Em crise, CUT enfrenta divisão interna e impasse com centrais
Os ânimos estão acirrados no movimento sindical. Na noite de terça-feira (14), Artur Henrique, presidente da maior central sindical do país, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), assinou texto no site da entidade em que busca diferenciar a CUT das demais centrais por meio da defesa da extinção do imposto sindical.
Publicado 16/06/2011 12:12
Por trás do texto, no entanto, há mais “recados”. Além da tentativa de contrabalançar, sozinha, o crescente peso das demais entidades, capitaneadas pela Força Sindical, há também uma motivação interna: a CUT está dividida em dois grupos na disputa pela presidência, que mudará de mãos no início de 2012.
Dois episódios foram cruciais para gerar um desconforto dentro da CUT — a campanha pela eleição de Dilma Rousseff, no ano passado, e a negociação com o governo, em fevereiro, pelo valor do salário mínimo de 2011. A avaliação de setores importantes da CUT é que, nesses dois momentos, a atuação de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força e deputado federal (PDT-SP), galvanizou a atenção da mídia.
A partir de março, a CUT fez circular que iniciaria campanha pela extinção do imposto sindical — que ajuda a sustentar as seis centrais aptas a receber o dinheiro, repartido pelo governo. O desconforto com a dupla atuação de Paulinho — que também lidera a bancada do PDT na Câmara — antecipou a disputa interna pela hegemonia. Nas comemorações do Dia do Trabalhador, a CUT foi a única central a boicotar o 1º de Maio Unificado, que reuniu 10 milhões de pessoas no país.
Dois dos três principais grupos da CUT — os metalúrgicos do ABC paulista e os bancários — estão fechados em torno de Vagner Freitas, que foi presidente do sindicato nacional dos bancários. O outro, que representa o funcionalismo público (como o sindicato dos professores de São Paulo, famoso pelas greves dos últimos anos), permanece neutro.
Enquanto Freitas e Sergio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, participam de negociação direta com a Força e os empresários da Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo (Fiesp) — que almeja influenciar na política industrial do governo —, Artur Henrique busca atingir o grupo mais à esquerda.
"Eles [a CUT] estão embaraçados, não sabem se são governo ou se são uma central sindical. Vieram [por meio do texto divulgado no site] defender que lugar de central é na rua, mas todos sabem que temos de influir no Congresso", diz Paulinho, ressalvando que não "buscará o conflito".
Segundo Adi dos Santos, presidente da CUT-SP, casos políticos, como a crise que envolveu o ex-ministro Antônio Palocci, evidenciam as diferenças entre as centrais. "O Paulinho divulgou nota pedindo o afastamento [de Palocci], e ele, como parlamentar, tem esse direito. Mas, como Paulinho também é presidente da Força, as coisas sempre se confundem", diz Santos.
Segundo ele, não é papel de uma central opinar nos ministérios. "Ninguém nos perguntou sobre a indicação de Palocci, então não podemos opinar sobre sua saída". Santos negou que haja crise. "Somos a maior central do país, a quinta maior do mundo. Não temos por que ficar apostando na divisão interna.”
Da Redação, com informações do Valor Econômico