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Londres: Professores protestam contra mudança na aposentadoria

Uma paralisação geral de professores britânicos interrompeu atividades em escolas, colégios técnicos e universidades de Londres nesta quarta-feira (28). Os educadores protestam contra projeto do governo do país que afeta o sistema de aposentadoria da categoria. Uma passeata com mais de 6.000 pessoas tomou as ruas da capital do Reino Unido.

Professores protestam / Foto: J. R. Penteado

A paralisação foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Professores (NUT) e pelo Sindicato das Universidades e Colégios (UCU). Segundo um dos organizadores, cerca de 65% das escolas aderiram ao chamado.

O governo do Reino Unido quer implementar uma lei que aumenta a idade mínima de aposentadoria dos professores da Inglaterra e do País de Gales – dos atuais 65 anos para 68 anos. Também quer aumentar em 50% o valor da contribuição obrigatória mensal dos professores na ativa, além de mudar o cálculo do valor da aposentadoria, levando em consideração não mais o salário no final da carreira mas a média salarial durante os anos trabalhados. Por fim, pretende alterar o índice atual de inflação usado para determinar os aumentos anuais das aposentadorias para outro índice que historicamente possui um valor menor.

Já houve, em 2007, uma reforma na legislação da categoria que aumentou a idade mínima para aposentadoria de 60 para 65 anos.

As medidas acontecem na esteira de um longo processo de cortes no sistema público e benefícios sociais anunciados nos últimos anos pelo governo conservador do primeiro-ministro britânico, David Cameron. Na semana passada, o ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, causou indignação ao anunciar um corte nos impostos sobre altos salários no país, enquanto retirou benefícios de aposentados.

Terry Hoad, presidente da UCU, enumera três principais problemas decorrentes do novo projeto de aposentadoria para os professores. “Primeiro teremos que trabalhar mais, depois teremos que pagar mais, para então recebermos menos. Isso é inaceitável”, disse ao Opera Mundi.

Ele também faz acusações contra Cameron. “Os conservadores são os mentores por trás dessa medida. Eles querem privatizar toda a educação, assim como o resto do sistema público. Agora o que não entendo é os liberais democratas apoiarem essa medida. Talvez seja porque eles não queiram perder o contato com o poder.” Atualmente, a coalização do Partido Conservador e do Partido Liberal Democrata controla o Parlamento do Reino Unido.

Para Kevin Courtney, Secretário Geral da NUT, os cortes são mais que injustos. “O governo quer nos fazer trabalhar até os 68, 69, 70 anos. Querem ainda que paguemos 50% a mais na nossa contribuição mensal. Isso está deixando nossos membros muito bravos”, exclamou.

De acordo com o sindicato, o governo encerrou as conversas com a categoria e deve levar o projeto de lei ao parlamento britânico em outubro. A medida só deve ser aprovada em abril de 2013, e, se aprovada, valer em 2015. “Até lá teremos bastante tempo para fazer mais protestos”, disse Courtney.

O professor de educação artística aposentado Dennis Donovan foi um dos vários educadores presentes no protesto. “Eu vim para apoiar os professores mais novos”, disse. Segundo Donovan, a aposentadoria atual é razoável, mas a que querem implementar é completamente absurda. “O que eles querem com esses cortes no orçamento público é que paguemos pela crise econômica que foi causada pelos bancos. Isso é inaceitável”.

Sarah Newman, professora de psicologia em um colégio técnico, também critica o aumento da idade mínima para aposentadoria. “Dar aula é um trabalho fisicamente extenuante. Não aguentaremos tanto tempo.” Essa é a mesma opinião de Sarah Harrison, professora numa escola primária. “Se tivermos que nos aposentar com 68 anos, o cérebro já não estará tão bom para o exercício da profissão. Assim não estaremos em condições de dar boas aulas como antes, o que será prejudicial para os alunos.”

Já Isabel Wright, professora em uma creche, acha que a nova lei de aposentadoria pode desvalorizar a carreira. “O plano de carreira para professores já não é dos melhores. Se a lei for implementada, será um forte desestímulo para possíveis interessados na profissão. Menos e menos jovens buscarão se tornar professores”, opinou.