"A UNE desempenha um papel fundamental", diz Ariano Suassuna

Do alto dos seus 85 anos, com mais de 60 só de carreira, um dos mais conhecidos defensores da cultura popular brasileira, Ariano Suassuna, se reuniu com a coordenação do CUCA da UNE (União Nacional dos Estudantes) para falar rapidamente sobre o processo atual do Brasil e o tema do maior evento estudantil da América Latina, que acontecerá entre os dias 22 e 26 de janeiro de 2013, em Recife e Olinda.

O encontro se deu em meio à primeira Festa Literária Internacional das Upps (Flupp), no Morro dos Prazeres, Rio de Janeiro, na quarta-feira (14). Durante o bate-papo, Suassuna falou sobre política, cultura popular e sobre a 8ª Bienal da UNE, que, neste ano, aborda um tema que se encaixa como luva em sua trajetória: “A volta da Asa Branca”, em homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga.

Paraibano, formado em direito e filosofia, Ariano Suassuna é dramaturgo, romancista e poeta. Lecionou durante 32 anos na Universidade Federal de Pernambuco e, em 1999, assumiu a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras.

“Luiz Gonzaga é um artista popular brasileiro que desempenhou um papel fundamental na renovação da música popular e merece ser reconhecido pela importância da sua cultura”, justificou o “pai” de Chicó e João Grilo, personagens de sua mais célebre obra, o Auto da Compadecida.

Nesta entrevista, o criador de histórias que têm o Nordeste como inspiração, falou como se sente feliz com as comemorações do centenário do nosso sanfoneiro e discorreu sobre a importância da Bienal da UNE para o país. Confira:

Site da UNE: Como recebeu o convite para participar de um evento numa comunidade carioca que acaba de passar por um processo de pacificação?
Ariano Suassuna: É a primeira vez que piso em uma favela carioca. Pela primeira vez, estão vendo, reconhecendo, que nas favelas tem gente ordeira, trabalhadora e que é vítima do crime como todo mundo. Isso me deixa feliz, pois de certa forma estamos libertando o povo brasileiro. Mas, não sou idiota, essa libertação deve ir adiante. Eu não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas, amargos. Eu me considero um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.

Site da UNE: Como você vê a cultura popular dessas comunidades, principalmente a linguagem popular, sendo você um poeta?
AS: Tem uma coisa que eu quero dizer a respeito da linguagem popular. Eu não concordo com esses escritores que, procurando reproduzir a linguagem popular, deformam a linguagem popular. A linguagem escrita é uma convenção. Por trás dessa deformação existe um preconceito terrível contra o povo. Eu não pronuncio, por exemplo, cadeira, mas falo “cadera”, como todo nordestino. Agora, se precisar escrever aí escrevo cadeira. Eu acho que a transposição literária da linguagem popular tem de alcançar o espírito na linguagem e não a leitura.

Site da UNE: Como você tem observado as comemorações em torno do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga?
AS: Muito satisfeito. Luiz Gonzaga é um artista popular brasileiro que desempenhou um papel fundamental na renovação da música popular e merece ser reconhecido pela importância da sua cultura.

Site da UNE: O tema da 8ª Bienal é “A Volta da Asa Branca”, por significar o reverso, acompanhado nos últimos anos, da migração dos nordestinos para os seus estados de origem. Como o senhor avalia esse tema?
AS: Fico muito contente. Se a gente ama o país como um todo, o lugar da gente é a melhor expressão do país para nós.

Site da UNE: Qual a sua opinião da UNE fazer dessa Bienal uma homenagem a Luiz Gonzaga?
AS: É muito bom. É pertinente. Vocês estão prestando mais uma vez uma homenagem a Luiz Gonzaga, que passa a ser uma coisa simbólica, uma coisa do povo, do nordeste pro seu lugar de origem. A UNE desempenha um papel fundamental.

Fonte: Site da UNE