Fernando Cesarotti: Para lavar a alma

Foram 12 anos sem disputar uma final de competição importante. Foram anos seguidos de derrotas e frustrações, uma acumulação de vexames e humilhações, um sentimento de que estávamos virando um time pequeno e de que seria impossível convencer o Davi de que valia a pena seguir o exemplo do pai e torcer para esse time de verde.

Por Fernando Cesarotti, no blog Impedimento

Acabou. Acabou? Não sei, pode ser um simples sonho de uma noite de inverno, um título esparso e isolado entre dois jejuns, mas, por ora, é isso o que importa: sim, acabou. O Palmeiras é campeão da Copa do Brasil de 2012, volta a se isolar como o maior campeão nacional na soma de todas as competições, garante vaga na Libertadores de 2013 e, ora viva, me leva às lágrimas e me mostra que vale a pena insistir – mesmo que isso me custe ter de comer sabão (explico depois).

Houve alguns minutos, é fato, em que eu achei que tudo ia para o saco. Foram aqueles quatro minutos entre o gol de Ayrton, numa bela e milimétrica cobrança de falta, e o de Betinho, com a assinatura de Marcos Assunção, ídolo e dono de um Palmeiras que nem de longe lembra as Academias que enchiam os olhos dos torcedores, mas que fez por onde nesta noite para dar-nos uma alegria enorme.

Betinho, improvável herói que havia sido execrado pelos palmeirenses (eu, inclusive) no primeiro tempo, ao perder sozinho um gol que poderia ter matado o jogo. Que assinou um contrato-tampão de três meses, e que foi alçado à condição de titular na decisão por conta da APENDICITE que minou o grande Pirata Barcos. E que virou ídolo, rei e novo Evair por conta de um simples desvio DE ORELHA na bola.

Improvável herói de um campeão tão improvável quanto, vitimado por seqüestro relâmpago, apendicite, lesões musculares, entorses no tornozelo e até cãibras. Atrapalhado por uma diretoria burra e incompetente, que escondeu ingressos de seus próprios torcedores, que contrata mal e deixa disputas internas atrapalharem o desempenho do time em campo.

Improvável título de um técnico dito como ultrapassado e caro, mas que, inegável, entende muito do riscado. Eu mesmo me questionei no ano passado se deveríamos mantê-lo para este ano, decisão que se mostrou acertada – e um título que compensa cada centavo pago a Scolari, esse monstro em forma de técnico, com tantos títulos na Copa do Brasil como os clubes mais campeões.

Ao fim do jogo, eu chorei. Pouco, mas chorei. Derramei algumas lágrimas em memória do meu tio-avô e padrinho Thomaz, que subiu pro andar de cima há dois anos e pouco e impulsionou o amor de um pequeno guri pelo verde. Lembrei de seus filhos, o Paulo e o Neto, que, à distância, cada um em sua casa, celebraram comigo esse título. Lembrei do meu pai, que não era palmeirense, mas que se alegrava com a alegria dos filhos, e hoje estaria feliz por mim.

Falei acima da Libertadores, mas, sinceramente, não quero pensar nela agora. A diretoria que o faça, que planeje um time, que crie estratégias pra ganhar dinheiro, que decida com a cabeça e não o coração se é certo renovar com Scolari. Eu, como torcedor, por enquanto só quero comemorar. O Palmeiras é campeão da Copa do Brasil de 2012 e eu, agora, só tenho uma missão: descobrir se existe alguma coisa que torne sabão de coco digestível.

Sobre o sabão, no começo do ano o amigo Douglas Beretta escreveu no Twitter: “O Palmeiras será campeão da Copa do Brasil.” E eu, descrente como todo palmeirense deve ser, cravei: “Se isso acontecer, como uma barra de sabão de coco com farinha de milho.” Promessa é dívida: cumprirei e filmarei. Aguardem.