Discurso de Carlos Augusto Diógenes na Sessão Solene do PCdoB

Leia a seguir a íntegra do discurso de Carlos Augusto Diógenes (o Patinhas), Presidente Estadual do PCdoB/CE, proferido na noite desta quinta-feira (29/03), durante Sessão Solene realizada na Assembleia Legistlativa do Ceará em alusão aos 90 anos de fundação do PCdoB.

O Partido Comunista do Brasil completou 90 anos no último 25 de março. É a organização partidária com atuação política mais longa na história do nosso país.

Esta sessão na Assembleia Legislativa se insere num quadro de comemorações que se realizam em todo o território nacional celebrando a saga dos comunistas durante nove décadas em defesa da democracia, dos direitos dos trabalhadores, da soberania da nossa pátria e do socialismo.

Gerações de homens e mulheres, lutadores do nosso povo, operários, camponeses, intelectuais, estudantes, profissionais liberais pagaram um tributo elevado pelo seu apreço à luta pela liberdade e pelo desenvolvimento econômico e social do Brasil.

No Ceará o Partido Comunista do Brasil é fundado em Fortaleza no final de 1927 e, em 25 de março de 1928, é organizado em Camocim, cidade portuária, sob a liderança de Francisco Theodoro Rodrigues. Nas décadas seguintes, mesmo enfrentando rigorosa repressão, o Partido continua funcionando e se estrutura em várias cidades do interior. As grandes jornadas nacionais, em especial a constituição da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para combater o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial, contaram com a presença dos comunistas cearenses. Marcou época em nosso Estado o jornal “O Democrata”, dirigido por Aníbal Bonavides, ressoando em suas páginas as lutas sociais, progressistas e democráticas empreendidas em nosso Estado.

Em 1945, o Partido Comunista colheu vitórias no Ceará elegendo dois deputados estaduais, o operário José Marinho de Vasconcelos e o médico José Pontes Neto. Em 1946, já posto na ilegalidade, os comunistas em Fortaleza contribuíram para a eleição de Acrísio Moreira da Rocha, pelo PR, e elegeu por este partido 7 vereadores: Américo Barreira, Alísio Mamede, Teófilo Candeia, Isaac Maciel, Lauro Brígido, Alexandre Valente e Manuel Feitosa. Posteriormente o vereador José Júlio Cavalcante filiou-se ao Partido Comunista. Em Camocim, elegeu para a Câmara Municipal o operário Pedro Rufino.

Ficaram registradas na história do Ceará as jornadas empreendidas pelos comunistas cearenses nas década de 50 e 60 como a campanha “O petróleo é nosso”, a “Campanha da Legalidade” para garantir a posse de João Goulart como presidente. O Partido Comunista organizou o Pacto de Unidade e Ação (PUA), Pacto Sindical dirigido por José Jatahy, que mobilizou o movimento sindical para impulsionar as reformas de base do presidente Goulart. Nestas campanhas destacaram-se diferentes comunistas como Aníbal Bonavides, Luciano Barreira, Manoel Raposo, Tarcísio Leitão, José Alencar, Valdir Aquino dentre outros.

Logo após o golpe de 1964 lideranças reorganizaram o Partido Comunista do Brasil destacando-se dentre eles o Prof. Miguel Cunha, Oséas Duarte, Francis Valle, Walton Miranda, Pedro Albuquerque, Assis Aderaldo. O Partido Comunista do Brasil assume a linha de frente da resistência contra a ditadura militar e no movimento estudantil, conquista o papel de força hegemônica no Ceará, transformando-o num forte, organizado e amplo movimento em defesa da universidade e da luta pela liberdade. A passeata dos 20 mil, quando da morte de Edson Luis, em março de 1968, e a passeata realizada após a queda do Congresso da UNE em Ibiúna, a única no país, ficaram registradas como as mais expressivas na história do Ceará. Lideranças estudantis comunistas como João de Paula e José Genoíno Neto ganharam projeção no cenário do movimento estudantil nacional.

Destaca-se ainda como histórica a greve nos bancários no nosso estado, em 1968, com a participação marcante dos comunistas, entre eles Benedito Bizerril, César Uchoa, Antonio Aureliano, Gil Fernandes e Getúlio Meneses. Insere-se na história do movimento sindical como uma das primeiras greves de trabalhadores no Brasil no período da ditadura militar.

O agravamento da repressão, com o AI5, fez declinar a ação partidária de massas, porém os comunistas buscaram adaptar suas formas de luta. Ganha reforço nesta época um trabalho já iniciado na região de Crateús junto às comunidades de base que atuavam sob a direção do bispo Dom Fragoso.

Na seca que atingiu o Ceará no início da década de setenta, o partido organiza um movimento em defesa do povo pobre em busca de frentes de trabalho para a sua sobrevivência. Militantes do PCdoB cearense após o AI5 tiveram que atuar na clandestinidade noutros estados, e alguns tombaram na heroica resistência do Araguaia, como Bergson Gurjão, Custódio Saraiva e Teodoro de Castro, além de Glênio Sá e Dower Cavalcante, que sobreviveram à guerrilha, falecendo posteriormente. Os comunistas cearenses marcaram presença nesta saga heroica do nosso Partido de combate à ditadura militar.

Em 1975, iniciou-se um novo período na história do PCdoB no Ceará com a vinda dos camaradas Gilse Cosenza e Abel Rodrigues enviados pela direção nacional para reorganizar o Partido, duramente atingido pela repressão. A eles se juntaram Benedito Bizerril e outros camaradas, compondo um núcleo que passou, em rigorosa clandestinidade, a organizar o trabalho de antigos e novos militantes que ingressavam nas nossas fileiras.

Neste período, a luta pela liberdade democrática, pela anistia ampla, total e irrestrita e pela convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte ganham espaço no estado. É fundado com a participação dos comunistas “o Multirão” jornal que se destacou na resistência democrática no Ceará. No final da década de 1970 o sindicato dos metalúrgicos, tendo à frente Francisco Gomes e Raimundo Guerreiro, realiza combativas e históricas greves em defesa dos direitos dos trabalhadores.

A conquista da anistia possibilita o avanço na luta democrática e a expansão das atividades do PCdoB nos movimentos sociais, destacando-se o movimento contra a Carestia e a fundação da FBFF, a reorganização do DCE na UFC tendo à frente jovens comunistas recém-filiados ao Partido.

Em 1985, quando o PCdoB conquista sua legalidade, o estado do Ceará perfila-se como um dos primeiros a registrar o comitê estadual e vários comitês municipais. Inicia-se uma nova e promissora fase de atuação dos comunistas no Ceará.

Em 2011, o PCdoB realizou sua maior Conferência Estadual, mobilizando mais de seis mil filiados em 154 dos 184 municípios do estado, tendo atuação marcante, persistente e permanente, em muitas e diversas frentes. No movimento sindical fomos a principal força na estruturação, a partir de 2008, da CTB. Dirigimos e participamos ativamente de dezenas de sindicatos no estado. A UJS é a organização política com maior destaque na atuação juvenil, organizada em dezenas de municípios. A UBM avança sua estruturação no estado, empunhando a bandeira da emancipação das mulheres e, a UNEGRO (União de Negros pela Liberdade), na luta contra a descriminação racial. Em Fortaleza e em várias cidades do interior temos forte presença no movimento comunitário. As diversas frentes de luta pelos direitos das pessoas, contra discriminações, em defesa do meio ambiente e cultura regional têm a participação dos comunistas. Somos um Partido com forte e crescente presença nos movimentos sociais, lutando pela sua unificação em torno de bandeiras transformadoras para o nosso país.

Temos hoje uma presença expressiva na frente institucional e eleitoral, em cargos executivos e em diversos níveis no parlamento. A partir da eleição Cid Gomes, em 2006, passamos pela primeira vez na nossa história a assumir responsabilidades no executivo estadual, ocupando a Secretaria de Saúde com João Ananias e agora com Arruda Bastos.

Em 2006, fizemos história ao eleger, ao lado de Cid, Inácio Arruda o primeiro senador comunista depois de Luis Carlos Prestes. Em 2010, elegemos pela primeira vez dois deputados federais, João Ananias e Chico Lopes, e um estadual, Lula Morais, e o nosso suplente Dr. Pierre, hoje no mandato, proponente da realização desta belíssima sessão comemorativa do 90 anos.

Nos 154 municípios em que estamos organizados, buscaremos com os partidos aliados a apresentação de candidaturas próprias em torno de 30 municípios. Entre estes, destacamos Fortaleza, onde apresentaremos a candidatura majoritária de Inácio Arruda. Procuraremos debater na campanha os desafios de uma cidade já com 2.500.000 habitantes, apresentando propostas concretas para diversas áreas, com o objetivo de construir uma cidade melhor para todos.

Lutaremos pela reeleição dos atuais prefeitos em Maranguape, Crateús, Potengi, Farias Brito (recém filiado ao Partido). No Graça, buscaremos dar continuidade à dinâmica gestão de nossa jovem prefeita Augusta Brito. Noutras médias e importantes cidades teremos candidaturas competitivas.

O nosso crescimento nas eleições municipais contribuirá para fortalecer a frente comprometida com o projeto de transformação e desenvolvimento comandado pelo governador Cid, para a sua continuidade e consolidação após 2014.

Nas demais 120 cidades, apoiaremos com toda a lealdade, seriedade e garra que caracterizam a militância do PCdoB, candidaturas majoritárias de outros Partidos como PSB, PMDB, PT, PDT, PRB, PP, PTB, PMN, PSC, PV, PHS e PSL.

É com o espírito de compromisso com o desenvolvimento do Ceará e do Brasil e o fortalecimento dos movimentos sociais em torno de uma plataforma de luta em defesa dos direitos do povo e do engrandecimento da nação, que nós comunistas cearense comemoramos os 90 anos de fundação do glorioso PCdoB. Temos a compreensão de que um Brasil forte, próspero, respeitado no mundo, com igualdade social e regional não é exclusividade de um só partido, e, sim, obra de uma frente de partidos unificados em torno de objetivos programáticos, tendo cada um a sua identidade e buscando o seu fortalecimento.

O PCdoB chega jovem, aos 90 anos com a cara do Brasil – do nosso povo – do operário – da juventude – da mulher trabalhadora e muito irá contribuir para o futuro do nosso Ceará e do nosso Brasil.

Viva o PCdoB
Viva a militância do PCdoB

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