Al-Qaida, os Talibã e as eleições presidenciais nos EUA

Al-Qaida no Waziristão Norte, Al-Qaida na Península Arábica, os Neo-Talibã do Afeganistão e Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP) estão acompanhando de bem perto a campanha eleitoral nos EUA.

Por Bahukutumbi Raman*, no Eurasia Review

Embora tenham elevado o tom da retórica contra o presidente Barack Obama, não estão ainda decididos sobre se seria de seu interesse trabalhar pela derrota de Obama aumentando o número de atos terroristas na região do Af-Pak e na área de Iraque-Síria-Líbia.

É alto o nível de revolta contra Obama em todos esses grupos. Deve-se ao aumento no número de ataques de drones contra a Al-Qaida e os Talibã na área dos Waziristões depois que Obama assumiu a presidência; ao assassinato de Osama bin Laden numa operação especial em Abbottabad na noite de 1º de maio de 2011; ao assassinato de Abu Yahya al-Libi, clérigo líbio e mentor religioso da Al-Qaida, num ataque de drones no Waziristão dia 4 de junho passado; ao assassinato de Anwar al-Awlaki, líder da Al-Qaida na Península Árabe, cidadão norte-americano de origem iemenita, num ataque de drones no Iêmen em setembro 2011; e a os EUA terem-se recusado a tomar medidas judiciais contra o produtor do filme anti-Islã cuja divulgação disparou uma onda de protestos, alguns violentos, de muçulmanos, em vários países.

A revolta, na Al-Qaida, contra Obama, era visível em duas recentes mensagens da Al-Qaida. Uma vídeo-mensagem de Ayman al-Zawahiri, emir da Al-Qaida, distribuída dia 10 de setembro de 2012, referia-se a Obama como mentiroso eleito para “trair” muçulmanos em todo o mundo, o qual, contudo, “está sendo derrotado no Afeganistão”.

Declaração distribuída pela Al-Qaida na Península Arábica depois do ataque ao consulado dos EUA em Bengazi, na Líbia, dia 11 de setembro de 2012, que resultou na morte do embaixador dos EUA na Líbia e de outros três cidadãos norte-americanos, dizia:

O assassinato do Xeique Abu Yahya só aumenta o entusiasmo e a determinação dos filhos de Omar al-Mukhtar (herói da independência da Líbia) para buscar vingança contra os que atacam nosso Profeta. O levante de nosso povo na Líbia, Egito e Iêmen contra os EUA e suas embaixadas é aviso, para alertar os EUA de que a guerra que fazem aqui não é guerra contra grupos ou organizações, mas contra toda a nação islâmica que se rebelou contra a injustiça.

Conclamava a novas manifestações violentas contra embaixadas dos EUA no Oriente Médio e na África; e conclamava muçulmanos no ocidente a atacar interesses dos EUA em seus países de residência. “Que a expulsão de embaixadas e consulados leve à libertar as terras árabes da hegemonia e da arrogância dos EUA” – dizia o texto da declaração. O líder da Al-Qaida na Península Arábica é Nasser al-Wahishi.

Também a Al-Qaida no Paquistão e os neo-Talibã no Afeganistão subiram o tom da retórica contra Obama. Conclamaram para protestos contra o filme norte-americano e têm promovido maior número de atos e demonstrações de violência no Afeganistão e no Paquistão. Mas, simultaneamente, ainda não parecem seguros de que a derrota eleitoral de Obama nos EUA lhes interesse diretamente. Por mais que detestem Obama, ainda não sabem o que esperar de novas políticas de Mitt Romney em questões como ataques de drones, presença maior ou menor de tropas norte-americanas no Afeganistão e a inclusão de elementos moderados dos neo-Talibã num futuro governo em Cabul.

Para eles, Romney é elemento imprevisível, cujos planos sobre a retirada das tropas dos EUA, do Afeganistão, ainda são desconhecidos. Os EUA já completaram a retirada dos soldados “extra” enviados para o Afeganistão na “avançada” [“surge”] ordenada por Obama logo depois de assumir a presidência. Os locais têm motivos para esperar que Obama, se for reeleito, continue a reduzir o número de soldados em campo, o que muito interessa aos Talibã e à Al-Qaida.

Também no caso da Al-Qaida na Península Arábica, que controla as operações da Al-Qaida no Iêmen, Arábia Saudita, Líbia e Síria, a política de “mudança de regime” de Obama, que patrocina intervenções estrangeiras na região, tem-se mostrado útil e ajudado a reforçar as posições do grupo nas áreas conflagradas. Nesse caso, o que o grupo teme é que Obama, se for reeleito, aumente o número de ataques contra a Al-Qaida na Península Arábica, como aumentou contra a Al-Qaida na região do Af-Pak, logo que assumiu pela primeira vez a presidência, em 2009.

Ao mesmo tempo em que têm conclamado a uma intensificação das atividades anti-EUA, todas essas organizações têm evitado atos de revide desproporcional contra cidadãos norte-americanos ou contra interesses norte-americanos, entendendo que atos de revide desproporcional poderiam mover a opinião pública dos EUA contra Obama. Tudo indica que, ao mesmo tempo em que mantêm alto o tom retórico contra Obama, todos esses grupos estejam evitando ações que possam vir a reforçar o voto anti-Obama nos EUA.

*B. Raman é Secretário Adjunto (aposentado) do Gabinete de Governo da Índia. Atualmente é diretor do Instituto para Estudos Tópicos e sócio do Chennai Centre For China Studies, Índia.

Fonte Redecastorphoto. Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu