Andrea Oliveira: O individualismo faz mal à saúde

Por * Andrea Oliveira

A morte de Chorão, líder da banda brasileira Charlie Brown Jr, noticiada na última quarta (06/07) traz à tona um debate importante e necessário: o número crescente de mortes, em especial de jovens, vítimas da depressão. Não sei de números específicos, dados, mas tenho essa percepção e acho que devemos ter esse olhar especial para o problema.

O que leva um músico que faz sucesso e que já tem uma situação financeira estável ao surto capaz de lhe tirar a vida? O uso de drogas e calmantes foi a arma que encontrou para tentar sair da depressão. Não acho que ele teve a compreensão de que poderia de fato morrer, ou não estava interessado nisso. Chorão estava depressivo e, de uma forma que sabemos ser errada, foi ao extremo buscando uma fuga.

Estamos adoecendo mentalmente? Sim, estamos. Estamos enlouquecendo por excesso de individualismo. Chorão era um cara realizado, rompeu um casamento e viu seu mundo ruir. Olhou ao redor e não viu mais sentido na vida. Seu mundo terminava em seu próprio mundo. Esse é o individualismo burguês, mal do capitalismo, inerente a ele. Quando não entendemos que não nos bastamos o mundo fica minúsculo e as razões para nele viver ficam ainda menores.

O capitalismo nos dá sua receita de felicidade: seja o melhor, ganhe a competição e não importa o que o outro vai achar, aliás, explore o outro. O filósofo Hobbes (1588-1679) nos diz que "o homem e o lobo do homem". O problema é que quando esse sucesso chega, ou quando não chega, o indivíduo se vê realizado e nada mais faz sentido ou é um fracassado e nada mais faz sentido.

Não tenho ilusões quanto ao capitalismo, essa subordinação do coletivo pelo que é individual, como já dissemos, é inerente ao sistema e claro os marxistas entendem que a busca coletiva deve estar enlaçada com a busca individual. Aliás, esse é o ideal que não alcançaremos nesse mundo absurdo que faz o homem oprimir outro homem.

Mas façamos um chamado: é nosso dever alertar nossos irmãos e irmãs que se perdem diariamente nas garras de uma tristeza profunda que lhes tira o pulsar da vida. Voltem-se para o coletivo, o seu problema não precisa ser apenas seu e o problema do outro pode ser de todos nós. Entenda-se maior e não permita que sua vida termine em você mesmo. Existem diariamente novas batalhas a travar! Não basta que passar no vestibular, é importante que outros possam ter acesso a isso. Não basta ter plano de saúde, é importante que isso seja um serviço destinado a todos. Envolver-se de fato nessas lutas coletivas, ter esse olhar para o outro, é o melhor remédio para ser feliz. E tem mais, morrer porque perdeu um grande amor? Que nada, olhe para o coletivo. Nele você vai encontrar muita gente interessante e outro amor nascerá dele, tão grande ou até maior do que o anterior. Isso eu sei.

*Andrea Oliveira é secretária de juventude PCdoB de Fortaleza

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