Caravana concede anistia a grevistas do Pólo de Camaçari na Bahia

A quarta-feira (29/2) foi de comemoração para as famílias de 120 ex-operários do Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, que foram demitidos e perseguidos após participarem de um movimento grevista em 1985. Após 27 anos de espera, a 54ª Caravana da Anistia do Ministério da Justiça finalmente reconheceu o direito da maioria destes trabalhadores de receberem uma indenização pelos danos causados por esta perseguição.

“Foi uma vitória muito grande para estes trabalhadores, que além de serem injustamente demitidos por exercerem seu direito de greve, ainda foram impedidos de arranjar outro emprego no Pólo, devido à grande perseguição que sofreram após o movimento. Foi também um passo muito importante para a Caravana na reparação dos males causados durante a ditadura militar”, afirmou Ana Guedes, integrante da Comissão da Anistia e da 54ª Caravana.

A sessão foi histórica e analisou o requerimento de 120 operários envolvidos na greve de 1985. Destes, 100 eram recursos indeferidos anteriormente pela Comissão, sendo 90 deferidos com a anistia, oito retirados da pauta para melhor análise, um indeferido e um processo deve ser julgado posteriormente, já que uma conselheira pediu vistas. A Caravana julgou também 20 novos requerimentos, tendo aceitado como procedentes a maioria deles.

Além de ouvirem um pedido formal de desculpa do estado pela perseguição sofrida, os trabalhadores ou suas famílias, no caso dos já falecidos, receberão ainda também uma indenização mensal e logo de início o acumulado retroativo ao tempo do requerimento. O valor usado como referência para este pagamento é o salário de um trabalhador da ativa da mesma função.

O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior, agradeceu ao estado da Bahia pela recepção e ressaltou o papel do projeto para o Brasil. “Vivemos um momento único, porque estamos vendo sonhos implementados. Hoje, o dever do Estado Brasileiro de promover a compensação sob os reflexos da ditadura militar se realiza. A Caravana vem reafirmar o direito à reparação moral e econômica desses cidadãos. Vir à Bahia representa o peso deste movimento operário para o Brasil”.

Para os ex-operários do Polo, a esperada sessão serviu de resposta à história do Brasil. A cada discurso, os autores dos pedidos de anistia se emocionavam e recordavam dos momentos enfrentados durante a paralisação de 1985. A Comissão de Anistia defende que os julgamentos feitos por todo o país são importantes para construir uma história de liberdade e de resposta aos erros cometidos no passado.

De Salvador,
Eliane Costa.