Globo é o túmulo do jornalismo, mas Collor é uma lição de vida

Há pouco que falar sobre a extensa matéria do Fantástico que promoveu um massacre de injúrias e difamações contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello no último domingo. Aliás, além de xingar e difamar, a Globo pode ter dado curso a calúnias.

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania

Mas esse não é o aspecto mais importante daquele quadro em um programa que vai ao ar no horário mais nobre da televisão brasileira. O mais importante é o que havia de jornalismo e o que houve de pura vingança e de uma intimidação que não se resume a Collor.

O que foi, diabos, que a Globo trouxe de novo? Jornalismo é notícia, ao menos no formato imposto àquela matéria. Que notícia a Globo deu? Que Collor é macumbeiro? Isso o falecido irmão dele disse há mais ou menos 20 anos e foi objeto de especulações por muito tempo.

A maioria das pessoas não sabe o que ocorreu naqueles anos 1990 porque ainda há mais jovens do que de maduros no Brasil. E o que ocorreu àquela época, hoje perdeu todo o sentido.

Collor foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal e foi absolvido. Se por inépcia da acusação, da promotoria, como foi dito, não importa. Se fosse condenado, a condenação seria usada sem dó nem piedade; é justo que a absolvição tenha o mesmo peso que a condenação.

Um parênteses: pelo que a Globo fez com Collor, pode-se prever o que fará se os acusados principais no inquérito do mensalão (leia-se José Dirceu em primeiro lugar) forem absolvidos…

Então, a reportagem do Fantástico sobre Collor não serviu para nada. Requentou um caso que já se perdeu nos desvãos da história. E o mais interessante é que quem requentou esse escândalo é a mesma mídia que diz que a Privataria Tucana ocorreu já faz “muito tempo”.

Ah, mas Rosane Collor confirmou alguns cafés da manhã entre Collor e PC Farias antes de eclodir o escândalo. E daí? PC foi caixa da campanha de Collor à Presidência. Não tem relevância alguma essa informação. Jamais terá consequência.

Não havia razão para a Globo trazer esse assunto à tona depois de tanto tempo. Collor fazia macumba, é? Quanta socialite ou dona de casa ou pai de família ou estudante ou empresário não faz seus “trabalhos”?

Em minha opinião, aliás, a Globo deu um tiro no pé, porque “trabalhos” com “animais mortos” estão por toda parte, neste país, e ninguém fica chamando de “magia negra”.

Ridículo, estapafúrdio, arcaico, fundamentalista… É criminalização religiosa, aliás. Daqui a pouco o PIG vai pregar a formação de uma força policial para prender qualquer pai de santo que matar uma galinha e colocar numa cesta com velas, fitas etc. numa encruzilhada.

Aliás, a criminalização da elite a certos cultos religiosos mal identificados com a cultura afro remonta aos primórdios da colonização brasileira. Mas o mais gozado é que nessa própria elite há muita gente fazendo seus “trabalhinhos”.

Alguma novidade, até aqui? Não é o que se diz à larga na Blogosfera e nas redes sociais, que a Globo e seus congêneres são o túmulo do jornalismo? Além de usar uma concessão pública para suas vendetas pessoais, a emissora da família Marinho ainda a usou para intimidação criminosa de membros da CPI do Cachoeira que pensem em incomodar a Veja e a própria Globo.

Resta saber qual será o prejuízo de Collor. Particularmente, penso que seu eleitorado não esteve e nem estará nem aí para o ataque que a Globo lhe fez.

Os setores que se impressionaram com as caras e bocas de “espanto” da entrevistadora Renata Ceribelli diante das “revelações” da esposa ressentida e gananciosa de Collor, que deixou ver que fez tudo aquilo porque a amiga ganha R$ 40 mil de pensão do ex-marido e ela ganha “só” R$ 18 mil, já não gostavam dele antes.

Grave, porém, é o uso de concessão pública para um ataquezinho político rasteiro, maledicente, burro e preconceituoso.

Em qualquer país civilizado e desenvolvido, os irmãos Marinho sofreriam um questionamento pelos órgãos de controle da mídia que funciona sob concessão do Estado. Contudo, estamos no Brasil e deve ficar tudo por isso mesmo.

Agora, convenhamos: que lição de vida representa o que a Globo fez com Collor, hein. Ele recebeu de volta exatamente aquilo que fez com Lula em 1989 – levou sua ex-namorada Miriam Cordeiro para injuriá-lo e difamá-lo na TV.

A ironia do destino é sempre surpreendente. A vida supera a arte. É ampla a quantidade de chavões que cabe usar. Nem se tivessem escrito um romance em que, mais de vinte anos depois, o feitiço se viraria contra o feiticeiro, a cena teria sido tão irônica.

Essas pessoas que aplicam esse tipo de golpe baixo nos desafetos, com ataques pessoais de natureza miseramente maledicente e geralmente sob armações, deveriam refletir muito…

Dado o que há de surpreendente em Collor ter sido vítima da mesma baixeza que praticou, seria demais cogitar que aqueles que, na Globo, engendraram essa vingançazinha tola, baixa, mesquinha e burra poderão, um dia, ser vitimados por gente igual a si?