O que Obama encontrará em sua visita a Israel e à Palestina 

Em março, quando o primeiro ministro israelense Benjamin Natnyahu formar seu novo governo, o presidente Obama planeja chegar para uma visita histórica a Israel e à Autoridade Palestina. Ele quer falar ao povo israelense, mas não tem o que dizer.

Por Yacov Ben Efrat*

Netanyahu e Obama na Casa Branca, março 2012 - Peter Souza - Casa Branca

Primeiro na agenda tumultuada do presidente dos EUA será o Irã, depois a Síria. Por último está a questão palestina, preocupação para a qual ele não tem qualquer iniciativa nova. Que Obama está distanciando-se dessa questão não é surpresa. Ele já despencou e se queimou nesse tema, quando nomeou George Mitchell como seu enviado especial, em vão.

Em resposta à exigência de Obama, Netanyahu congelou a construção de assentamentos por 10 meses, mas depois renovou o processo com ainda mais vigor. Enquanto isso, outro período no governo se inicia, tanto em Israel quanto nos EUA, sem qualquer iniciativa que se parecesse com um processo político Israel-Palestina, e mais 4 áridos anos anunciam-se.

Netanyahu disse comprometer-se com o princípio de dois Estados, mas suas ações são contraditórias; os assentamentos expandiram-se e o Estado Palestino continua a diminuir.

Falência econômica da Palestina

Do lado palestino da barreira de separação, membros da Autoridade Palestina (AP) dão voltas como se estivessem encurralados, procurando qualquer saída. Se na Cisjordânia há áreas sob controle da AP, ou em Gaza, sob controle do Hamas, uma catástrofe está desdobrando-se, no sentido completo da palavra.

Entretanto, o assunto está ausente no discurso público israelense. Periodicamente ouvimos sobre o que acontece na Cisjordânia, um conto enterrado numa página interna do jornal, quando alguns jovens palestinos são mortos pelas Forças de Defesa de Israel (FDI), sob alguma circunstância obscura e para qual alguma investigação é aberta.

O assunto no topo da agenda de hoje é “divisão igualitária do peso” pelos ultra ortodoxos no sistema militar e na economia de Israel; ninguém está interessado “no conflito”.

Sem dúvida, não falta muito até que a agitação na Cisjordânia torne-se palpável para o público israelense no seu lado do muro. A situação econômica vai mal; a AP não está pagando salários porque seus cofres estão vazios; já que emprega 16% da força de trabalho palestina, a economia local inteira está paralisada.

De acordo com o Departamento Central Palestino de Estatística, o desemprego chega a 20%, alcançando 34% entre os jovens de 15 a 25 anos. O que está causando a crise econômica na Cisjordânia?

A União Europeia e os países árabes financiam a AP, na esperança de que o conflito será resolvido e que o Estado Palestino atinja sua independência econômica. Essa situação é assim já faz 22 anos, e ao invés de servir ao povo palestino, serve à ocupação israelense, que usa o tempo para expandir seus assentamentos.

Os europeus respondem ao impasse atrasando financiamentos e preparando uma lista negra de exportações dos assentamentos. O objetivo é forçar o governo israelense a parar de investir neles e começar a resolver o conflito.

De sua parte, Israel “pune” a AP detendo pagamentos ou dinheiro de impostos que coleta nas alfândegas por produtos importados, que entram no território palestino. Isso contribui para esvaziar o tesouro palestino já fatigado. Um dos resultados absurdos dessa forma de punição econômica diz respeito ao abastecimento de energia à AP, ainda provida pela Companhia Elétrica de Israel (CEI).

Sem trabalho ou salários, os residentes dos territórios palestinos não podem pagar por suas contas de eletricidade à AP, cuja dívida com a CEI continua crescendo. O governo israelense paga o que a AP deve e recupera esses fundos através do dinheiro dos impostos que o governo deveria repassar à autoridade. Assim, a economia palestina está encurralada, sem opções para sair desse círculo vicioso da ocupação.

Abu Mazen e Hamas: falência política

Dada essa situação empenada, o presidente da AP, Mahmoud Abbas (Abu Mazen) atirou em todas as direções. Tentou a Assembleia Geral da ONU, buscando reconhecimento para a Palestina como um Estado observador. Isto lhe foi concedido, mas na ocasião, só piorou a situação. Como punição, o Congresso dos EUA decidiu adiar a ajuda financeira à AP. Mais uma vez, ficou claro que a AP é totalmente dependente de Israel.

Abu Mazen aprendeu da forma difícil que declarar um Estado não é o suficiente; também é preciso estabelecê-lo, e sem território, sem dinheiro e sem uma economia, a perspectiva para um regime estável é nula.

Por outro lado, Abbas também virou-se para o Hamas. Esse movimento serve para mostrar uma frente unida e para jogar por terra a afirmação de Israel de que, por causa de uma tensão entre o Hamas e a AP, não tem um “parceiro para a paz”. No dia 8 de fevereiro, Abbas encontrou-se com Khaled Mashal (do Hamas, no governo da Faixa de Gaza) no Cairo, e ambos fizeram com que os líderes de todas as facções palestinas os acompanhassem, para iniciar um memorando de entendimento que termine com as divisões. No final das conversações, eles partiram como amigos. Nenhum acordo resultou do encontro, porém.

O presidente do Egito, Mohammad Mursi, prometeu a Obama que garantiria a tranquilidade em Gaza em troca de ajuda financeira. Mas para isso, ele precisa de conciliação entre o Fatah, que governa a AP, e o Hamas; enquanto isso não for possível, Gaza continuará padecendo.

Para alcançar estabilidade econômica, a Faixa de Gaza precisa ser liberada da sua dependência com relação a Israel e precisa ter uma passagem aberta entre sua cidade de Rafah e o Egito. O controle da passagem de Rafah, entretanto, é atolado em desacordo.

O Egito comprometeu-se com a sociedade internacional de que a passagem ao seu território estaria sob controle da AP e supervisionada por Israel. O Hamas, é claro, recusa-se a aceitar que Abbas pise em Gaza. Assim, sem a presença da AP, o Egito não pode abrir a passagem, e Gaza continua presa ao cordão umbilical israelense.

Em desespero, o Egito resolveu inundar os túneis que conectavam Gaza ao deserto do Sinai, para mandar uma mensagem à liderança do Hamas de que precisam ser mais flexíveis com relação ao Fatah. Abbas, por sua parte, começou a prender membros do Hamas na Cisjordânia, o que levou Mousa Abu Marzuk, presidente adjunto do escritório político do Hamas, a reclamar que as prisões estão prejudicando a reconciliação palestina, e que constituem prova de que as eleições não podem ser realizadas.

O que Obama descobrirá em sua visita

Quando o Obama pisar em território da AP, ele verá que sua polícia de apaziguar o Direito Israelense quase matou a autoridade. Talvez ele entenda que sua política de apaziguamento com o regime de Hosni Mubarak no Egito e com o de Ben Ali, na Tunísia, eventualmente levou à Primavera Árabe. Esse script pode ser repetido em território palestino: quando os jovens, recém saídos das universidades, não encontrarem emprego, eles tomarão as ruas em protestos, e sua raiva será direcionada, acima de tudo, à AP.

É possível supor, razoavelmente, que Obama também sabe o que o mundo todo sabe: o novo consenso político interno israelense, que abriga os partidos sionistas, aceita a doutrina formulada por Avigdor Lieberman, que se baseia na premissa de que o conflito não pode ser resolvido. O que resta, então, é gerenciá-lo através de negociações, cujo objetivo declarado é o estabelecimento de um Estado palestino com fronteiras temporárias. Já tendo experimentado os Acordos de Oslo dos anos 1990, os palestinos sabem que o temporário torna-se permanente, e eles simplesmente não aceitarão isso.

Obama perderá outra chance de resolver o conflito entre israelenses e palestinos; quem quer que esteja surpreso com isso deve lembrar que temos agora o mesmo Obama que perdeu a chance histórica de ajeitar a sociedade estadunidense, ao aceitar repetidamente pressões da extrema direita.

Yacov Ben Efrat é o secretário geral do partido DAAM de Israel.

Fonte: +972mag
Tradução: Moara Crivelente, da Redação do Vermelho