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Os comunistas avaliam sua história reafirmando princípios

A notícia alvissareira da semana foi o anúncio, pela direção nacional do Partido Comunista do Brasil, de que em breves semanas será publicado um documento alusivo à história de 90 anos da legenda mais antiga com atuação ininterrupta no País.

José Reinaldo Carvalho*

É hercúlea a tarefa de elaborar um documento-compêndio sobre a história de uma organização política com identidade comunista, comprometida com a realização de transformações revolucionárias e com a luta pelo socialismo.

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“Os 90 anos de existência ininterrupta do Partido já constituem um acontecimento inédito num país de partidos de vida curta e raízes superficiais”, ressaltou o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, na reunião em que foram apresentadas as linhas mestras do documento a ser aprovado pelo Comitê Central do partido, no final de março.

O documento será uma referência histórica para o partido, os trabalhadores e o povo, o que é uma exigência imprescindível na data comemorativa dos 90 anos de existência da legenda comunista no País. Será uma contribuição à historiografia nacional sobre a esquerda brasileira, o que impõe também um esforço analítico para avaliar o legado deixado pelo partido à vida política e social brasileira, base para extrair ensinamentos significativos sobre a trejetória histórica, reavivar a causa dos trabalhadores e do próprio partido, as propostas revolucionárias que defende na atualidade, a reafirmação de sua linha fundamental e, acima de tudo, a sua identidade como partido comunista, que tem como base doutrinária o marxismo-leninismo.

Vale ressaltar que o aturado trabalho de escrever sobre a própria trajetória não está desligado de uma interpretação científica da história do País, tal como a compreensão correta desta seria unilateral se não levasse em conta a contribuição dos comunistas para a conquista da democracia, o reforço da soberania nacional, as vitórias nos terrenos trabalhista e social, o que se fez em meio a duros confrontos, alguns cruentos, contra os regimes reacionários das classes dominantes e o imperialismo.

A tarefa de extrair ensinamentos desse vasto e rico legado, bem como a reafirmação da identidade comunista, ocupam o centro de um debate ideológico de enorme atualidade, porquanto, mais de vinte anos depois da derrocada do socialismo na ex-União Soviética e Leste europeu, ainda são fortíssimas as tendências liquidacionistas e negacionistas do papel virtuoso dos comunistas. O mundo ainda se encontra sob forte pressão de direita, liberal, neoliberal e social-democrata.

É neste contexto que o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, destaca na última reunião da Comissão Política desta sexta-feira (9), que “o Partido Comunista do Brasil é o autêntico representante da corrente marxista-leninista fundada em 1922 e sua reorganização em 1962 garantiu essa continuidade”. Mais adiante: “A reorganização em 1962 consolidou a existência e o florescimento do Partido e garantiu que ele chegasse até os dias de hoje”.

Nessa mesma perspectiva, o saudoso dirigente comunista João Amazonas, ex-presidente do partido, dizia: “A questão-chave da construção partidária está na ideologia. Desde Marx e Engels assim o é. De modo geral, não se trata de organizar um partido qualquer, à imagem e semelhança dos que existem no sistema da burguesia, mas um partido baseado na ideologia da classe operária, o marxismo-leninismo, doutrina que fundamenta o caminho da derrubada do capitalismo e de suas instituições obsoletas, bem como a via para edificar o socialismo e o comunismo”. (Artigo comemorativo do 70º aniversário do PCdoB, 1992)

Numa demonstração de maturidade político-ideológica da atual direção do PCdoB, é também auspiciosa a informação de que o documento alusivo aos 90 anos valorizará as gerações e lideranças pretéritas que construíram o partido em meio a vicissitudes, especialmente Astrogildo Pereira, Luiz Carlos Prestes e João Amazonas.
 
Os comunistas brasileiros celebram o 90º aniversário do seu partido reafirmando os princípios de estratégia e tática consubstanciados no Programa Socialista de 1995 e no atual Programa Socialista, de 2009, que não sendo uma estratégia inteiramente nova, tem o mérito de promover o aprimoramento tático-estratégico e a inovação quanto à abordagem das tarefas revolucionárias atuais.

Com a clara definição do rumo socialista e do caminho concreto – uma plataforma de luta por um plano nacional de desenvolvimento com soberania nacional e progresso social e por reformas estruturais democráticas – o novo Programa Socialista brinda a atual geração de comunistas com uma ferramenta de trabalho indispensável para mergulhar fundo nas lutas do povo brasileiro pela edificação de um país democrático, soberano, progressista, no rumo de sua emancipação nacional e social.

*Jornalista, secretário nacional de Comunicação e editor do Vermelho