenho eleitoral da história do PP. A votação da direita superou até mesmo os resultados de 1995 que antecederam o primeiro triunfo dos conservadores, nas gerais de 1996, e culminaram na chegada de José Maria Aznar à chefia do governo de Espanha.

Ainda neste domingo, a IU (Esquerda Unida) ficou com 6,35% dos votos, enquanto os nacionalistas moderados catalães da CiU (Convergência e União) receberam 3,56%. Já a coalizão separatista Bildu se transforma na segunda força política do País Basco, com 1,45%. Outras formações minoritárias, entre as quais está a UPyD (União, Progresso e Democracia), criada há quatro anos pela ex-eurodeputada socialista Rosa Díez, obteve 1,93% dos votos.

Ecos da crise

Para compreender a dimensão do tsunami eleitoral que afetou o partido do punho e da rosa nas eleições, há que anotar os resultados dos socialistas na Andaluzia: à perda de uma praça-forte como Sevilha, soma-se o fato de, em Córdoba, o PSOE passar a ser quarta força política e de o PP ter sido o mais votado. Mesmo no denominado “cinturão vermelho” de Madrid, houve derrocada: Getafe, Alcórcon e Pinto, tradicionalmente à esquerda, elegeram prefeitos conservadores.

Frente aos resultados, Zapatero, em declaração à imprensa, culpou a crise econômica pela derrota do PSOE nas urnas, mas disse que não renunciará e concluirá seu mandato. Ele também convocou uma reunião de emergência na sede do PSOE em Madri, ainda para a noite deste domingo. "É evidente que o resultado dessas eleições está diretamente ligado à crise econômica e seus efeitos sobre a sociedade espanhola", disse Elena Valenciano, secretária do PSOE.

Mas não se trata apenas dos efeitos da crise. A ascensão da direita indica um inequívoco repúdio ao receituário conservador adotado pelo governo espanhol para enfrentar a crise econômica que devasta o país. “Não conseguimos explicar a dimensão da crise nem o motivo das medidas duras que tomamos”, admitiu Zapatero.

Não por acaso, a Espanha foi palco, também hoje, de manifestações de milhares de jovens que foram às ruas e praças de Madri, Barcelona, Sevilha e Valência. Em protesto contra o governo e a crise, os manifestantes pediam ao eleitorado que não comparecesse às urnas. A participação nas eleições, contudo, parece ter se mantido nos mesmos níveis das eleições de 2008 — ao redor de 40% do eleitorado.

Os resultados

Em Barcelona, após 32 anos de hegemonia dos socialistas, o PSOE perdeu a Prefeitura de Barcelona para a ultradireita — os nacionalistas de Convergência e União —, num resultado tão inesperado como revelador. Os conservadores não governavam a metrópole catalã desde o final da ditadura franquista em 1975.

O PP liderava por pequena margem em Sevilha. À noite, os socialistas já davam como perdida a região de Castilla La Mancha, onde o PP conseguiu eleger 28 deputados estaduais, ante 21 do PSOE. Nessa região, governada desde sempre pelos socialistas, a candidata conservadora e secretária-geral do PP, Maria Dolores de Cospedal, conseguiu a maioria absoluta.

Dados parciais indicam que o PSOE perdeu o governo em todas as 13 regiões em disputa, o que fortalecerá o PP para as eleições gerais de 2012. Mesmo em Castilla y León, região de Zapatero, o PP teria eleito 55 deputados, enquanto o PSOE elegeu somente 29.

Da Redação, com agências