Como urubu em cima da carniça, Berlusconi tira proveito da crise

Em mais uma declaração polêmica, o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi voltou às manchetes. O político, que teve seu governo marcado por sexo e denúncias de corrupção, sugeriu que a Alemanha "talvez devesse abandonar o euro". Também colocou em xeque a confiabilidade do primeiro-ministro Mario Monti. Tudo leva a crer que aproveita o momento para se promover. A imprensa internacional indaga: seriam simples declarações de um "bilionário senil" ou estaria pensando seriamente em retornar ao poder?

Nesta semana, em Roma, Monti e Berlusconi se sentaram a uma mesa com alguns aliados próximos para esclarecer as declarações recentes, de Berlusconi, que hora foram ameaçadoras, hora foram confusas. Monti pediu explicações. Segundo a imprensa local, ele pretende "implorar" à Alemanha, e a outros países membros da zona do euro situados no norte do continente, durante a cúpula da União Europeia, em Bruxelas, que fizessem concessões aos países europeus meridionais, atingidos em cheio pela crise econômica. Não será uma tarefa difícil.

Monti, que ressaltou ao ex-premiê italiano que neste momento o parlamento de seu país precisa apoiar o governo, ouviu de Berlusconi palavras tranquilizadoras, que ele e o seu partido apoiarão Monti devido a um "senso de responsabilidade", embora quase 80% dos eleitores sejam contrários a apoiar Monti.

Depois, Berlusconi seguiu diretamente para o parlamento e fez declarações de paz aos jornalistas: "Nós comemos bem". Mas, seu tom aos parlamentares foi diferente, afirmando ter achado os planos de Monti "confusos". Porém, seguiu reafirmando que é preciso continuar apoiando Monti, em uma cena política. Berlusconi alega ter "falado com Bruxelas", e acrescenta que autoridades de lá lhe disseram que se Monti cair, isso será uma "catástrofe".

Berlusconi foi mais além e fez uma ameaça velada a Monti, afirmando que se este não conseguir persuadir a chanceler alemã a mudar de rumo na cúpula de Bruxelas, ele, Monti, será responsabilizado por isso. E isso significaria uma nova eleição em outubro.

"Mas o que está acontecendo? Será que tudo isso não passaria do balbuciar senil de um bilionário de quase 76 anos de idade, que foi obrigado a deixar o cargo totalmente desmoralizado em novembro do ano passado? Ou estaria Berlusconi cogitando seriamente retornar ao poder?", afirma o Der Spiegel.

"Me deem 51% dos votos e eu tirarei o nosso país da crise", disse Berlusconi alguns dias atrás em uma reunião da juventude do seu partido, o Liberdade do Povo, aplaudido de pé por seus correligionários. Tirem suas próprias conclusões.

Alemanha

Aos descontentes de seu partido, Berlusconi propôs um temerário modelo alternativo para a política europeia: uma zona do euro sem a Alemanha, "o país que bloqueia tudo", sugerindo também como solução para a crise que o Banco Central Europeu socorra outros países "carentes de capital".

Como se vê, a crise está evidenciando as contradições entre os representantes políticos dos monopólio imperialistas.

Com Der Spiegel publicado no UOL