Sem categoria

Comunistas italianos lutam pela reconstrução unitária do PC

Agradecemos sincera e fraternalmente ao PC da Grécia pelo imenso trabalho que desenvolveu, a partir de 1998, para contribuir com outros partidos ao processo – ainda em curso – de reconstrução do movimento comunista e revolucionário do século 21; e pelo papel de vanguarda e emblemático que desempenha na luta do povo grego contra a política da União Europeia,  tema que diz respeito a todos os povos europeus e dentre os quais o povo grego é hoje o ponto mais avançado.

Por Fausto Sorini*

Nas discussões destes dias vemos entre nós uma enorme convergência sobre questões de princípio, certa diferenciação sobre aspectos da estratégia, diversos de natureza tática. Isto é absolutamente natural e corresponde em primeiro lugar mais a um dado objetivo, do que subjetivo: o desenvolvimento desigual do capitalismo nas diversas regiões do mundo, nos diversos países, e portanto, o desenvolvimento desigual e, por esta razão, dos processos revolucionários (nem tudo deve ser atribuído aos fatores subjetivos, que, apesar disso, existem e têm seu peso).

Em nossa opinião, esta discussão, no mérito, gira em torno do tema dos objetivos intermediários, das fases intermediárias, dos processos de transição na luta pelo socialismo, em escalas nacional e internacional. Permitam-me resumir assim, muito esquematicamente, o problema: entre o presente e a vitória do socialismo no mundo existe uma fase histórico-política, cuja duração e características não conhecemos, mas de qualquer maneira não será uma etapa curta: isto é reconhecido por todos nós. Quais serão as características, em cada país e mundialmente, dessa fase não curta de transição? É sobre isso que no fundo estamos discutindo. Porque todos sabemos que isto não se resolverá a curto prazo nem de um só golpe.

Esta discussão aberta é não apenas útil mas necessária. Não pedimos que seja feita com tanta diplomacia. Buscamos dar nossa contribuição (e por isso submetemos à sua atenção uma contribuição escrita, porque não queremos simplificar em poucos minutos questões tão complexas); e o fazemos conscientes da modéstia de nosssas dimensões e da crise que o movimento comunista está vivendo há muitos anos em nosso país.

Mas esta discussão é útil e positiva se for por todos conduzida:

– com respeito mútuo;
– dando ênfase, nas lutas, àquilo que une, acima daquilo que diferencia: é isto o que querem os trabalhadores e camadas sociais que buscamos representar;
– evitando com cuidado entre nós, da parte de cada um, a mínima tentação que seja de representar um tipo qualquer de professorado;

Recordamos todos aqueles anos em que alguns partidos, italianos ou não, pretenderam dar lições de comunismo a todo o mundo: já vimos como essa história acabou. Jamais cometamos aqueles erros de presunção, e desejamos que todos pensem assim.

Na Itália estamos empenhados hoje em um processo de reconstrução unitária do partido comunista, um partido que – depois das debilidades, derrotas e fragmentações das últimas décadas – reúna os comunistas italianos sobre bases leninistas, internacionalistas e de classe, em uma relação construtiva, autônoma e solidária com o conjunto do movimento comunista internacional. A este tema dedicamos o título e o significado fundamental do nosso último congresso (Reconstruir o partido comunista), realizado em finais de outubro de 2011.
A nossa contribuição neste encontro é fruto da elaboração do nosso último congresso.

Cremos que, no ponto em que nos encontramos e dada a profundidade da crise do sistema capitalista e imperialista e os perigos de guerra que essa acarreta, o verdadeiro problema dos nossos encontros internacionais não é apenas – embora isto seja essencial – o de reforçar o perfil político e ideológico do movimento comunista em escala mundial, mas também e sobretudo o de estar em condições como comunistas – num quadro de vasta aliança e convergência social e política democrática e progressista – de sermos promotores de grandes movimentos de luta, com base de massas e não meramente testemunhais, a partir dos respectivos contextos nacionais e internacionalmente coordenados, capazes de incidir na realidade e modificar as correlações de força. Capazes de fazer crescer nos povos a consciência de que somente o socialismo, a conquista de posições que permitem avançar rumo ao socialismo, o debilitamento das posições do imperialismo no mundo, possam fazer avançar os povos e toda a humanidade rumo a soluções duráveis às contradições do capitalismo da nossa época.

Duas palavras sobre a situação italiana

O novo governo Monti: a burguesia entra em campo diretamente com seus tecnocratas e desautoriza os seus tradicionais representantes políticos.

A exigência ultraliberal, antioperária e antissocial da União Europeia e do Banco Central Europeu (BCE) produz por toda a parte, de especial modo nos países débeis e em crise como a Itália – um “estado de exceção” tendente a suspender a democracia, a invalidar a Constituição, a desautorizar os parlamentos e os Estados, a anular a sua autonomia e soberania.

De repente, os povos passam a ser governados por novos poderes externos, e o BCE se apresenta cada vez mais, nesta fase, como um tipo de monarquia absoluta – com uma rainha germânica – que estende seu próprio domínio sobre toda a população europeia. O “estado de exceção” marca dramaticamente o nosso país e o governo Monti representa o desenvolvimento coerente e o cumprimento desse processo.

O fim do governo Berlusconi não ocorreu sobre a base de um voto parlamentar, como entretanto deveria ser constitucionalmente. Ao contrário, aconteceu por decisão do presidente da República que, transformado em intérprete dos interesses estratégicos da grande burguesia italiana e europeia, em plena sintonia com os fortes poderes nacionais e supranacionais (UE, Otan, presidência dos EUA, Vaticano, Confindustria – Federação das Indústrias da Itália…), de fato desautorizou o Parlamento, o governo que estava saindo e os partidos politicos, de centro-direita e de centro-esquerda –considerados inadequados para representar nesta fase de grave crise o comitê de negócios lúcido e coerente da burguesia – e confiou a tarefa a um ex-comissário da UE, Monti, pedindo-lhe para formar um governo de tecnocratas a serviço da política determinada pelos grupos dominantes da UE, e impondo de fato que as duas formações políticas de centro-direita e centro-esquerda o apoiem.
Não é o caso de entrar aqui nos detalhes das medidas econômicas e sociais anunciadas nos últimos dias pelo governo Monti, que configuram um tipo de “solução a la grega com molho italiano”; uma linha de massacre social que fundamentalmente descarrega sobre as camadas populares, os aposentados, os trabalhadores, a parte mais pobre e explorada do país, os custos da crise do sistema; e ao contrário, pede às camadas sociais médias-altas sacrifícios proporcionalmente irrisórios em comparação aos exigidos às camadas populares.

Portanto, impõe-se uma resposta popular de luta, que veja como protagonistas e promotores os comunistas, as forças de esquerda e progressistas, os componentes mais avançados dos sindicatos e que saiba interpretar os interesses da grande maioria de nosso povo e mobilizá-la.

Enquanto se manifestam as orientações antipopulares do governo Monti em matéria econômico-social, em linha com a carta enviada pelo BCE ao governo italiano em 5 de agosto passado, bastante claras, graves e inequívocas, confirmam-se as orientações de política externa expressas pelos ministérios da Defesa e do Exterior.

O novo ministro da Defesa, entre os expoentes de maior relevo do quartel-general da Otan, que participou ativamente da operação militar na Líbia, declarou que voltará a dar continuidade, reforçando, os laços de fidelidade à Otan, e de alinhar sem hesitação nosso país ao “novo conceito estratégico” da aliança militar ocidental que estende o raio de ação desse bloco a todos os cantos do planeta, intensificando uma prática de política de agressão e violação da soberania e autodeterminação de outros países. E confirmando todos os compromissos que vinculam a Itália à participação nas missões militares em curso (a partir da Líbia e Afeganistão).

Em matéria de despesas militares, estima-se no final um aumento de 3 bilhões de euros com respeito a 2010 (motivado principalmente pela participação italiana nas guerras de agressão no Afeganistão e na Líbia).

Nessa questão aparece como muito inquietante a tomada de posição do atual ministro do Exterior, expressa nos últimos dias em Istambul durante um encontro com seu homólogo turco Davudoglu, sobre a evolução da situação na Síria.

Na Siria está em curso uma tentativa de golpe armado contra o regime de Assad, com modalidade praticamente idêntica à Líbia; enquanto que Israel, dotado de armas nucleares, não esconde a sua linha de intensificação de preparativos de um possível ataque militar contra o Irã. Em tal contexto o novo ministro do Exterior italiano emitiu uma declaração marcada por um rígido alinhamento às posiçõs mais extremadas do tabuleiro atlantista, que está pressionando a “comunidade internacional” para repetir na Síria o mesmo roteiro que levou ao desencadeamento da guerra da coalizão ocidental contra a Líbia.

Na repetição do próprio empenho em sustentar completamente as “forças democráticas” da Siria e a “oposição organizada” – significativamente no mesmo dia em que a Turquia, respaldada pelas monarquias do Golfo, lança seu “ultimato” à Síria – o ministro conclama à “responsabilidade de proteger todas as populações indefesas”, com uma fórmula praticamente idêntica àquela que abriu o caminho ao desencadeamento da agressão à Libia. E exprime seu “desapontamento” com aqueles países (em primeiro lugar a Rússia e a China) que na sede da ONU com sua “resistência” têm impedido a aprovação da resolução apresentada pelas potências ocidentais.

Os primeiros movimentos dos dois ministros, aprovados pelo premiê Mario Monti, parecem confirmar as informações vazadas em Sole 24 Ore (o diário da Confindustria), segundo o qual “a nomeação do almirante Di Paola para o ministério da Defesa, assim como a do embaixador Terzi para as Relações Exteriores, contaram com o apoio de Washington graças às relações estreitas entre o Quirinale (palácio presidencial italiano) e a Casa Branca, consolidadas durante o conflito líbio e confimadas também nos últimos dias com as conversações por telefone entre o presidente italiano, Giorgio Napolitano, e Obama”. E indicam uma inquietante aproximação do atual governo italiano às piores posições presentes na Otan em matéria de relações com a Siria.

É grave que até agora nenhuma voz crítica no Parlamento tenha sido levantada no âmbito do tabuleiro político heterogêneo que sustenta o atual governo, com respeito a posições que configuram a possibilidade de um envolvimento da Itália em novas aventuras militares na explosiva região do Oriente Médio.

Então, que fazer, nesta situação, no peculiar contexto nacional e regional europeu? Qual é a contribuição inclusive no âmbito prático que pode advir deste nosso encontro internacional?

Resumiremos assim as coisas que nos parecem prioritárias no contexo europeu:
– impulsionar e desenvolver as lutas nacionais contra a linha da UE-BCE, de massacre social;
– ligar estas lutas ao tema da luta contra a guerra, o imperialismo e a Otan, introduzindo nas plataformas de luta, por exemplo, o tema da redução da dívida pública a partir da redução das despesas militares e destacadamente, em alguns países como a Itália, das despesas para as missões militares de guerras no exterior. O movimento pela paz hoje está em grave crise na Europa, e pode renascer nesta fase somente se promover o entreleçamento da luta contra a guerra com a luta sobre as questões sociais mais sentidas pelas amplas massas;

-coordenar estas lutas em escala regional, determinando um tipo de influência das situações mais avançadas em relação às mais atrasadas: por exemplo, convidando a participar e a falar nas respectivas manifestações nacionais alguns representantes do movimento de luta de outros países.

*Representante do Partido dos Comunistas Italianos no 13º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, Atenas, de 9 a 11 de dezembro de 2011

Fonte: Associazione Politico-Culturale Marx XXI

Traduzido do Italiano por José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho