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Sarkozy oficializa candidatura à reeleição com discurso à direita

Após meses de falso suspense, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, oficializou na noite desta quarta-feira (15) a sua candidatura à reeleição, em abril, e entra na campanha com um discurso mais radical de direita, posicionando-se contra o casamento homossexual, a eutanásia e o direito de voto dos imigrantes em pleitos municipais.

O presidente considerou diferentes possibilidades para fazer o anúncio e acabou optando por uma entrevista ao vivo ao canal de televisão TF1, realizada durante a apresentação do jornal das 20h – horário de maior audiência.

O chefe de estado justificou sua decisão de optar pela reeleição afirmando que não tentar um segundo mandato na atual conjuntura de crise econômica seria como se "o capitão abandonasse o navio".

O presidente prometeu que trabalhará para que a França continue a ocupar um papel de destaque no mundo, apesar da crise que tem ruído boa parte da economia europeia. Afirmou que ainda tem propostas e coisas a dizer aos franceses e revelou que já tinha tomado essa decisão há semanas. "É preciso que os franceses compreendam que com uma França forte estarão protegidos", comentou. Sarkozy argumentou que nos cinco anos de seu governo realizou "muitas coisas, mas não se pode conseguir tudo" nesse curto período.

O presidente disse que se for reeleito a "ideia central" de seu próximo mandato será "devolver a palavra ao povo. Há muitos franceses que sentem que foram alijados do poder pelas elites, os sindicatos e os partidos (…).Os franceses precisam de mim, não só os direitistas, mas também a esquerda", defendeu.

Sarkozy havia previsto lançar sua candidatura somente no final de fevereiro ou início de março. Mas ele teve de avançar seus planos para entrar mais rápido em campanha e tentar, dessa forma, reduzir a grande diferença de intenções de voto que o separa do rival socialista, François Hollande, favorito em todas as pesquisas de opinião.

Em algumas pesquisas, a vantagem de Hollande no segundo turno, marcado para 6 de maio, chega a 20 pontos percentuais.

Na pesquisa Harris Interactive, divulgada nesta quarta-feira, Hollande lidera com 28% das intenções de voto no primeiro turno, em 22 de abril. Sarkozy, em segundo lugar, registra 24%.
No segundo turno, de acordo com a mesma pesquisa, o socialista conta com 57% das intenções de voto, contra 43% de Sarkozy.

Referendo

Analistas estimam que as eleições presidenciais devem se tornar um referendo do governo Sarkozy.

Uma recente pesquisa do instituto CSA reforça essa tese, ao apontar que 63% dos franceses que pretendem votar no socialista o farão para evitar que Sarkozy seja reeleito.

Além de problemas de imagem e de ter o mais baixo índice de popularidade de um presidente francês nas últimas décadas, o mandato de Sarkozy é criticado sobretudo em relação às suas promessas de aumentar o poder aquisitivo da população e de reduzir o desemprego.

Analistas dizem que, a pouco mais de dois meses do primeiro turno, nada ainda é definitivo, mas ressaltam que Sarkozy é o presidente em exercício que mais enfrenta, nas últimas décadas, dificuldades para se reeleger.

Desde o general Charles de Gaulle, em 1958, nenhum presidente em exercício passou para o segundo turno das eleições presidenciais em segundo lugar – que é o que as atuais pesquisas de opinião indicam que pode ocorrer com Sarkozy.

"Há vários meses, a diferença de (intenções de) votos entre Hollande e Sarkozy no segundo turno tem sido enorme e, além disso, ela permanece estável, na faixa de 15 a 20 pontos percentuais", diz Bruno Jeambart, do instituto Opinionway.

Frente Nacional

Sarkozy nega que tenha dado uma guinada à direita em seu discurso, mesmo tendo recentemente sugerido referendos nacionais sobre a facilitação das regras de expulsão de imigrantes clandestinos e sobre a eventual obrigatoriedade de desempregados fazerem cursos de recapacitação compulsórios.

Acredita-se que o presidente tente, com essas propostas, atrair eleitores do partido de extrema direita Frente Nacional que já haviam contribuído para a sua vitória em 2007, mas que agora se dizem decepcionados com o governo de Sarkozy.

O novo candidato já abriu nesta quarta-feira uma conta pessoal na rede Twitter e já tem dois comícios agendados para esta semana – um na quinta-feira em Annecy, no leste do país, e outro no domingo, em Marselha, no sul da França.


Com BBC