Chile: mais de 100 mil estudantes voltam às ruas por educação

Mais de 100 mil estudantes chilenos se mobilizaram, nesta quarta-feira (16), em Santiago e outras cidades do país para protestar por uma ampla reforma educativa e tributária. Os jovens, que em 2011 lideraram uma onda de 6 mil protestos sociais, marcharam por várias ruas da capital e regiões, repetindo o cenário que derrubou em 40 pontos a popularidade do presidente Sebástian Piñera no ano passado. O presidente conta com apenas 24% de apoio — índice mais baixo desde o retorno à democracia.

Gabriel Boric: "Não marchamos porque gostamos, mas porque temos convicções
profundas"/ Foto: Acervo pessoal

Os estudantes voltaram a pedir uma educação superior gratuita e de qualidade, exigiram também a reincorporação dos estudantes secundários expulsos por terem participado dos protestos do ano passado.

“Continuaremos sendo rebeldes, queremos transformar tudo e não vamos parar até que este sistema mude. (…) Não marchamos porque gostamos, mas temos a convicção de que a educação é um direito social que deve ser garantido pelo Estado. Saímos às ruas com alegria, mas também com muita impotência de ver como depois de um ano de mobilização não avançamos. A educação no Chile segrega, devemos recuperar nossa capacidade de indignação sobre este tema”, discursou à multidão o presidente da Federação de Estudantes do Chile (Fech), Gabriel Boric.

O líder universitário exigiu a destinação de 5 milhões de dólares para a educação e voltou a questionar que no Chile grande parte da educação escolar e universitária esteja administrada por empresas e reforçou que ainda há estudantes secundários que têm sua matrícula cancelada por participar do movimento estudantil.

“Não deixaremos que continuem passando por cima de nós. Marchamos porque temos convicções profundas: uma reforma tributária que redistribua a riqueza do país e não este ajuste feito na medida para os ricos, para poder financiar uma reforma que compreenda a educação como um direito”, disse Boric.

Perpetuação das desigualdades

No Chile, país com um PIB per capta de 16 mil dólares, o sistema educacional repete as iniquidades sociais e de distribuição da renda.

O porta-voz dos estudantes chilenos ressaltou que a reforma tributária anunciada pelo governo como via de financiamento para a educação é apenas um ajuste que voltará a beneficiar os mais ricos do Chile. “Pedimos uma reforma tributária que redistribua a riqueza a todo o país para ter uma reforma educacional que conceba a educação como um direito social universal”, ressaltou Boric.

Na média chilena, os jovens pobres de até 24 anos não terminam a educação escolar e, em comparação, os mais ricos seguem a formação superior. Esses resultados influenciam a vida dos jovens. Os que só terminam o colégio, recebem salários de 600 dólares, enquanto os com formação universitária recebem 2.500, segundo dados do governo.

A oposição, que governo o Chile por 20 anos também sofre com o descontentamento cidadão nas pesquisas de opinião. A única que escapa dessa má avaliação é a ex-presidente socialista, Michelle Bachelet, que tem mais de 50% das preferências quando se pergunta quem será o próximo presidente do Chile.

Da Redação do Vermelho,
com informações de agências