Reino Unido não congelou dinheiro de Mubarak‎ e aliados

Dezoito meses depois da queda do regime de Hosni Mubarak no Egito, as fortunas dos principais políticos do antigo governo, condenados por desvio de dinheiro público, permanecem intocadas pelas autoridades britânicas apesar de sanções impostas mundialmente.

Esta foi a descoberta de uma investigação conduzida pela rede BBC em Árabe, divulgada nesta segunda-feira (3) em conjunto com o jornal britânico The Guardian e o árabe Al Hayat. O relatório revelou que o Reino Unido não aplicou as penas estabelecidas e permitiu a estes egípcios continuarem com seus negócios milionários no país.

A partir dos registros de empresas e de propriedades nos departamentos públicos, os pesquisadores identificaram dezenas de ações e recursos financeiros relacionados à família de Mubarak e a seu círculo político no solo britânico que não foram congelados e continuam ativos.

Em um dos casos citados, um importante funcionário da ditadura, cujo nome configura na lista de sancionados do Tesouro Britânico, estabeleceu há poucos meses uma empresa baseada em Londres.

As revelações colocam o governo britânico em uma situação delicada perante o povo e as autoridades egípcias, pois os ministros haviam se comprometido a rastrear e a devolver os fundos ilícitos tirados do cofre do Egito. Há 17 meses, William Hague, secretário das Relações Exteriores, chegou a prometer uma “ação firme, decisiva e rápida”.

O governo de transição egípcio, logo após a queda de Mubarak, solicitou às autoridades ocidentais que congelassem os recursos de antigos membros governistas acusados de desviar dinheiro público, aplicando-o em propriedades e empresas estrangeiras. A nova administração do país pediu que os governos externos devolvessem os milhões de dólares ao Egito.

Apesar de ter concordado com o pedido das autoridades egípcias, o governo britânico demorou 37 dias para aplicar as sanções – o que, segundo críticos, pode ter permitido a liquidação e a transferência dos fundos ilícitos.

“Este é um crime coletivo tanto do governo britânico quando do egípcio”, afirmou Mohamed Mahsoob, investigador público que liderou os inquéritos sobre os “bilhões roubados” do Egito. “A Grã-Bretanha é um dos piores países no que se trata de localizar e congelar os ativos… O que só pode ser em detrimento da nação egípcia”, acrescentou.

Enquanto que a Suíça congelou cerca de 500 milhões de libras esterlinas, o Reino Unido congelou menos de 200 milhões de libras esterlinas e não devolveu nenhum centavo ao Egito, informou o The Guardian.

Enquanto isso, aproximadamente metade da população do Egito vive abaixo da linha da pobreza e o governo do país pediu empréstimo de 3 bilhões de libras esterlinas para o FMI.

Fonte: Opera Mundi