Baixo Centro-2013: retomar as cidades e refletir sobre seu futuro
Realizado em março de 2012, o Festival BaixoCentro disparou um movimento que marca a cidade desde então. Ao ocupar com atividades artísticas e debates uma vasta área da cidade entregue ao concreto e aos automóveis, abriu caminho para que coletivos culturais reivindicassem a retomada dos espaços públicos da região.
Por Gabriela Leite*
Publicado 21/01/2013 09:17
Em 2012, o festival transformou a área em torno do chamado “Minhocão” — uma via elevada de 3,4 quilômetros que enfeia os bairros de Santa Cecília, Vila Buarque, Campos Elísios, Barra Funda e Luz. Por dez dias, eles foram palco de oficinas, trocas, festas, shows, projeções, performances, exibição de filmes, bicicletada e intervenções urbanas. Todas as atividades eram abertas e gratuitas, e foram criadas colaborativamente, em uma chamada pública. Em poucos dias, mais de 100 pessoas e coletivos se inscreveram propondo algo. Em uma época de forte repressão — o massacre do Pinheirinho e a violência contra os moradores da chamada “cracolândia” eram recentes — o BaixoCentro lembrou à cidade: as ruas são para dançar. Pintou as vias, pôs grama e piscina no asfalto, tocou música, fez projeções em prédios e mostrou para as pessoas que a cidade é delas para ser usada e ressignificada.
Em 2013, a pergunta é: ocupamos, e agora? Ao invés de levar às ruas apenas atividades artísticas, os organizadores vão procurar incentivar discussões mais políticas sobre a cidade. As atividades, como no ano passado, serão organizadas de forma autônoma. Abre-se uma chamada pública para pessoas e coletivos inscreverem suas ideias e o que vão precisar para realizá-las. Em seguida, os organizadores fazem a “cuidadoria”, que consiste em procurar formas de viabilizar colaborativamente cada atividade. Nesse conceito, o “artista” é também produtor, e forma-se uma rede na qual todos podem produzir e se ajudar mutuamente. A rede de colaboradores é totalmente aberta. Qualquer um pode participar do grupo de emails e das reuniões, de forma horizontal.
O festival é organizado apenas por pessoas, sem apoio de empresas e ONGs, e tem o financiamento feito por financiamento coletivo (crowdfunding), leilões e doações. Além disso, por acreditar que a rua é um espaço de todos, tem como premissa não pedir permissão à prefeitura para realizar os eventos. Sua organização aposta na civilidade dos paulistanos, avisando-os sempre para cuidar bem da sua cidade. Por isso, foram criados os passos para a dança, um documento que descreve o direito dos cidadãos a estar e se reunir na rua, com suas liberdades e limites. Outra preocupação maior do festival desse ano é com o lixo e resíduos gerados pelas festas e manifestações. Para isso o projeto Amar é cuidar do lixo estará sempre presente durante o evento para tornar as atividades mais limpas e sustentáveis.
Para começar a dança e ajudar a arrecadar fundos, haverá neste domingo um Samba no Largo do Arouche, com música, comida e bebida — a doação sugerida é de 10 reais. A festa marcará a abertura da chamada pública para inscrição de projetos no site, que ficará aberta até dia 22 de fevereiro. A partir daí, o festival entra em crowdfunding, da mesma forma que no ano passado, procurando financiá-lo.
*Gabriela Leite é jornalista videomaker.
Fonte: Outras Palavras