Itaipu: 80 funcionários contratados no governo Lugo são demitidos

O novo diretor paraguaio da usina hidrelétrica binacional de Itaipu, Franklin Boccia, anunciou nesta sexta-feira (20) a demissão de 80 funcionários da empresa, todos eles contratados ainda sob a administração do presidente deposto Fernando Lugo . Segundo o jornal paraguaio ABC Color, outros 120 nomes de trabalhadores na mesma condição constam em uma nova lista de dispensa a ser anunciada a médio prazo.


Itaipu/ Wikimedia Commons

O dirigente afirma que o corte tem unicamente o objetivo de redução de custos. No entanto, membros da Frente Guasú alertam que a medida faz parte de uma perseguição política a pessoas que se dizem simpatizantes ao governo deposto. Lugo já havia alertado no início do mês, em uma nota oficial, que o novo governo paraguaio planejava demissões em massa visando principalmente funcionários taxados como apoiadores do antigo governo – 300 delas somente em Itaipu.

A hidrelétrica de Itaipu pertence aos governos do Brasil e do Paraguai. Tanto a diretoria-executiva quanto o Conselho de Administração da empresa tem seus membros indicados em mesma quantidade e para cargos equivalente pelos dois governos e, mesmo trabalhando juntos na área técnica, os funcionários de cada país respondem a setores administrativos separados. Ou seja, a medida não afeta em nada os funcionários brasileiros, que são em menor número (aproximadamente 1.440, contra 2.070 paraguaios antes dos cortes).

Custos

Segundo Boccia, os cortes na administração paraguaia já estavam previstos, e a contraparte brasileira estaria a par da situação. “Demitir os últimos [funcionários] que entraram sai mais barato para a empresa”, justificou Boccia em entrevista à rádio paraguaia 780 AM.

O diretor afirmou que os trabalhadores dispensados receberão “até o último centavo” do que lhes é de direito e que as demissões acarretarão em uma economia anual de quatro milhões de dólares (8,1 milhões de reais).

Segundo o ABC Color, a maior parte dos demitidos faz parte do corpo paraguaio da Fundação PTI (Parque Tecnológico de Itaipu), que administra o pólo científico e tecnológico de mesmo nome, e alguns teriam sido contratados na semana em que Lugo foi deposto (22 de junho).

Pouco depois que Boccia assumiu a direção da binacional, há menos de um mês, outros 16 funcionários comissionados ligados à Presidência da República foram demitidos – medida, segundo afirma o dirigente, que resultou em uma economia de 81 mil dólares (163 mil reais). Segundo o diretor, o objetivo é reduzir a quantidade de funcionários de 2.070 para 1.800 do lado paraguaio. “Não vai ocorrer de uma hora para outra, farei [os cortes] de forma gradual”.

Boccia disse que, após sua nomeação como diretor, foram contratadas apenas cinco pessoas de sua confiança na usina os cargos vagos não serão repostos.

Perseguição

No entanto, Ricardo Canese, secretário-geral da Frente Guasú (coligação progressista que apoia Fernando Lugo), afirma que o que tem de fato ocorrido é um plano de demissão em massa de funcionários públicos e de outras entidades de pessoas apontadas como “simpatizantes da FG, ou simplesmente esquerdistas ou luguistas”.

A afirmação corrobora uma nota oficial divulgada no último dia 10 por Fernando Lugo, denunciando ameaças e atos de violência que estariam sendo cometidos pelo regime do novo presidente Federico Franco, além de prever as demissões em massa de pessoas que, segundo ele, foram apontadas como seus apoiadores.

Na ocasião, de acordo com a nota, trabalhadores do Senave (órgão de controle das sementes) e da hidrelétrica de Itaipu seriam demitidos por suas posições políticas. “Na Itaipu Binacional, o sindicato controlado por Honor Colorado, em aliança com o atual diretor geral paraguaio, dirigente do PLRA, anunciou a demissão de 300 funcionários sob a acusação de serem ‘esquerdistas’.”

"Eles não somente violaram princípios fundamentais do direito para poder implementar um julgamento político arranjado [que resultaram no impeachment], como continuam as ilegalidades com perseguições e atentados contra a pessoas que resistem pacificamente e buscam amedrontar os dirigentes políticos que não vacilaram na defesa da democracia paraguaia", ressalta o presidente deposto.

Listas

Na noite desta sexta-feira (19), dois deputados aliados ao novo governo pediram à Câmara paraguaia uma lista com nomes, dados pessoais, cargos e salários de todos os funcionários de Itaipu e da hidrelétrica binacional de Yaciretá, esta administrada por Paraguai e Argentina, discriminando os funcionários contratados dos comissionados.

Fonte: Opera Mundi