Sem categoria

Fadiga em montadores de aeronaves atinge maioria de mulheres

 O Dr. Fabrício Augusto Menegon, da FSP-USP, analisou o trabalho de montagem estrutural de aeronaves e os fatores associados à capacidade para o trabalho e à fadiga, considerando-se cargas de trabalho, condições de vida e estilos de vida entre trabalhadores da indústria aeronáutica brasileira. A pesquisa, que avaliou 552 operários, foi objeto da tese de doutorado "Atividade de montagem estrutural de aeronaves e fatores associados à capacidade para o trabalho e fadiga", defendida em maio.

O pesquisador avaliou 552 operadores de montagem estrutural de aeronaves. Os participantes responderam a questionários padronizados sobre: condições de vida, condições de trabalho, hábitos e estilos de vida, sono, sintomas ósteomusculares, capacidade para o trabalho (ICT) e fadiga.

Foram realizadas observações das tarefas de trabalho de montagem estrutural de aeronaves para a elaboração de uma descrição do trabalho e avaliação das demandas de trabalho. E elaboradas descrições detalhadas das tarefas observadas e das demandas de trabalho identificadas para a composição de uma análise da situação de trabalho de montagem estrutural de aeronaves.

Os resultados encontrados pelos pesquisadores indicam que o trabalho de montagem estrutural de aeronaves apresentou sobrecarga de esforços no campo físico, cognitivo e organizacional, caracterizadas, principalmente, por adoção de posturas de trabalho desconfortáveis, restrições de espaço de trabalho, tratamento e interpretação de informações detalhadas, alta exigência técnica, gestão do tempo de trabalho, regulação no trabalho, variabilidade no trabalho e pressão temporal. Foi observada prevalência de 11% para o ICT inadequado entre os trabalhadores de montagem estrutural de aeronaves.

A maioria dos casos de fadiga observados (82%) ocorreu em trabalhadores jovens, com idade de até 34 anos. Os fatores de associação positiva ao ICT inadequado foram o fato de o operador ser do sexo feminino, ter fadiga referida, ter sonolência no trabalho, ter distúrbios de sono, ter  tempo de trabalho na empresa maior que cinco anos, tempo de trabalho na montagem estrutural maior que cinco anos, operar nos locais de junção/complementação, ter que fazer maior esforço mental no trabalho, não ter auxílio no trabalho doméstico e falta de tempo para cuidados pessoais.

Os fatores de associação negativa ao ICT inadequado foram: menor responsabilidade pela renda familiar e prática regular de exercícios físicos nos dias de folga. Os fatores de associação positiva à fadiga referida foram: falta de tempo para repouso durante a semana, ser do sexo feminino, ter conflito com superiores, trabalhar nos locais de junção/complementação, tempo de trabalho na empresa maior que cinco anos, ter referido sintomas ósteomusculares nos últimos 12 meses, ingerir cafeína antes de dormir, ter insônia e ter distúrbios de sono.

Os fatores de associação negativa à fadiga referida foram: prática regular de exercícios físicos nos dias de folga, ter idade superior a 35 anos, executar trabalho de baixo desgaste e executar trabalho passivo.

Considerando tais resultados, o pesquisador concluiu que o trabalho de montagem estrutural de aeronaves apresenta demandas físicas e cognitivas bem definidas, que dependem da tarefa realizada, mas impõe sobrecargas aos trabalhadores.

Há múltiplos fatores relacionados às condições de vida e de trabalho, hábitos, estilos de vida e condições de saúde, associados ao ICT inadequado e à fadiga referida no trabalho de montagem estrutural de aeronaves. Esses fatores concorrem e se inter-relacionam no estabelecimento do risco ou proteção para a capacidade para o trabalho e fadiga.

Fonte: Faculdade de Saúde Pública