Tupac Amaru: o canto da liberdade de Federico García Hurtado

O diretor peruano Federico García Hurtado, mais conhecido pelo carinhoso apelido de “Fico”, visitou nesta quinta (8) a sede central do PCdoB e deu uma entrevista exclusiva para o Boletim Vermelho.

O diretor de Tupac Amaru, obra que conta a saga heroica do último guerreiro inca contra o colonialismo espanhol, falou principalmente sobre a película, proibida no Peru e largamente premiada no resto do mundo, fazendo carreira em festivais internacionais no Japão, Coreia do Norte, Cuba e Canadá, entre outros países.

Produzido nos anos 1980, Tupac Amaru estreia no Brasil nesta quinta (8), em uma sessão única seguida de debate com o diretor na sala BNDES da Cinemateca. Para os apreciadores de cinema e os amantes da bela arte que exalta o enfrentamento dos povos contra a opressão, o filme é um chamado à luta.

Escritor, jornalista e cineasta, Federico García Hurtado nasceu em 1937. Iniciou sua carreira como diretor na segunda metade dos anos 1960, dirigindo os curtas Huando, Tierra sin patrones e Inkari, proibidos pela ditadura militar. Estreou no longa-metragem em 1975 com o documentário Donde nacen los cóndores, película financiada por um grupo de camponeses de uma cooperativa peruana. Outro destaque de sua vasta obra é Melgar, sangre de poeta, que trata da vida de outro herói independentista de seu país: o jovem revolucionário Mariano Melgar.

Acompanhe, a seguir, a entrevista na TV Vermelho:

TV Vermelho: Fico, o filme Tupac Amaru foi lançado na década de 1980, qual o impacto desta obra?
Federico García Hurtado: Do ponto de vista cultural, foi muito gratificante, bonito, e também teve grande êxito comercial. Foi visto por um milhão de espectadores, ficando durante várias semanas no circuito de exibição. É um filme que tem que ser visto mais como história, por isso causa emoção. Toda gente se sensibiliza com o enredo porque é um canto da liberdade contra o colonialismo dos Estados Unidos, a película emociona principalmente por isso, porque é um canto pela liberdade, contra o colonialismo em geral, o norte-americano hoje e o espanhol na época. O filme retrata a aniquilação brutal de Tupac Amaru e toda sua família. Atualmente estamos fazendo um movimento sociopolítico para repatriar os restos de Fernandinho, último membro da família, que foi parar em uma prisão na Espanha, onde morreu. Está enterrado em Madri. Então é isso que Tupac Amaru, o filme, mostra, sobretudo a maneira bárbara como os indígenas foram tratados.



TV Vermelho:
O filme chegou a ser proibido?
FGH – Sim, várias vezes, mas graças a apresentações em uma série de festivais de todo mundo, ganhou prêmios e fez carreira. Por isso é reconhecido até hoje.

TV Vermelho:
Como você vê as mudanças no cinema nos últimos anos?
FGH – Como uma questão de luta entre o bem e o mal, considerando-se como o “mal” o cinema norte-americano, que tem modelos imperialistas, eliminando possibilidades de se constituir um cinema com identidade peruana. A questão é de mercado, não estamos mais fazendo filmes que revelem nossa identidade e lutas, mas, majoritariamente, a produção local é pretensamente comercial, tem sexo, violência, elementos que atraem o grande público. Precisamos retomar o cinema de identidade e que resgate a luta contra a opressão dos povos.

Edição: Christiane Marcondes, de São Paulo