Gesto de pedestre com a mão não pegou após um ano de campanha

O acenos para que os carros parem (e cumpram a legislação) é pouco usado e pouco respeitado nas ruas paulistanas. Uma pesquisa mais recente mostra que 74% dos motoristas ignoram faixas de pedestres.

Um ano após o lançamento da campanha de proteção ao pedestre na cidade de São Paulo, o motorista ainda não respeita o aceno de quem quer atravessar a rua a pé. O pedestre tampouco recorre ao gesto de estender a mão para que os veículos parem.

A campanha foi lançada primeiro na região central e teve propaganda na TV, contratação de monitores de travessia e até mímicos. As multas começaram em agosto.

"A gente para pro pedestre e os outros buzinam atrás, falta fiscalização. E tem uns que usam a mãozinha em lugar errado, quando o semáforo está verde ou atravessando no meio da rua, fora da faixa. Ficou perigoso, as pessoas acham que a mãozinha vai resolver", afirma o taxista Gilberto Carlos dos Santos.

Para José Eduardo Daros, da Associação Brasileira de Pedestres, o gesto deveria ser voluntário. "Senão você cria um precedente perigoso: quem não levantar a mão vai ser atropelado. Lá fora todos respeitam o simples ato de colocar o pé na rua", afirma.

O desrespeito é confirmado por pesquisas feitas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) em três esquinas do centro, onde a campanha começou.

Uma contagem em abril mostrou que em 74% dos casos o motorista não respeita a faixa, índice que era de 90% no começo do programa.

E, ao mesmo tempo em que 95% dos motoristas afirmaram que têm respeitado mais os pedestres, só 57% destes disseram ter percebido isso.

"Como toda mudança cultural, é um processo de adesão progressiva", afirma Luiz Carlos Néspoli, um dos responsáveis pela implantação da campanha. Segundo balanço de março, já foram aplicadas 171 mil multas.

Para Daros, "a campanha é positiva, mas se ateve muito à questão da faixa. O controle da velocidade ficou de fora, e é o fator principal". Ele defende também que seja dada atenção às ruas de bairro, que considera hoje mais perigosas que os corredores.

A meta da campanha é reduzir as mortes de pedestres em 50% até o fim do ano. O último dado divulgado, de janeiro, apontou queda de 37% no centro e 8% na cidade.

Em Santos, no litoral sul de São Paulo, uma campanha semelhante no mesmo período resultou em queda de 60% nas mortes -de 20 para 8. Por lá o uso da mãozinha pegou.

Já em sete cidades do ABC Paulista, onde a campanha começou no fim do ano passado, os atropelamentos já caíram 14%. Não há dados sobre pedestres mortos.

Fonte: Folha de S. Paulo