A exclusão social disfarçada de inclusão

por Kátia Fonseca

Revira-me o estômago cada vez que vejo, leio, escuto ou apenas fico sabendo sobre “ações especiais para deficientes”. Sinto-me profundamente entristecida por ver que nossa sociedade ainda não mudou quase nada em sua forma de ver e perceber as pessoas com deficiência. Refiro-me às ações feitas– em geral – pelos parques de diversões, que escolhem um dia do ano para abrir, de graça, apenas para clientes com deficiência. Vejam bem: APENAS! E ainda chamam isso de inclusão social! Ora bolas, afinal de contas, é uma ação de inclusão ou de exclusão – já que “abre exclusivamente para pessoas com deficiência”?

Na minha opinião, é exclusão pura!

Se por mais não fosse, a exclusão se caracteriza por se impedir que crianças, jovens e adultos com deficiência compartilhem os brinquedos dos parques com outras pessoas que não possuam deficiência.

O critério para a ação benemérita do parque – e isso se estende a todas as outras ações beneméritas, que tanto acalentam a boa noite de sono dos(as) cidadãos(ãs) caridosos – deveria ser econômico e não a condição física das pessoas. Os parques – e os cinemas, e os teatros, e os museus etc, etc, – deveriam, sim, abrir esporadicamente, sem nada cobrar, àqueles que não têm dinheiro, independentemente do fato de terem ou não uma deficiência física, mental ou sensorial.

E ainda, para além desta ação benemérita, parques e qualquer outro centro de lazer e cultura que cobram – e muito bem! – por sua prestação de serviço, deveriam oferecer meios para que essas pessoas desafortunadas financeiramente pudessem mudar essa sua condição, promovendo cursos, debates, oficinas e (por que não?) oferecendo emprego. Mas esta é uma outra história.

Kátia Fonseca é jornalista, atriz e presidente do Centro de Vida Independente de Campinas (CVI-Campinas), entidade que defende os direitos das pessoas com deficiência.