Luiz Carlos Azenha: Obama “de esquerda” vence o debate por pontos

Vi ao vivo os dois debates entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos. O de ontem à noite pela Fox News. No primeiro Obama estava sonolento, abatido e desatento. Foi nocaute do republicano Mitt Romney. Nesta terça-feira (16), Barack venceu por pontos.

Por Luiz Carlos Azenha, em seu blog

Obama vs Roomney - Reuters

O formato do segundo debate foi agradabilíssimo. Depois de engessarem continuamente os confrontos, atendendo aos ditames de marqueteiros e assessores políticos, os norte-americanos fizeram uma inflexão pela liberdade de movimento e de atuação dos candidatos. Os perguntadores desta terça-feira (16) representavam todos os segmentos da sociedade estadunidense e houve vários momentos de debate direto entre Obama e Romney.

É preciso ressaltar que as regras, nos Estados Unidos, são fixadas pela Comissão Sobre Debates Presidenciais, um organismo independente das emissoras de TV. As emissoras optam por transmitir ou não. Como é um evento de prestígio, todas as principais acabam transmitindo.

É uma fórmula que deveria ser adotada no Brasil, já que transfere poder das concessionárias e das assessorias dos candidatos para o público (pelo menos em tese).

Como programa de TV, o debate de ontem foi ótimo.

Obama encarnou o candidato “esquerdista”.

Romney atacou o preço da gasolina — que se aproxima dos 4 dólares o galão nos Estados Unidos, o equivalente a R$ 2,20, uma enormidade — lembrando que quando Obama assumiu era de U$ 1,80. Obama respondeu que, quando assumiu, os preços de gasolina estavam baixos porque os Estados Unidos estavam em recessão profunda, resultado de políticas parecidas com as que o republicano propõe agora. Ou seja, carimbou Romney de George W. Bush.

Conseguiu transformar uma estatística negativa num argumento incriminador para o adversário. Guardadas as devidas proporções, Bush Jr. está para as eleições norte-americanos como Kassab está para as de São Paulo.

Foi apenas uma das várias estocadas de Obama, que conseguiu colocar Romney na defensiva. Por exemplo, o presidente acusou o republicano de pregar o corte dos investimentos na Planned Parenthood, a entidade de planejamento familiar que recebe verbas federais. Os conservadores, que se opõem ao aborto, miram na entidade tanto quanto na PBS, a TV pública dos Estados Unidos, alegando que colocar dinheiro em ambas é desperdício. Obama também fez referência rápida ao Big Bird, o Garibaldo da Vila Sésamo, que sofreria com a perseguição republicana ao orçamento da PBS.

O presidente também atacou a plataforma econômica de Romney, argumentando que ele daria prioridade aos 2% do topo da pirâmide, contra os 98%. O republicano propõe a manutenção dos cortes de impostos para os mais ricos, implantado por George W. Bush. Talvez o democrata tenha mencionado os 98% para não se misturar com os 99%, sempre citados por movimentos como o Occupy Wall Street (à esquerda, mas nem tanto, podem ter pensado os assessores de Obama).

A força de Romney nos debates está em estatísticas que, de fato, impressionam: há hoje nos Estados Unidos 23 milhões de desempregados e 47 milhões de pessoas dependentes dos Food Stamps, a versão deles do Bolsa Família.

O republicano teve a oportunidade de enfatizar várias vezes sua plataforma de classe média: independência energética (carvão, gás, energia nuclear e perfuração em águas profundas), corte de impostos para a classe média bancado por redução de isenções fiscais, enfrentamento da China nas negociações comerciais, aumento do comércio com a América Latina e investimento em pequenas empresas.

O fato é que os dois candidatos lutam pelos eleitores independentes, que são o fiel da balança num eleitorado dividido. Obama, neste segundo debate, deu uma guinada à esquerda justamente para enfatizar suas diferenças com aquele que seria o candidato dos ricos, elitista na política econômica, extremista em questões sociais e continuador de Bush Jr.

Uma das eleitoras indecisas que estavam na plateia fez o preâmbulo de uma pergunta que, em minha opinião, reflete bem o estado do eleitorado: disse que estava insatisfeita com o governo Obama, mas que não queria voltar à era Bush. É da resposta a este dilema que sairá o resultado da eleição. Curiosamente, para vencer Romney precisa encarnar um slogan da campanha de Obama em 2008, o da “mudança na qual é possível acreditar”.