Relatório apontará caso de jornalistas vítimas da ditadura no CE

Levantar histórias de jornalistas perseguidos pelo regime militar (1964-1988) no Estado será a principal atribuição da Comissão da Verdade dos Jornalistas do Ceará, empossada no último dia 27 de fevereiro. Composta por seis jornalistas sindicalizados indicados pela diretoria do Sindjorce, a comissão já realizou duas reuniões, a última ocorrida dia 2 de março, na sede do sindicato. Nestes encontros, estão sendo feitos o mapeamento de casos no Ceará e a definição da metodologia de trabalho.

Formada pelos jornalistas Messias Pontes (TVC), Eliézer Rodrigues (TRT), Nazareno Albuquerque (O Povo), Iracema Sales (Diário do Nordeste), Marilena Lima (documentarista) e Rafael Mesquita (Fetamce/Habitafor), a comissão corre contra o tempo, tendo em vista o exíguo prazo para a entrega do relatório final, que vence dia 31 de março. Os dados coletados pelo grupo serão enviados à Comissão Nacional da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas, instalada pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) no dia 18 de janeiro, em Porto Alegre.

Casos emblemáticos

Um dos casos emblemáticos de violência contra jornalistas no exercício da profissão no Ceará foi lembrado por Messias Pontes, presidente da Associação Anistia 64/68, durante a solenidade de instalação da comissão. “Em 1966, o jornalista Edmundo Maia foi espancado publicamente, na Praça do Ferreira, pelo então prefeito José Walter Cavalcante”, disse.

Ele citou ainda o caso do repórter Sabino Henrique, ex-presidente do Sindjorce, igualmente espancado durante a cobertura de uma passeata na Praça José de Alencar. A violência foi destaque na primeira página da Gazeta de Notícias, que mostrou o rosto do jornalista ensanguentado e os dentes quebrados.

Rádio Dragão do Mar fechada e jornalistas presos

Integrante da Comissão da Verdade dos Jornalistas do Ceará, o anistiado político Nazareno Albuquerque, também foi vítima de perseguição. Nazareno chefiava a redação da Rádio Dragão do Mar em 1964, ano em que a emissora foi fechada e seus jornalistas presos, entre eles o próprio Nazareno, Blanchard Girão e Peixoto de Alencar.

Outros jornalistas cearenses, como Augusto César Costa e Auto Filho, ex-secretário de Cultura do Estado, foram igualmente vítimas dos anos de chumbo. Auto foi preso pelos agentes da repressão, comandada no Estado pelo delegado da Polícia Federal, Laudelino Coelho, o mesmo que perseguiu Messias Pontes, quando o presidente da comissão ainda exercia a profissão de radialista.

Pesquisa e depoimentos

Por meio de pesquisa e depoimentos assinados pelas próprias vítimas ou seus familiares, a comissão identificará os integrantes da categoria perseguidos, censurados ou que tiveram os direitos humanos violados nos anos de chumbo. Também serão apuradas eventuais colaborações dos veículos de comunicação com a ditadura.

“Estamos resgatando a memória viva dos jornalistas do Ceará”, afirma a presidente em exercício do Sindjorce, Samira de Castro, enfatizando a importância de outras categorias fazerem o mesmo. Ela acrescenta que, após a conclusão do relatório, o sindicato tem a intenção de produzir um livro e um documentário para aprofundar o tema. “Conhecer a história é um direito da sociedade”, conclui.

Fonte: Sindjorce