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Protestos se espalham pelo mundo. Bancos tentam dividir a culpa

Para as milhares de pessoas que protestaram ao redor do mundo no fim de semana (15 e 16), o alvo era claro: os bancos. "É ridículo o governo se dispor a gastar mais de um trilhão de libras para socorrer os bancos enquanto corta nossas aposentadorias e benefícios", afirmou Tai Wardallg, organizador do protesto em Londres.

Mas, para os banqueiros e outros representantes do sistema financeiro global, chegou a hora de tentar dividir a responsabilidade.

Andreas Schmitz, presidente da federação alemã dos bancos e executivo-chefe do HSBC Trinkaus, disse ao Financial Times nesse domingo (16) que os protestos contra os bancos eram "um diversionismo do problema fundamental, que é que não podemos mais financiar o nosso Estado do bem-estar social".

Em 2008, uma crise bancária causou uma crise orçamentária para os governos, disse ele, afora, "uma crise da dívida pública [na zona do euro] está causando uma crise bancária". Os políticos, advertiu ele, não deveriam tentar fazer dos bancos os bodes expiatórios para os seus erros.

Os manifestantes protestam contra os excessos dos bancos, mas os protestos refletem mais que uma simples raiva contra as instituições financeiras, afirmou um banqueiro em Londres. "Está ficando claro que esses protestos não dizem respeito apenas aos bancos, mas a todo um modo de ser… Estão falando sobre o número de milionários no governo e todo esse tipo de coisa. Isso não necessariamente envolve só os bancos."

Os manifestantes escolheram o alvo errado quando decidiram se reunir diante das bolsas de Nova York e Londres, afirmaram executivos de algumas das maiores bolsas do mundo. "Somos o símbolo mais visível do mundo financeiro, o que faz das bolsas um lugar óbvio. Mas não acho que é o alvo correto. Nós não representamos o setor financeiro", disse Ron Arculli, presidente da Federação Mundial das Bolsas de Valores.

Outras mostraram simpatia pelos manifestantes. Os bancos "apenas competem e correm para ganham dinheiro à custa do consumidor", disse Atsushi Saito, executivo-chefe da Bolsa de Tóquio. "Até certo ponto, consigo entender o raciocínio daqueles que protestam contra Wall Street."

Os protestos mostram que os norte-americanos querem "um sistema financeiro que funcione", disse ontem David Axelrod, estrategista-chefe da campanha do presidente dos EUA, Barack Obama. Eles pedem reformas financeiras que os candidatos presidenciais republicanos ameaçam engavetar, disse.

Na Itália, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi condenou a violência de um "grande grupo" de desordeiros, ainda que a violência inicial tenha vindo de um pequeno grupo de anarquistas e militantes de extrema-esquerda. Mais de 130 pessoas ficaram feridas nos protestos de sábado em Roma. Paolo, um pesquisador em biologia molecular, que participou da marcha em Roma, disse que a polícia permitiu que a manifestação saísse de controle para poder "criminalizar" e desacreditar o movimento de protesto.

O movimento dos "indignados", que protestam contra a crise financeira e ganância dos bancos, adquiriu neste fim de semana dimensão planetária, levando às ruas dezenas de milhares de pessoas em mais de 80 países.

Inspirados pelos espanhóis, que desde maio desse ano realizam protestos em cidades como Madri e Barcelona e o “Occupy Wall Street”, cujo quartel-central é a Liberty Plaza, em Nova York, os manifestantes chamaram a atenção mundial e ganharam seguidores e admiradores. A agenda do grupo previa mais uma assembleia de rotina na noite de ontem.

Em Londres, centenas de manifestantes que ocupam as escadarias da catedral de St. Paul começaram a erguer barracas para acampar permanentemente no local.

É a primeira vez que uma "iniciativa cidadã" consegue organizar "de forma coordenada tantas manifestações em lugares diferentes e afastados", disse o jornal El Pais, da Espanha. Sob slogans como "povos do mundo, levantem-se", ou "sair à rua cria um novo mundo", os "indignados" convocaram no sábado manifestações em 951 cidades. "Evidentemente, existe agora um movimento internacional", confirmou o editorialista do Repubblica, Eugenio Scalfari.

As queixas dos manifestantes são as mais variadas, com cartazes em várias cidades condenando a ganância corporativa e pedindo o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão e um perdão para a dívida de estudantes. Um texto divulgado num site que ajuda a organizar os protestos afirmou: "Unidos em uma voz, faremos saber aos políticos, e às elites financeiras a quem eles servem, que cabe a nós, o povo, decidir o nosso futuro".

Com Valor Econômico