"Amor", um filme excepcional sobre limites das relações humanas

Abrem-se as cortinas da famosa Ópera de Paris e a câmera mostra a reação das pessoas na plateia, como uma espécie de exercício de metalinguagem com os espectadores acomodados nas poltronas do cinema. 

Essa é a segunda cena do excelente filme Amor, dirigido por Michael Haneke, e estrelado por Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Huppert, em cartaz nos cinemas brasileiros. A primeira cena mostra bombeiros quebrando a porta de um apartamento e encontrando o corpo de uma mulher na cama coberto por flores.

Quando se pensar na produção cinematográfica de 2012, aliás, os nomes e Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva deverão estar em destaque. Não é à toa que ela está indicada ao Oscar de melhor atriz, por um filme que concorre a outras quatro estatuetas – filme, direção, roteiro original e melhor filme estrangeiro. E não se trata de um exagero. A história de um casal de idosos, cuja mulher vai, aos poucos, ficando inutilizada num quarto de apartamento é realmente tocante e reflete até onde uma relação afetuosa de amor e amizade é capaz de nos levar.

Exceto pela cena da ópera, o filme se passa todo no interior de um apartamento – no quarto, na sala, na cozinha e no hall de entrada. Anne (Emmanuelle Riva) é uma pianista aposentada que, durante um café da manhã, sofre um derrame, para desespero do marido, Georges (Jean-Louis Trintignant). Eles têm uma filha, Eva (Isabelle Hupert), que mora fora da França.

Com um lado do corpo paralisado, Anne começa a sofrer as transformações físicas e emocionais provocadas por seu estado de saúde, numa interpretação realmente soberba. Já Georges não aceita a possibilidade de levar sua mulher para uma casa de repouso e também se revolta diante da agressividade e falta de tato das cuidadoras. Por isso, assume toda a responsabilidade e tenta dar-lhe as últimas alegrias na vida. A cena em que os dois cantam juntos, por exemplo, tem uma força emocionante.

Amor trata com lirismo de uma situação difícil e é muito comum não só entre os casais de idosos – lidar com as próprias deficiências e também com as do companheiro. E demonstra os sentimentos capazes de superar obstáculos. Portanto, se a temática não é lá grande novidade, a maneira como é trabalhada pelo cineasta alemão, conhecido por filmes como Caché e A Fita Branca, faz com que essa produção mereça os prêmios que tem arrebatado mundo afora, como a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Fonte: Rede Brasil Atual