Alcides Amazonas: Sou operário e farei um mandato popular

A origem classista e a atuação de mais de duas décadas na área do transporte dão os primeiros indícios do compromisso popular do mandato do deputado estadual Alcides Amazonas (PCdoB) na Assembleia Legislativa de São Paulo. Após conquistar cerca de 28 mil votos nas eleições de 2010, ele assumiu no começo deste ano a cadeira deixada pelo ex-deputado comunista Pedro Bigardi, eleito prefeito de Jundiaí.

Por Mariana Viel, da Redação do Vermelho

Além da longa experiência sindical, Amazonas exerceu entre 2001 e 2004 um mandato de vereador e foi vice-líder do governo da prefeita Marta Suplicy (PT) na Câmara de São Paulo. Ele afirma que uma das prioridades de seu mandato é a área do transporte e explica que pretende apresentar na Assembleia alguns de seus projetos que já viraram lei na capital paulista.

“O trânsito é um problema sério nas grandes metrópoles e aqui em São Paulo não é diferente. Nosso mandato vai dedicar um bom espaço de tempo para discutir a melhoria do trânsito, não só na capital, mas também em cidades maiores, como Campinas”, enfatiza o deputado.

A defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores também é um compromisso elencado como prioridade. Segundo ele, a interação com a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e outras entidades do movimento sindical será uma das bases de apoio dessa luta.

“Sou um operário, um trabalhador, então nosso mandato vai ter essa cara. Um mandato popular. Nosso partido tem uma ligação muito forte com os movimentos sociais, a luta pela moradia, pelo saneamento básico, estudantil e os diversos outros movimentos que o Partido acompanha.”

Com um mandato de apenas dois anos, Amazonas está consciente de que terá de enfrentar grandes desafios e “trabalhar dobrado” para se preparar para a batalha eleitoral de 2014. “Fazer um excelente mandato já é instrumento importante para a reeleição, mas não é apenas isso. Pretendemos ampliar a nossa área de atuação. Estou bastante otimista e tenho muita disposição e vontade de trabalhar. Espero corresponder às expectativas daqueles eleitores que confiaram em mim e mesmo daqueles que não votaram.”

Vermelho: Quais são as principais perspectivas e os focos de seu mandato?
Alcides Amazonas: Como temos meio mandato, vamos precisar trabalhar dobrado. É uma honra e uma satisfação muito grande assumir um mandato para representar o nosso glorioso PCdoB na maior Assembleia Legislativa do país. Já tive a oportunidade de exercer um mandato na capital paulista na gestão da prefeita Marta Suplicy. A ideia é apresentar aqui alguns projetos que já conseguimos aprovar e que já são leis na cidade de São Paulo. Pela minha origem de operário e trabalhador um dos temas que vamos focar é a área do transporte de forma ampla – trânsito e meio de circulação.

Vermelho: Quais desses projetos você considera que podem trazer benefícios para outras cidades do estado de São Paulo?
Alcides Amazonas: Quando fui vereador relatei o projeto que criou o novo sistema de transportes, o Bilhete Único. Sou autor da lei que garante o emprego de mais de 20 mil cobradores de ônibus. Preocupado com a qualidade do sistema e a melhoria do atendimento, fiz uma lei que obriga as empresas de ônibus a substituírem toda a frota por veículos mais modernos, com motor traseiro – já que o motor dianteiro prejudica muito a saúde do cobrador, do motorista e do próprio usuário. Pretendo apresentar esses projetos aqui na Assembleia.

Acho também que a Casa – que representa todo o estado de São Paulo – pode extrair das experiências do passado coisas positivas. Destaco essa questão do Bilhete Único, que foi uma grande conquista da capital na gestão da Marta Suplicy. Deveríamos iniciar um debate sobre a possibilidade de implementarmos o Bilhete Único Metropolitano. Achamos perfeitamente possível uma maior integração dos diversos modais de transportes – sobre trilhos, pneus e táxis – pensando na região metropolitana [composta por 37 municípios]. Não faz sentido o passageiro pegar um ônibus e na divisa de São Paulo-Guarulhos ter que descer ou pagar uma tarifa maior porque não existe uma integração. Esse é um debate que precisamos começar. É necessário ganhar os prefeitos que compõem essas cidades com esse objetivo.

Vermelho: Como seu mandato irá interagir com os trabalhadores e a defesa de seus interesses?
Alcides Amazonas: Como sindicalista, fui dirigente do Sindicato dos Condutores de São Paulo e dirigente da CUT – na Corrente Sindical Classista, quando o PCdoB ainda atuava nesta central. Obviamente, a defesa dos interesses dos trabalhadores, por melhor qualidade de vida, por mais e melhores empregos, por uma melhor remuneração e a luta pela volta da aposentadoria especial dos trabalhadores – bandeiras históricas – estarão no foco do nosso mandato.

Outra questão é o fim do Fator Previdenciário. Hoje, um trabalhador que se aposenta, automaticamente tem uma redução de 30% do seu salário. Esse é um problema aqui da Assembleia? É. É um problema político e o nosso mandato vai ajudar também as centrais sindicais. Teremos uma interação junto à CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) para dar apoio a essas lutas.

Sou um operário, um trabalhador, então nosso mandato vai ter um pouco essa cara. Um mandato popular. Nosso partido tem uma ligação muito forte com os movimentos sociais, a luta pela moradia, estudantil, pelo saneamento básico e diversos outros que o Partido acompanha.

Vermelho: Você atuou por sete anos na Agência Nacional do Petróleo (ANP), como responsável pelos estados do Paraná e São Paulo. Quais experiências e debates travados na ANP podem ter repercussão no seu mandato na Assembleia?
Alcides Amazonas: Uma das minhas principais tarefas nesses sete anos foi proteger os consumidores dos abusos de preços, de produtos fraudados e adulterados. Travamos uma luta árdua. Acabei coordenando um trabalho de força-tarefa – que envolveu diversos órgãos do município, do estado e do governo federal – e que conseguiu reduzir de 14% para 1,5% a adulteração de combustível. Toda essa experiência da ANP, na defesa dos consumidores, será trazida para a Assembleia. Se os órgãos de fiscalização ‘baixarem a guarda’ e se não houver políticas voltadas para a proteção dos consumidores podemos voltar a períodos difíceis do passado.

Outro debate importante é a questão do pré-sal, que inclui o Novo Marco Regulatório, que já está sendo discutido, e a divisão dos royalties – que é a participação governamental. Apesar de ter sido aprovada, a divisão dos royalties também está sendo debatida no Congresso Nacional e é alvo de uma disputa. Achamos que a exploração do pré-sal é uma grande conquista do governo Lula, que conseguiu buscar a autossuficiência do petróleo no nosso país. Os recursos provenientes do pré-sal devem ficar aqui no nosso país e serem dedicados à educação e ao desenvolvimento do nosso país. Nosso mandato é um instrumento que consideramos importante para não deixar isso cair no esquecimento. É um tema que vou procurar debater aqui na Assembleia. Pretendemos, nos próximos dias, organizar um seminário sobre esse tema: “A importância do pré-sal para o desenvolvimento econômico do estado de São Paulo”.

Existe também um projeto – apresentado aqui na Assembleia pelo ex-deputado Pedro Bigardi – para que 50% de recursos do pré-sal sejam destinados à Educação e nós daremos prosseguimento a ele. A ideia é fazer uma reunião com as lideranças estudantis, das diversas entidades, para colocar nosso mandato à disposição delas e fazer com que esse projeto possa ser aprovado. Entendo que a Educação é fundamental para o desenvolvimento do nosso país. Um país que não investe em Educação está fadado ao fracasso.

Vermelho: Quais características de seu mandato ao longo dos próximos dois anos darão a ele características populares?
Alcides Amazonas: Um deputado é representante de todo o estado. Ele não é nem deputado apenas dos eleitores que votaram nele. Nosso mandato estará de portas abertas para toda a sociedade, focando sempre os interesses dos mais necessitados. As pessoas que dependem dos serviços públicos, as menos favorecidas e aquelas que têm um salário menor. Vamos lutar muito para que os serviços públicos possam ser oferecidos com qualidade em todas as áreas – transporte, saúde, saneamento básico e segurança pública.

Vermelho: Como você vislumbra a relação com o governo do tucano Geraldo Alckmin?
Alcides Amazonas: Nosso mandato é de oposição ao governo do PSDB, mas não aquela oposição que diz não a tudo. Obviamente, que aquelas questões que são de interesse da sociedade, vão melhorar a qualidade de vida, o serviço público e o nosso estado serão votados favoravelmente junto com o governo. E seremos contra aquilo que consideramos ruim e prejudicial.

Infelizmente estamos vivendo uma crise na segurança pública que reflete uma política equivocada e que já vem sendo implementada há muito tempo pelo PSDB aqui no estado de São Paulo. Achamos que em relação a essa questão o governo precisava dialogar mais com a sociedade e com o Parlamento. Não basta trocar o secretário, isso é insuficiente. O governo do estado sinalizou neste último período, depois de uma crise, um diálogo maior com o governo federal. O problema da segurança pública não apenas do estado, do município ou do governo federal. É preciso uma força tarefa, um entendimento nacional – envolvendo todas as forças políticas e de segurança – para dar respostas concretas à criminalidade. Isso só é feito em conjunto com outras ações. É necessário repensar o sistema prisional. Nossas cadeias estão superlotadas e as pessoas não saem de lá recuperadas. Isso é um problema porque a criminalidade acaba aumentando.

Vermelho: A questão das drogas, particularmente o crack, é outro problema crônico no estado e na capital paulista. Como fazer um enfrentamento eficiente desse problema?
Alcides Amazonas: É lógico que as questões sociais também são importantes. É necessário que o governo estabeleça políticas que gerem mais empregos, que melhorem os salários. Políticas que envolvam o município e os moradores de rua. A questão da droga é um problema muito sério em nosso país, e no estado de São Paulo não é diferente. É necessário que os diversos níveis de governo se unam no combate dos males que a droga provoca, mas também nas causas que levam as pessoas, particularmente os jovens, a se envolver com ela. É necessário um debate intenso com a sociedade através das entidades organizadas que já discutem essa questão. Esse é um problema que não se resolve com medida paliativa, mas com uma política efetiva de segurança que leve em consideração o bem-estar do cidadão.

Vermelho: Como o seu mandato e o da deputada Leci Brandão, líder do PCdoB na Assembleia, irão fortalecer o campo progressista na Casa?
Alcides Amazonas: A Leci é minha amiga,parceira e tenho orgulho de compor uma bancada com ela. Embora eu tenha experiência de vereador da Câmara de São Paulo, certamente tenho muito a aprender com ela aqui. Ela é a minha líder e espero que em 2014 nós sejamos reeleitos e que a bancada do PCdoB seja ampliada para 3 ou 4 deputados. Isso é muito importante e nosso Partido merece. Tenho mantido conversas com a Leci e acho que seremos uma bancada muito unida e certamente vamos dar muitas contribuições para o crescimento do nosso PCdoB.

As urnas sinalizaram na batalha de 2012 um desgaste do PSDB em São Paulo. Não apenas por conta da questão da segurança, mas porque o PSDB já está há quase 20 anos governando o estado. Assim como teve esse sentimento de mudança na capital, com a eleição do prefeito Fernando Haddad (PT) e da vice-prefeita Nádia Campeão (PCdoB), achamos que esse sentimento paira no estado do São Paulo. Isso acende uma luz para as forças progressistas e avançadas de nosso estado que – incluindo o PCdoB – podem ganhar o Palácio dos Bandeirantes em 2014. O centro da nossa luta política no próximo período certamente é eleger uma grande bancada de deputados estaduais, federais e reeleger a presidenta Dilma Rousseff e esse projeto federal que começou em 2002 com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Espero no dia 1º de janeiro de 2015 compor uma bancada de situação aqui na Assembleia.

Vermelho: O ex-deputado Pedro Bigardi tinha uma forte atuação na região de Jundiaí. Você pretende dar continuidade a esse trabalho na região?
Alcides Amazonas: Vamos ter de nos desdobrar. Costumo dizer que a cidade de Jundiaí ganhou um prefeito e manteve um deputado, que apenas mudou de nome. Nosso mandato vai interagir muito com o município de Jundiaí, propondo emendas e fazendo a interação cotidiana. A ideia é que partindo de Jundiaí a gente intensifique nossa atuação em toda a região. Acho que com isso também vamos fortalecer o governo municipal. Espero contribuir para que transformemos Jundiaí em uma referência no estado de São Paulo e em todo país como um modelo de administração comunista, assim como acontece em Olinda. Já demonstramos na prática, ao contrário do que alguns diziam, ‘que o PCdoB só era bom em fazer passeatas’, que nós somos bons de governo também.

Vermelho: Qual é a responsabilidade de representar o PCdoB Assembleia e como isso pode contribuir para o crescimento do Partido?
Alcides Amazonas: Espero honrar a nossa legenda na Assembleia Legislativa e espero contribuir para que, por influência de nosso mandato, o PCdoB cresça, amplie seus filiados e militantes. Um mandato comunista tem a responsabilidade de representar o povo, mas também de representar o nosso Partido e fazer com que ele cresça. Não quero ser mais um deputado, quero ser um parlamentar que faça a diferença aqui na Assembleia. Ficamos por um período curto sem representantes aqui na Assembleia e isso foi muito ruim para o PCdoB e para a luta do povo em geral. O movimento social organizado e os trabalhadores veem no PCdoB muita seriedade e compromisso de luta.

As expectativas são as melhores possíveis. O Parlamento – de uma forma geral – não foi feito para os trabalhadores. Pessoas com origem nos movimentos populares e sindical começaram a conquistar mais espaço há pouco tempo. Não farei um mandato estreito e pequeno porque minha origem é de trabalhador. Um bom mandato, em minha opinião, é aquele que eleva o nível de consciência política das pessoas. Se conseguirmos contribuir, nos próximos dois anos, para elevar o nível de consciência política das pessoas já teremos um grande ganho.