Atletas fazem campanha em Londres por desaparecidos políticos

Atletas e treinadores da Argentina que disputam os Jogos Olímpicos de Londres lançaram uma campanha publicitária – em parceria com a entidade de defesa de direitos humanos Avós da Praça de Maio – para identificar filhos de desaparecidos políticos durante o regime militar no país (1976–1983).

A entidade estima que mais de 500 crianças tiveram a identidade trocada durante a ditadura argentina, após terem sido sequestradas por militares. 105 pessoas já tiveram sua verdadeira identidade revelada com o apoio das Avós da Praça de Maio.

A campanha, batizada de “Los Olímpicos junto a las Abuelas” (Os atletas olímpicos com as avós), foi gravada pouco antes do embarque da delegação argentina para os Jogos, segundo informações da BBC Brasil. O slogan do material é: “Todo esforço vale a pena por um neto recuperado”.

Na mensagem, integrantes da delegação argentina falam de forma didática sobre o que ocorreu no período militar. “Queria te contar que houve uma ditadura na Argentina que roubou centenas de bebês. Hoje eles são adultos, na casa dos 30 anos. Cerca de 400 pessoas ainda não conhecem suas verdadeiras identidades. Se você conhece alguém que possa ser filho de desaparecidos políticos ou se você tem dúvidas sobre sua própria identidade, procure as Avós da Praça de Maio. Estamos te esperando”.

Participam da propaganda Carlos Retegui, técnico da equipe feminina de hóquei sobre grama, o lançador de dardo Braian Toledo, o jogador da seleção de vôlei Facundo Conte, a judoca Paula Pareto e o velejador Julio Alsogaray. Pareto, Conte e Toledo nasceram nas décadas de 80 e de 90, quando a Argentina já vivia um regime democrático.

Não é a primeira vez que as Avós da Praça de Maio envolvem atletas em suas campanhas para localizar os filhos de desparecidos da ditadura militar. Em diferentes ocasiões e eventos esportivos, como em partidas decisivas do campeonato de futebol argentino, os jogadores entraram em campo com a faixa: “Vos sabes quién sos?” (Você sabe quem é? Procure as Avós da Praça de Maio).

A entidade possui um banco de dados que permite a identificação biológica de filhos de desaparecidos políticos. Para as Avós, que são mães de desaparecidos e que também procuram os netos, os sequestros eram planejados e ocorriam, muitas vezes, logo após o nascimentos dos bebês em pleno cativeiro.

Condenação

No início de julho, os ex-ditadores Jorge Rafael Videla, de 86 anos, e o seu sucessor, Reynaldo Bignone, de 84 anos, foram condenados pelo roubo de bebês durante os seus regimes. Videla (que governou entre 1976 a 1981) foi condenado a 50 anos de prisão, Bignone (1982-1983) a 15 anos.

Além dos dois ditadores, outras nove pessoas também foram condenadas, entre eles Antonio Vañek, que pegou 40 anos de cadeia e Jorge “El Tigre” Acosta, condenado a 30 anos. A única mulher do grupo, Inés Susana Colombo, teve a pena mais branda: cinco anos de detenção.

Fonte: Jornal da Tarde