Crise humanitária no Mali afeta a população em todo o país 

Instabilidade, combates e outras formas de violência no norte do Mali estão impedindo as pessoas que foram deslocadas de retornar às suas casas. Novos deslocados se somam aos milhares, pessoas que tiveram que partir ou pessoas que as abrigam, que lutam para conseguir água e comida, ou para satisfazer outras necessidades urgentes. 

Diálogo entre Brasil e África contribui para o combate à fome - www.wfp.org/photos

O fato de que as pessoas deslocadas hesitam ao pensar voltar para casa "é atribuído principalmente a um sentimento geral de insegurança, e também à impossibilidade de gerar rendimentos em tamanha instabilidade,” disse Jean-Nicolas Marti, chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para o Mali e o Níger.

Para as pessoas que tiveram de se deslocar e para as pessoas que as abrigam, as condições de vida estão se tornando mais difíceis a cada dia. “O pequeno número de retornados observado no começo de fevereiro na parte central do país ainda não foi seguido por mais,” disse Marti. “Os combates contínuos estão impedindo as pessoas [de voltar].”

Enquanto isso, a situação particularmente difícil no nordeste do país está causando a busca por refúgio de pessoas de Gao, Kidal e Tessalit longe das suas vilas natais.

Apoio aos afetados pelo conflito

Para suprir necessidades urgentes e básicas das pessoas que tiveram de partir, o CICV e a Cruz Vermelha do Mali distribuíram toneladas de arroz e outros produtos básicos para cerca de 6.000 pessoas em Tin Zaouatène, na região de Kidal, perto da fronteira com a Argélia.

Além disso, há falta de acesso à água e a estruturas ou produtos básicos de higiene, o que demonstra a profundidade de uma emergência humanitária. A CICV já anunciou estar trabalhando em poços e estruturas de filtração de água.

A organização anunciou também a distribuição de comida e outros produtos básicos, mas disse que as condições de segurança têm limitado o seu trabalho. Ainda assim, há planos de distribuições para residentes e deslocados nas regiões de Mopti, Timbuktu e Gao.

Os delegados da CICV também têm visitado pessoas que foram presas em ligação com o conflito, especialmente em Bamako, Mopti, Sévaré, Gao, Timbuktu e Kidal. A organização diz manter o diálogo com as partes, com o objetivo de permitir o acesso a todos os presos que sejam acusados em conexão com o conflito.

Além disso, também organiza sessões para esclarecer as forças armadas do Mali e dos contingentes estrangeiros sobre o direito internacional humanitário, devido às denúncias de execuções sumárias e violência contra civis.

No começo de fevereiro, quando a França anunciou a retirada gradual das tropas que enviara de forma unilateral e intervencionista em janeiro (sem o aval da ONU), soldados da Afisma (Missão de Apoio Internacional ao Mali liderada pela África) continuavam a chegar à nação do oeste africano.

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De acordo com uma fonte do Ministério da Defesa do Mali, mais de 5.000 soldados da África Ocidental eram esperados no Mali até o fim do mês. A França tem sido apoiada pelo Reino Unido e outros países da União Europeia, além dos EUA e do Canadá, em sua intervenção militar e política, legitimando um governo ainda não reconhecido eleitoralmente pelo povo do Mali, estabelecido através de um golpe, em 2012.

Como afirmado pelo jornalista e cientista político Peter Dorrie, os governos ocidentais preferem elites oligárquicas como parceiras em suas tentativas de “fortalecer” Estados e governos, sem qualquer consideração pelo efeito que a sua interferência, quer militar ou política, terá sobre a população.

Com All Africa
Da Redação do Vermelho