Legalização do aborto reduziu mortes maternas no Uruguai

O dia em que a lei do aborto entrou em vigor oficialmente no Uruguai, 3 de dezembro, foi de relativa calma do hospital Pereira Rossell, centro de referência em saúde da mulher em todo o país. A instituição já realizava consultas para a interrupção voluntária de gravidez – o nome oficial do projeto desde a semana anterior.

Aborto

O aborto clandestino era a principal causa de morte materna no Uruguai até 2001. Morriam 27 mulheres de cada 10 mil que davam à luz – 47% delas no Pereira Rossell -, quando um projeto do governo em parceria com a ONG Iniciativas Sanitárias começou a reduzir os danos provocados por interrupções de gravidezes precárias. Hoje, essa taxa é zero.

Informalmente, estimativas indicam que, por ano, ocorrem 30 mil abortos no Uruguai. A grande maioria deles, com o auxílio do medicamento Misoprostol. Como até este ano a comercialização era ilegal, o maior problema encontrado pelas uruguaias que abortavam ilegalmente – mais do que condições inadequadas, já que o aborto cirúrgico é raro – era o tráfico e o sobrepreço do abortivo.

"O preço do remédio chega a US$ 800. O que muitas meninas fazem é criar um banco de cartelas, dividindo as que sobram depois do aborto", disse ao Estado uma jovem uruguaia que usou o medicamento e preferiu não se identificar. "Havia um comércio clandestino nos hospitais e nas farmácias." Segundo médicos do hospital, o perfil geral das uruguaias que recorrem ao aborto é de mulheres de baixa renda e muito jovens. Desde 2001, a ONG Iniciativas Sanitárias agrega uma equipe de ginecologistas, obstetras e psicólogas para diminuir os riscos dos abortos clandestinos.

"Assessoramos a mulher para que não houvesse riscos. Em 2004, o Ministério da Saúde iniciou o programa de maternidade segura, que deu direito a uma consulta às mães com gravidez indesejada, como objetivo de impedir o aborto de risco", disse a obstetra Ana Labandera. "Esse modelo deu origem ao adotado pela lei atual. A principal diferença é que o governo dá o remédio."

Fonte: O Estado de S. Paulo