Eleonora Rosset: As Neves do Kilimanjaro

Muitos anos separam as histórias de “Les Pauvres Gens” ou “Os Pobres”, conforme a tradução do poema de Victor Hugo (1802-1885), do filme “As Neves do Kilimanjaro”. Mas algo no poema, mexeu com o diretor de cinema francês, Robert Guédiguian e ficou em sua memória. Um dia, resolveu criar um roteiro que trouxesse para um filme seu um final semelhante ao imaginado pelo grande escritor francês do século XIX. E conseguiu.

Por Eleonora Rosset


Cena do filme As Neves do Lilimanjaro / foto: divulgação

Guédiguian e Victor Hugo tem muito em comum. “Les Misérables” ou “Os Miseráveis”, o grande romance francês, tem um tema que é explorado também pelo cineasta com ideias políticas de esquerda, em “As Neves do Kilimanjaro”, mas que são compartilhadas com os humanistas em geral, já que são valores que não podem desaparecer de nossa cultura.

O personagem principal de “Os Miseráveis”, Jean Valjean, um homem bom mas que ficou muito tempo na prisão, é perdoado por um roubo praticado em nome de uma necessidade premente e isso o coloca no rumo certo de sua vida.

“As Neves do Kilimanjaro” é um filme simples, direto e aparentemente comum. Mas há algo novo aqui. O filme discute com sobriedade a ética pessoal. Os valores que guiam a conduta de cada pessoa e que podem mudar ao longo da vida.

Na história, em Marselha, o sindicato dos pescadores faz um trato com os patrões e resolve sortear os empregados que serão demitidos por causa da crise financeira.

Michel (Jean-Pierre Darroussin, excelente), o diretor do sindicato que poderia ter retirado seu nome da lista, mas não o faz, é sorteado e demitido. Como ele está perto de se aposentar, será difícil encontrar um novo emprego.

A sorte dele é que sua mulher Marie-Claire (a ótima Ariane Ascaride) trabalha e não vai faltar nada para essa família, com filhos crescidos e que tem vida própria.

O casal comemora as bodas de prata e todos do sindicato comemoram com um grande bolo de “profitérolles” e uma surpresa: passagem e dinheiro para gastar em uma viagem à Tanzânia, sonho do casal, que adorava a música de Pascal Daneli que canta, numa balada romântica, as neves do monte Kilimanjaro.

Mas um roubo faz soçobrar esse sonho…

E vamos ver as diferentes reações das pessoas que são prejudicadas. Alguns reagem com raiva e querem justiça rigorosa, outros vão se abrir à compaixão, exercer a solidariedade amorosa e desfrutar da gratidão.

É certamente um filme que faz pensar e nos aproxima de uma esperança: a descoberta do amor ao próximo.

* é psicanalista

Ficha técnica
“As Neves do Kilimanjaro”- “Les Neiges du Kilimandjaro”
França, 2011
Direção: Robert Guédiguian

Em cartaz desde o dia 6 de abril em diversos cinemas do país. Em São Paulo na sala 9, de sexta a quinta, desde às 14h, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca, R. Frei Caneca, 569, 3º piso, Consolação, Telefone: 11 3472-2359. Ingresso: R$ 16 a R$ 22. Desc. 50% para correntistas do Itaú; também na sala 4, de sexta a segunda, quarta e quinta: 15h20 e 19h25.
terça: 15h20, no Reserva Cultural, av. Paulista, 900, térreo, Bela Vista, Telefone: 3287-3529, ingresso: R$ 17 a R$ 24 (Cine-Club: R$ 5, inclui café da manhã a partir das 9h).

Veja o trailer abaixo:

Fonte: Blog do Zé