Fórum reúne novos e tradicionais movimentos anti-imperialistas
O Fórum Social Temático 2012 começou hoje (24), em Porto Alegre (RS), trazendo grande expectativa sobre um dos temas centrais do megaevento: a crise do capitalismo e a luta anti-imperialista dos povos, em vários continentes, contra o sistema hegemônico. Tendo como pano de fundo discussões que antecedem a Cúpula dos Povos, evento alternativo à Rio+20, movimentos sociais históricos se encontram com novas lideranças de mobilizações que ocuparam praças de cidades em todo mundo, em 2011.
Publicado 24/01/2012 20:34
“Conseguimos articular um espectro bastante grande dos movimentos sociais. Tantos nacionais, quanto internacionais . Estamos trazendo todo o seguimento histórico do fórum social mundial, as organizações que participam desde o início, mas também novos movimentos e mobilizações que ocuparam as praças de todos os continentes, em 2011, especialmente a Primavera Árabe, os Indignados na Europa, o Ocupar Wall Street de Nova York e de Londres, e o movimento estudantil no Chile”, disse ao Vermelho Mauri Cruz, coordenador do Comitê Organizador do FST.
Lideranças dos movimentos, como a chilena Camila Vallejo, estão presentes. Mauri Cruz ressalta que muitos desses movimentos não possuem ideologia, mas que são válidos e que acumularam ao longo deste ano uma trajetória de luta contra o capital. “Várias lideranças estarão aqui até para que haja essa troca. Como sabemos não se trata de um movimento com recorte ideológico, é mais uma indignação. Então, haverá uma troca bastante interessante entre os novos movimentos e a luta histórica dos trabalhadores, representados por sindicatos, e das massas populares contra o modelo capitalista”, avalia o coordenador.
Essa troca ocorrerá naturalmente entre os participantes nas diversas atividades e em momentos específicos temáticos, sempre entre 12h e 14h, nas atividades de testemunhos. A cada dia um novo relato das lideranças.
A organização do evento estima que entre 30 a 50 mil pessoas participarão das cerca de 800 atividades.
Cúpula dos Povos
O FST2012 é um encontro preparatório para a Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, evento organizado pela sociedade civil de diversos países, que acontecerá entre 15 e 23 de junho, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro (RJ). Ele ocorre paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20.
A ideia é que, durante o FST, a Assembleia Permanente dos Povos, principal fórum político da Cúpula, se organize em torno de três eixos e debata as causas estruturais da atual crise, sem fragmentá-la em crises específicas – energética, financeira, ambiental, alimentar – com objetivo de construir novos paradigmas e apontar uma agenda política para o próximo período.
Para tanto, foram organizados Grupos Temáticos a partir da agenda da sustentabilidade e da justiça social e ambiental; da existência de redes em condições de facilitar política e operacionalmente os debates e de sistematizar a discussão realizada nos fóruns eletrônicos; viabilizando as discussões em diferentes línguas para os participantes, tornando-as abrangentes.
Os grupos se encontrarão em Porto Alegre na quarta e na quinta-feira para a sistematização dos debates. Na sexta-feira e sábado haverá uma articulação dos vários diálogos estabelecidos, organizados em quatro eixos:
– fundamentos éticos e filosóficos: subjetividade, dominação e emancipação;
– direitos humanos, povos, territórios e defesa da Mãe-Terra;
– produção, distribuição e consumo: acesso à riqueza, bens comuns e economia de transição;
– sujeitos políticos, arquitetura de poder e democracia.
“A nossa estratégia é não participar da conferência oficial. Queremos que a cúpula dos povos na Rio+20 seja reconhecida pela ONU como um espaço da sociedade civil internacional e que a cúpula oficial dialogue com esse espaço, respeitando sua soberania. Não nos interessa tirar meia dúzia de representantes para conversar com assessores e embaixadores. Queremos nosso espaço e que a ONU reconheça nossa representatividade”, explica Mauri Cruz, que classifica a ida do governo brasileiro ao FST como “importantíssima” para a consolidação e estruturação do evento no Rio.
A presidente Dilma participará do FST na quinta-feira (26), às 19h, no Gigantinho. O presidente uruguaio, José Pepe Mujica, também confirmou presença na mesma atividade.
“Além do diálogo com a presidente Dilma, o governo brasileiro vai estar presente em outras mesas, com a presença de ministros, para discutir com representantes de outros países como Bolívia e Argentina. Devemos definir como será a dinâmica da cúpula dos povos na Rio+20”, completa Mauri.
No sábado (28), será realizada uma atividade convocatória global para a Cúpula dos Povos, onde diversos movimentos estarão reunidos.
O que é o Fórum Social Temático (FST)?
O FST surgiu em 2005, sob o guarda-chuva do Fórum Social Mundial (FSM), quando os organizadores decidiram realizar a edição centralizada a cada dois anos, nos anos ímpares. Nos anos pares surgiram os encontros temáticos e descentralizados.
Em entrevista à organização do evento, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que participa desta edição, atribui ao encontro a responsabilidade de fazer do continente americano o maior em número de movimentos de contestação ao capitalismo e na consolidação de governos de esquerda.
No entanto, Boaventura avalia que o fórum deveria se posicionar com mais clareza, com a divulgação de documentos com decisões coletivas dos movimentos, inclusive. Por sua vez, a organização do FSM rebate afirmando que o fórum não tem um caráter deliberativo, de definições. Trata-se de um espaço, plural, onde diversas entidades da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo.
“Suas propostas contrapõem-se a um processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais e pelos governos e instituições internacionais a serviço de seus interesses, com a cumplicidade de governos nacionais", diz um trecho da carta de princípios do FSM.
de São Paulo
Deborah Moreira
Ouça entrevista de Mauri Cruz, para a Rádio Guaíba: