Consórcio pode estar por trás de assassinatos

Madeireiros e fazendeiros de Nova Ipixuna, no sudeste paraense, teriam formado um consórcio criminoso e contratado dois pistoleiros para matar o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, que lideravam o assentamento Praialta Piranheira. A polícia não confirma a existência do consórcio, embora admita que essa possibilidade apareça em alguns dos 32 depoimentos até agora prestados. O crime foi praticado no dia 24 de maio passado.

Assasinato

O casal foi morto a tiros ao cruzar de motocicleta uma ponte na estrada de acesso à comunidade Massaranduba, onde José Cláudio e Maria residiam. Os pistoleiros, cujo retrato falado foi divulgado ontem pela Polícia Civil, estavam de tocaia na mata.

O principal suspeito de ser o mandante do assassinato é o fazendeiro José Rodrigues, cujo pedido de prisão preventiva está sendo analisado pela justiça de Marabá. A juíza da Vara Agrária, Cláudia Favacho, informou que o pedido de prisão do fazendeiro foi remetido para a vara de crimes do Júri Popular.

Além de Rodrigues, os madeireiros Aguilar Tedesco, proprietário da Madeireira Tedesco, Paulino, Gilsão, Nenzão e Jairo enfrentavam a dura oposição do casal à devastação que vinham provocando nas florestas do assentamento para a extração ilegal de madeira. Segundo depoimentos de familiares das vítimas e assentados da região prestados à polícia, os cinco madeireiros e Rodrigues já tinham feito várias ameaças ao casal.

Atentado

Quinze dias antes do crime, a residência de José Cláudio e Maria foi vítima de atentado praticado por dois homens armados que apareceram de motocicleta no local e dispararam vários tiros contra as paredes da casa. Eles também quase mataram o cachorro do casal, que latiu muito ao perceber a presença da dupla.

Claudelice Silva dos Santos, irmã de José Cláudio, conta, em depoimento, que o casal recebia muitas ameaças de morte dos madeireiros e fazendeiros porque denunciava ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) os crimes ambientais que ocorrem dentro do assentamento. Em vista disso, o Ibama fechou três madeireiras de Nova Ipixuna: Tedesco, Eunápolis e Bom Futuro. No dia do atentado à bala na residência do casal, José Cláudio confidenciou a Claudelice que um dos autores foi um homem conhecido por “Nenzinho”.

O atentado não foi registrado na polícia, segundo Claudelice, porque o casal estava se preparando para ir à cidade fazer na delegacia o registro da ocorrência. Um amigo de José Cláudio disse para ele que o consórcio de madeireiros havia sido formado há quatro anos para contratar um pistoleiro para matar o casal. Diante das ameaças, a dupla fazia denúncias à imprensa, recebendo apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).

Acusados não falam e já armam defesas

“Durante as reuniões entre os madeireiros e os agricultores, o mais exaltado era o madeireiro Jairo”, relata Claudelice, irmã de José Cláudio. Quando apareciam no assentamento, os fiscais do Ibama costumavam dizer que se fosse por eles não estariam ali e que só o faziam porque José Cláudio e Maria não saíam do Ibama, fazendo denúncias. Claudelice, também ameaçada, teve de se desligar da Apaep, entidade do assentamento, segundo ela, “para não morrer”.

Laudo: tiros de espingarda assassinaram ambientalistas

O Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves entregou nesta quarta-feira (8) à Polícia Civil os laudos referentes à investigação do assassinato do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva. Os laudos requisitados pela Polícia foram do local do crime, de necropsia e balística. Os documentos serão analisados pelos delegados responsáveis pelo caso e anexados ao inquérito aberto para investigar as mortes.

Balins

Os laudos indicam que os projéteis utilizados pelos autores dos crimes eram tipo balins – característicos de espingardas.

A necropsia feita no corpo de Maria do Espírito Santo aponta que os projéteis a atingiram da esquerda para a direita e penetraram em órgãos vitais, causando hemorragia interna em função de lesões no pulmão e no coração.

Perícia

Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves concluiu laudos sobre o local de crime e também de necropsia e balística.

Tiros

Já se sabe que balas usadas em espingardas mataram o casal de ambientalistas. Os dados agora integram a apuração da polícia.

Fonte: (Diário do Pará)