Coprodução Brasil/Vietnã selecionada para o Festival de Berlim

Envolto pelos nevoeiros da periferia de Hanói, um caminhão risca lentamente a paisagem, refletido na água parada dos campos de arroz. Na cabine, pai e filha. Na caçamba, trabalhadores vietnamitas. "O Caminhão do Meu Pai", curta-metragem rodado em Hanói e cidades próximas, conta relação entre filha e pai.

Por Roberto Almeida, de Berlim

O caminhão de meu pai

Costurado com um roteiro hipnotizante, essa trama sul asiática concorre ao prêmio de melhor curta-metragem na mostra Generation do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que começa no dia 7 de fevereiro.

A equipe recebeu a notícia da indicação com um sorriso aberto, bem à brasileira. O curta O Caminhão do Meu Pai (Xe tải của bố, no título original) é a primeira coprodução Brasil-Vietnã; o filme, com atores vietnamitas, foi todo rodado em Hanoi e cidades vizinhas. A direção, roteiro e produção são de Maurício Osaki, brasileiro radicado em São Caetano do Sul, no ABC paulista.

O Caminhão do Meu Pai conta de forma direta, fazendo-se valer da poesia da paisagem, as turbulências de uma relação entre filha, interpretada pela brilhante e intensa Mai Vy, e seu pai caminhoneiro vivido por Trung Anh, tarimbado ator vietnamita. Mais do que um curta, a obra é um tapa que ajuda a entortar o eixo da cinematografia brasileira, para que extrapole ainda mais suas fronteiras. A seleção em Berlim é a coroação desse movimento.

Osaki cursa um mestrado em direção em Cingapura, no campus asiático da New York University, e o curta faz parte de seu projeto de pós-graduação. A decisão de rodá-lo no Vietnã partiu após sua primeira viagem ao país, em 2011, quando sentiu uma atmosfera muito parecida com a do Brasil de sua infância, na década de 1980. Viriam em seguida as complicações com idioma, cultura e comportamentos.

“É uma loucura estar num set em que, mesmo quando a gente fala o mesmo idioma, o stress por conta dos prazos a se cumprir é grande, e ter de, ainda por cima, aprender a se comunicar”, contou a assistente de direção Flávia Guerra. “Os vietnamitas, apesar de terem o que eu chamo de ‘tempo oriental’, são muito instintivos, afetuosos. Eu brinco que são os japoneses latinos.”

Fonte: Opera Mundi