Sudão do Sul declara independência e vira o 193º país do mundo
Às 18h01 desta sexta-feira (8) — 0h01 de sábado (9), hora local —, a República do Sudão do Sul se tornou oficialmente o mais novo país do mundo, ao oficializar sua independência do restante do Sudão. Às vésperas do nascimento do país, as rádios tocaram sem parar o hino nacional sul-sudanês, composto por estudantes locais. Nas ruas da capital, Juba, centenas de pessoas comemoraram a mudança logo após o horário oficial da separação do Norte.
Publicado 09/07/2011 15:10
O país nasce a partir de um acordo de paz firmado em 2005, após 12 anos de uma guerra civil que deixou 1,5 milhão de mortos. Em janeiro, 99% dos eleitores do Sudão do Sul votaram a favor da separação da região, predominantemente cristã e animista, em relação ao norte, governado a partir de Cartum, onde a população é em sua maioria muçulmana e de origem árabe.
Hoje, o governo do presidente sudanês, Omar Bashir, reconheceu formalmente a independência da parte Sul de seu país. Ele foi a Juba para a festa, assim como o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, que foi recepcionado pelo presidente interino do Sudão do Sul, Salva Kiir Mayardit.
Ao içar sua bandeira pela primeira vez, o Sudão do Sul teve como “testemunhas” milhares de sudaneses do sul e dezenas de personalidades mundiais. O presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, disse, em Washington, que este dia revela que "após a escuridão da guerra, a luz de um novo amanhecer é possível". A independência "não é um presente", realçou, por seu lado, Susan Rice, embaixadora dos EUA na ONU e representante de Obama na cerimônia de independência.
Também o presidente francês, Nicolas Sarkozy, apelou aos dois países que agora transportam o nome de Sudão para encararem "esta nova etapa das suas relações no espírito do diálogo e da cooperação". Entre os presentes à solenidade, aquele que mais burburinho causou foi o presidente do Sudão, Omar Al Bashir, sobre quem pende um mandado de captura internacional por genocídio e crimes contra a humanidade cometidos na região sudanesa de Darfur. Na cerimônia, Al Bashir disse que apostará em "preservar os interesses comuns" do Norte e do Sul do Sudão.
Apesar de ter grandes reservas de petróleo, o Sudão do Sul nasce como um dos países mais pobres do mundo, com a maior taxa de mortalidade materna, a maioria das crianças fora da escola e um índice de analfabetismo que chega em 84% entre as mulheres. Embora não haja estatísticas oficiais, a ONU estima que a população do país varie entre 7,5 milhões e 9,5 milhões.
O Sudão do Sul também nasce sendo um dos maiores do Continente Africano, superando as áreas de Quênia, Uganda e Ruanda somadas. Após comemorar a independência, o país terá de resolver a questão da fronteira com o Norte. A independência está sendo celebrada sem que as fronteiras entre o Sul e o Norte já estejam completamente definidas.
Um foco de tensão é o debate sobre quem ficará a região de Abyei, rica em petróleo. Em maio, forças do Sudão do Norte entraram em Abyei. Os conflitos forçaram 170 mil pessoas a deixarem suas casas, para fugir da violência. O acordo de 2005 previa um referendo para os moradores da área decidirem se ficariam com o Norte ou o Sul, mas por causa da tensão a votação ainda não ocorreu.
Antecipando-se a uma eventual retomada da guerra civil, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, também em maio, o envio de uma missão de paz com 7 mil militares para a área, a maioria da Etiópia. A separação também acendeu os ânimos na região de Kordofan do Sul, que está sob controle do governo de Cartum. Povoada por minorias étnicas sem ligação com a população árabe do Norte, a região quer se juntar ao novo país. Confrontos na região já provocaram o deslocamento de 60 mil moradores.
Reconhecimento
O Sudão do Sul já foi reconhecida pelas principais potências mundiais. Quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas — Estados Unidos, França, Reino Unido e China — já reconheceram o novo Estado, assim como a União Europeia, no seu conjunto, e a Alemanha, em particular.
O país é o 193º a ser reconhecido pelas Nações Unidas. Uma nação independente e soberana, de caráter multiétnico e multirreligioso, que quer relações amigáveis com todos os países, incluindo o Sudão. “Nós, representantes democraticamente eleitos pelo povo, baseados na vontade do povo do Sudão do Sul, como confirmam os resultados do referendo à autodeterminação, proclamamos o Sudão do Sul uma nação independente e soberana”, afirmou o presidente do Parlamento do mais recente país, James Wannilgga.
A declaração, proferida perante delegações de 80 países, 30 chefes de Estado, do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, e de milhares de sudaneses do sul, deu destaque às relações amigáveis que o novo país pretende estabelecer com todos os países, em especial com a República do Sudão, depois de décadas de confrontos entre cristãos do Sul e muçulmanos do Norte, que resultaram em milhões de mortos.
Salva Kiir tornou-se no primeiro presidente do Sudão do Sul, após o juramento de respeito à Constituição provisória. A cerimônia, rodeada de forte dispositivo de segurança, decorreu no mausoléu do ex-dirigente rebelde sudanês John Garang, que morreu em 2005 em um acidente de helicóptero, após a assinatura de um acordo de paz entre Norte e Sul. A solenidade começou com discursos de um representante católico e de um representante muçulmano.
Da Redação, com agências