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Operários de empresa brasileira fazem greve de fome na Venezuela

Dez operários da empreiteira brasileira Consilux estão em greve de fome há uma semana em frente à Embaixada do Brasil em Caracas, para exigir da empresa e do governo da Venezuela o pagamento de salários e benefícios atrasados. A Consilux paralisou, no ano passado, a construção de 1.032 casas de um complexo habitacional em Cidade Bolívar, no estado de Bolívar. Apenas 346 casas foram concluídas.

Desde esse período, os trabalhadores argumentam que estão parados e não recebem parte do salário atrasado e outros benefícios que a legislação venezuelana prevê. "Exigimos uma solução. Todos temos família para sustentar", disse à BBC Brasil Yunior Valcenas, 26 anos, um dos grevistas.

Valcenas responsabiliza o governo pela situação. "Foi o governo que contratou essa empresa — e eles (Consilux) dizem que não recebem recursos para terminar a obra", disse. "Se eu sou chefe de família, sou responsável pelo o que acontece na minha casa, do mesmo jeito o presidente (Hugo Chávez)", acrescentou. Valcenas e os demais grevistas se protegiam da chuva sob uma lona preta nesta terça-feira.

De acordo com Pablo Marrero, representante dos trabalhadores, a dívida da Consilux com os 576 operários que trabalhavam na obra alcançava, em outubro do ano passado, 176 milhões de bolívares (equivalente a pouco mais de R$ 64 milhões). “Na crise de moradia em que estamos, o que precisamos é de mais construções, não obras paradas”, disse Marrero.

O representante da Consilux na Venezuela, Espartano da Fonseca, admite que a empresa deve aos trabalhadores, mas argumenta que depende do repasse das verbas do governo para poder saldar a dívida com os operários. “Temos que receber do governo para poder pagar os trabalhadores”, disse. “O orçamento já foi aprovado e isso deve ser liberado rapidamente.”

De acordo com a Consilux, a dívida do governo com a empresa seria de 300 milhões de bolívares (equivalente a R$ 109 milhões). Isso inclui a cota que a empresa deve aos trabalhadores. O restante, de acordo com Fonseca, seria destinado para finalizar as obras que foram paralisadas em Ciudad Bolívar.

Projetos

A Consilux foi contratada pelo governo venezuelano em 2006 para construção de 5.850 casas, em seis projetos habitacionais diferentes. Cinco deles foram paralisados. O único contrato cujo projeto ainda estaria vigente, de acordo com a Consilux, é o da Ciudad Bolívar. “O governo já nos sinalizou que devemos retomar as obras rapidamente, em vista da necessidade que há no país (de construção de mais moradias)”, afirmou Fonseca.

A situação dos operários é precária e contrasta com outras greves de fome organizadas em frente à Embaixada do Brasil – que se tornou ponto preferido de grevistas de todo tipo. Uma das trabalhadoras que apoia o protesto pedia dinheiro a motoristas que circulavam em frente ao acampamento para suposta compra de soro e água.

Um banheiro foi improvisado no meio da calçada com papelão. Em greves de fome anteriores, organizadas por grupos políticos anti-chavistas, a prefeitura opositora do município de Chacao punha a disposição dos grevistas banheiros químicos, atenção médica 24 horas e barracas de camping. “Esta não é uma greve midiática. Vamos lutar até o fim”, disse Yunior Valcenas.

Crise habitacional

O deficit habitacional na Venezuela, de pelo menos 2 milhões de moradias, foi agravado no ano passado, quando fortes chuvas afetaram o país, deixando mais de 150 mil pessoas desabrigadas. A mais de um ano da decisiva eleição presidencial de 2012, o governo Chávez lançou um ambicioso projeto de construção chamado “Missão Moradia”, uma edição venezuelana do programa “Minha Casa, Minha Vida”.

A promessa do governo é entregar 150 mil moradias neste ano e solucionar o deficit habitacional até 2017. Para cumprir a meta, Chávez, há 12 anos no poder, terá de ser reeleito. A Consilux é uma das empresas construtoras estrangeiras que participam do “Missão Moradia”.