Otan em crise: “a guerra no Afeganistão está acabando”

Em Chicago, nos EUA, o show acabou, e a luz se apagou. A reunião da Otan, organização que está sempre se reformulando e buscando grandes “causas humanitárias” para se manter viva, terminou com uma decisão e com declarações quase cínicas sobre o fim da guerra no Afeganistão. Sim, decidiu-se assim, de repente, que a guerra está acabando.

Por Moara Crivelente*

Há pouco tempo, a postura da Otan ia totalmente em outra direção. Passar o comando das operações militares, da manutenção da segurança e das forças policiais aos afegãos foi sempre um drama e um espetáculo, acompanhados de declarações bastante complexas, enfeitadas por termos estratégicos e por valores políticos que, até hoje, não parecem existir efetivamente em nenhuma parte. Os níveis de corrupção, clientelismo, “extremismo”, a falta de um “Estado de Direito”, entre muitos outros predicados juntados à descrição do Afeganistão foram a justificação aberta da manutenção das tropas da Otan no país por mais de dez anos.

Mas a crise chegou; os membros da Otan estão sendo pressionados pelos seus cidadãos a cortar os gastos militares, a reduzir o número de efetivos das suas Forças Armadas e, claro, a pensar no dano causado àquele país, lá, na Ásia Central. A estratégia não funcionou, como muitos críticos já previam, mas os defensores mais empenhados da Otan parecem otimistas com a transição do poder às autoridades afegãs. Assim, de repente, apesar de um consenso sobre a decisão não ter sido encontrado, lá em Chicago, afinal, a Otan também não podia deixar de criticar a capacidade – ou suposta falta de capacidade – afegã para garantir a segurança da população de uma vez. Com que população a Otan está realmente preocupada, também é uma pergunta ainda não esclarecida.

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) é outra das que pressionam os países ocidentais em crise, com previsões bastante pessimistas relacionadas à Europa, por exemplo. Segundo a organização, 17 países europeus terminarão 2012 com ainda maiores níveis de desemprego, e o crescimento será menor do que o previsto anteriormente, de 3,4%, sobretudo pela entrada da zona do Euro e do Reino Unido na recessão.

Dessa vez, quem está flanqueado é o Ocidente, que se viu obrigado a tomar decisões para retirar totalmente as suas tropas do Afeganistão até o fim de 2014, “passando o comando” às autoridades locais – até então “sem capacidade” para comandar, pelo visto. Assim como a crise é cíclica e se repete praticamente inalterada uma e outra vez, as intervenções militares desse gênero, também.

*Moara Crivelente é formada em Relações Internacionais e está cursando o Mestrado em Comunicação dos Conflitos Internacionais Armados e dos Sociais na Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha.