“Quando são atacados os comunistas, é atacada a democracia”

Em entrevista, o presidente estadual do PCdoB de Goiás, Fábio Tokarski fala sobre a Conferência Estadual do Partido, os ataques sofridos pela legenda, sobre o Ministério do Esporte e o bom momento vivido pelos comunistas goianos .

Vereador em Goiânia pelo terceiro mandato, ex-deputado estadual e ex-assessor do Ministro Guido Mantega, o presidente do PCdoB-GO, Fábio Tokarski concedeu entrevista na manhã desta terça-feira, para falar sobre a Conferência Estadual do partido, que se realizará no próximo final de semana (5 e 6 de novembro), na Câmara Municipal da capital.

Ele falou sobre o crescimento vivido pelos comunistas goianos, e saiu em defesa de Orlando Silva. Para a conferência, são esperados mais de 600 delegados de cerca de 100 municípios de Goiás. Confira abaixo:

O PCdoB irá realizar, no próximo final de semana, sua Conferência Estadual. O partido passa visivelmente por um processo de fortalecimento aqui no Estado de Goiás, com a filiação de diversas lideranças populares, tanto de Goiânia quanto do interior, além do retorno de diversos quadros históricos, como a deputada Isaura Lemos, a ex-deputada Denise Carvalho, o ex-vereador Euler Ivo, e, também, o ingresso da vereadora pela capital, Tatiana Lemos. Nessa conjuntura, quais são os objetivos dessa conferência?

O partido tem como momento alto da sua vida, um momento de democracia, exatamente aquele momento em que planeja seu futuro, fazendo um balanço do percurso dos últimos dois anos e elegendo sua nova direção. O PCdoB faz isso a cada dois anos: renova todas as direções municipais e as direções de todos os Estados, e, a cada quatro anos, promove seu Congresso, que é o momento de pensar os rumos do país como um todo. Nessa quadra do processo eleitoral de 2012, nós compreendemos que realizar uma conferência envolve planejar as ações do partido para as próximas eleições. Isso é uma ante-sala das eleições presidenciais de 2014. O partido vai para esse processo re-energizado, na medida em que nós nos abrimos para novas filiações. Parte de centenas, ou até de milhares de goianos, não só aceitação, mas eu diria a integração ao partido. Não somos hoje um partido que só cresce, mas se enraíza em mais de 100 municípios do Estado, dando uma demonstração do interesse do PCdoB de pensar o desenvolvimento de Goiás, levando em conta a realidade de cada município e a realidade dos cidadãos preocupados com um processo de desenvolvimento que gere renda, que distribua essa renda gerada, e que essa distribuição seja efetiva na melhoria da qualidade de vida do povo trabalhador.
É preciso pensar um projeto de desenvolvimento que leve em conta, cada vez mais, a melhoria da qualidade da educação, da qualidade e do alcance da saúde pública para todos, o direito à moradia, o direito do acesso à cultura, ao meio ambiente equilibrado, etc. Isso se dá numa quadra em que o Brasil está se desenvolvendo, a economia do Estado de Goiás está crescendo, mas ainda se configura como uma economia altamente concentradora de renda. Estamos debatendo isso: por que em Goiás há essa marca tão forte da concentração de renda? Uma das razões reside nesse processo de incentivo à industrialização, mas que não leva em conta a geração de emprego, que, portanto não distribui renda; que não trata a questão da inovação tecnológica, que não trata a questão das diferenças de dinâmica das economias regionais. Temos regiões do Estado que estão em franco desenvolvimento, e outras que estão em verdadeiro processo de depressão, diminuindo, inclusive, a população de várias cidades.
Portanto, o PCdoB se coloca diante do desafio de pensar o desenvolvimento nacional, e para isso nós temos um programa. Entendemos que o governo Dilma vai dando passos importantes, mas ainda há um divórcio entre a lógica governamental em Goiás, e uma lógica empreendedora que investe e que fortalece o Estado. Em Goiás o que se vê é o enfraquecimento do Estado através de terceirizações e mesmo privatizações de várias empresas que são indispensáveis para pensar o desenvolvimento. Agora, mais recentemente, há um ataque muito forte a essa grande empresa que é um patrimônio dos Goianos que é a Saneago [Saneamento de Goiás S/A], com a terceirização de estações de tratamento de esgoto e de equipamentos vitais para o funcionamento do saneamento em nosso Estado. Já não bastasse o enfraquecimento pelo qual, nos últimos governos, passou a própria Celg [Companhia Energética de Goiás]. Hoje várias indústrias que querem se instalar e aumentar sua capacidade produtiva em Goiás, e isso gera mais emprego, estão impedidas frente à inoperância, frente à completa falta de capacidade gerencial que a Celg exerce sobre o processo de geração e distribuição de energia, tão vital para o processo de desenvolvimento de Goiás. Portanto, o PCdoB vai para esse processo de conferência alegre e energizado, porque várias lideranças que já participaram do partido há cinco, dez, ou até vinte anos atrás se reintegram, como aconteceu com ex-vereador Euler Ivo, uma grande liderança do Estado; com a deputada pelo quarto mandato Isaura Lemos, que já foi eleita nossa presidenta municipal em Goiânia; a vereadora Tatiana Lemos, uma expressão feminina da luta política não só na capital, mas em todo o Estado; e recebemos recentemente, também, a reintegração da ex-deputada estadual Denise Carvalho, que é uma liderança forte no meio da intelectualidade, da produção cultural, etc. Além de dezenas de outros quadros políticos, lideranças do campo, que vem fortalecer a luta do nosso partido, dando a ele um caráter mais acentuado de proximidade com a luta do trabalhador. O partido se irmana aos trabalhadores para pensar o desenvolvimento da nação que sirva a todo o povo brasileiro.

O projeto de resolução política que vai ser debatido na conferência faz duras críticas ao atual governo do Estado, do governador Marconi Perillo (PSDB), e essas críticas transparecem, também, quando o senhor avalia a situação de Goiás. O PCdoB conta agora com representação na Assembléia Legislativa. O que esperar do comportamento do partido frente ao governo estadual?

O nosso partido tem um campo de atuação fortemente empenhado em pensar o desenvolvimento. A nossa relação com órgãos e entidades governamentais vai ser objeto de apreciação pela militância. Isso vai ser objeto de debate, na medida em que nós compreendemos que nosso Estado precisa dar passos no sentido de fortalecer a máquina pública, fortalecer sua capacidade de investimento, defender o serviço público, defender a saúde pública, a educação pública de qualidade. Isso tudo será objeto de apreciação no processo de conferência, e eu acredito que essa diretriz maior de que nosso partido está empenhado em fortalecer o desenvolvimento e a geração de emprego e renda para todos, de que nosso partido está empenhado em fortalecer as aspirações dos movimentos populares, tudo que aquilo que vier fortalecer essa diretriz maior, acredito que será acolhido pelo conjunto dos delegados.

Como o senhor avalia o resultado das conferências municipais do partido, e qual será o projeto eleitoral para 2012?

A diretriz nacional que encaminhamos é de que o partido dispute o poder político local onde tiver condições para isso. Já passamos de 15 municípios onde teremos candidatos a prefeito e prefeita. Há uma orientação de ir para a disputa, apresentar as propostas. Nós temos uma diretriz mais geral que é lutar por cidades mais humanas. Estamos na região Centro-Oeste, que é a região mais densamente urbanizada do Brasil. Mais de 90% da população de Goiás mora na cidade, e não no campo, e há um conflito que é, digamos assim, o inchaço das cidades devido a uma dívida histórica do processo de urbanização, com uma falta de equipamentos para a vida nas cidades. Vamos à disputa com propostas, com um programa, buscando aliados, debatendo com a sociedade nossa proposta e apresentando nomes.

Haverá um ato de abertura com a presença de diversas autoridade políticas do Estado. Como será esse ato?

Sábado, dia 5 de novembro, às 10h da manhã haverá um ato que será marcado por três acontecimentos muito fortes para nós. Primeiro porque é um ato de abertura do processo de conferência, que por si só já é importante para nós, pois reúne centenas de pessoas de todo o Estado. Mas, sobretudo, o PCdoB, que completa 90 anos no ano que vem, vem sendo atacado por setores conservadores e reacionários, e, em particular, por setores da grande mídia nacional. Temos recebido a solidariedade de outras agremiações políticas. Como diz um poema do [Bertold] Brecht, se você não faz nada quando os outros são atacados, quando você for atacado ninguém vai poder fazer nada. É preciso que a consciência democrática se revele indignada frente a essa vilipendiação, a esse desmonte do processo democrático. Acusações são feitas sem provas. Não é garantido o direito à presunção de inocência. Não é garantido o espaço na mídia para que os fatos sejam revelados. O PCdoB teve seu ministro do esporte, o camarada Orlando Silva, muito atacado, e o próprio partido vem sendo alvo. Quando são atacados os comunistas, é atacada a democracia. Nós teremos um ato de abertura muito grande, de desagravo ao partido, no qual muitas personalidades de partidos aliados estarão presentes. Por fim, será um ato de muita alegria para o PCdoB, porque iremos registrar o ingresso da deputada Isaura Lemos, uma parlamentar combativa, de quatro mandatos, muito inserida nas lutas sociais; da vereadora pela capital Tatiana Lemos, que, passo a passo, com a sua luta e seu posicionamento granjeia autoridade; e o reingresso da ex-deputada e ex-secretária de Estado Denise Carvalho, que já foi uma grande liderança estudantil do nosso Estado, uma histórica liderança que se reencontra com a militância partidária. Vai ser um dia de muita festa, de muita comemoração democrática e de encontro de amigos que lutam pelo desenvolvimento do nosso Estado.

Da redação em Goiânia,
Paulo Victor Gomes